segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Pelos caminhos de um Brasil quase invisível...

Ao longo da vida, me ensinaram que a "Serra da Mantiqueira" era uma importante cadeia montanhosa, com altitudes que variavam entre 800 e 2.800 metros, localizada no sudeste brasileiro e que se estendia entre três estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais - onde fica sua extensão maior (60%).

Conhecê-la na teoria foi uma coisa, conhecê-la na prática - correndo o trecho de 281 km que separa São João da Boa Vista e Campos do Jordão - serão outros quinhentos.

Aventura maluca, desafiadora e singelamente renovadora!!!
Arte: H 2 Comunicação Visual
Nos primeiros meses de 2010, quando conheci alguns veteranos da BR 135 - Manoel Mendes, Wilson Bomfim, Samuel Toledo e Eduardo Rodrigues - achei a proposta de correr o antigo circuito de 217 km, um tanto quanto insana, mas, com o passar dos anos e com as experiências adquiridas, meu pré-julgamento foi declinando diante da atmosfera de camaradagem, companheirismo e pela rede de solidariedade que reina entre os ultramaratonistas.

Aos poucos, amadureci a possibilidade de retornar à Serra da Mantiqueira, à cada mês de janeiro, algo bem próximo do que fazem os peregrinos da fé, quando se despojam de determinados valores, para percorrer as trilhas, estradas de terra e asfalto, em direção ao santuário de Aparecida.

Considero muito especial os diálogos que mantive com alguns "corredores peregrinos" ou "peregrinos corredores".


É contagiante, perceber que entre os atletas que já percorreram o "Caminho da Fé", na condição de peregrinos, há quase o consenso que o sucesso da empreitada, não está exclusivamente associado somente ao seu nível de planejamento.

Quase sempre, o sucesso da missão, também reside na sua capacidade de compartilhar ou se despojar daquilo não essencial, pois quando você estiver enfrentando a cadeia de montanhas, sob chuva, vento forte, calor, frio ou qualquer outra adversidade da natureza, sua bagagem ou mochila de viagem, se tornará cada vez mais pesada.

Naquele momento da peregrinação, surge a possibilidade de compartilhar o essencial e doar o supérfluo. Situação que, a meu perceber, também se repete ao longo da extenuante corrida.

Assim, não é raro relatos de amizades que surgem ou são construídas no decorrer da corrida, pois a rede de solidariedade que se forma, faz com que você sinta-se parte da família de sobrenome "ultras".

Em algumas ocasiões, correndo no meu ritmo "mixuruca", presenciei acampamentos que se formam ao longo do percurso, geralmente em torno das pousadas simples do caminho da fé, onde os atletas, equipes e carros de apoio, seja de dia, de noite ou madrugada, fazem as paradas estratégicas para alimentação, suplementação e rápido descanso.

De forma sublime, o desejo de superação forja-se com intensidade, na alma dos guerreiros(as).

Alguém pode discordar e indagar que pintei o quadro por demais rebuscado, mas, sinceramente, participar da BR 135 (+), primeiro na condição de equipe de apoio, depois, correndo em dupla e desta feita em quarteto; foi e será uma aventura, diga-se, maluca, desafiadora e singelamente renovadora.

Além de todos estes predicativos, não podemos esquecer dos Projetos Sociais desenvolvidos no seio de um Brasil quase invisível, que são idealizados, organizados ou patrocinados pelo Comandante Mário Lacerda - mentor intelectual e incansável organizador da BR 135 e da BR 135 + 175 Miles.

A importância do planejamento logístico!!!

O planejamento logístico do quarteto Eduardo, Sebastião, Silvestre e Vilmar, começou logo após a divulgação da lista dos aceitos: 101 atletas na categoria solo; 16 corredores na categoria dupla; e 56 pangarés, distribuídos nos 14 quartetos.

Sem sombra de dúvidas, a primeira e talvez mais importante ação referia-se em assegurar a estadia nos locais de partida e de chegada da prova, pois em virtude da quantidade de pessoas que o evento reunirá: "atletas, equipes de apoio, comissão organizadora e colaboradores voluntários", a hospedagem pode se tornar o calcanhar de Aquiles dos participantes.

A segunda conduta logística, vinculava-se às características recomendadas para o carro de apoio. Neste aspecto, não pretendendo esgotar ou suscitar discussões acaloradas, a palavra "precaução" soa mais alto e a melhor alternativa que se apresenta são os veículos com tração 4 x 4, pois, em sentido contrário, uma simples chuva poderá se transformar em três letrinhas indesejáveis - DNF - embora, alguns guerreiros comentem que: "tudo dependerá exclusivamente do estado de espírito da mãe natureza".
Na sequência, outro aspecto importante é a identificação do veículo, com adesivos, logos e imagens, tendo em vista que, à medida que o veículo de apoio avança no terreno, vai sendo reconhecido pelos demais participantes do evento; daí, percebem que determinada equipe ou atleta estão sendo assistidos por aquele carro específico. Neste quesito, a criatividade sempre será a alma do negócio.

Com boa dose de humor e inspirado no trocadilho "vaidosos", que se traduz: "pessoas preocupadas com a qualidade de vida e que buscam manter o espírito jovem", idealizei, em parceria com a empresa H 2 - Comunicação Visual, adesivos em alusão a idade dos integrantes da equipe Bsb Parque.


Ledo engano, embora o número 218 somatize as primaveras dos guerreiros: Eduardo (61); Sebastião (54); Silvestre (50) e Vilmar (53), quase vi a ousada estratégia de marketing se tornar o ponto de discórdia em nossa equipe. Ainda bem que sou eloquente, do contrário, seria crise no grupo.

Nosso quarto obstáculo logístico diz respeito aos alimentos que serão consumidos no decorrer da prova. Na cidade de São João da Boa Vista, o carro de apoio será abastecido com: "gelo, água, isotônico, refrigerante, frutas, macarrão instantâneo, rapadura, biscoito, banana, laranja, maça, melão, pão, peito de peru, queijo", enfim, uma verdadeira "orgia gastronômica".


Até a semana passada, nosso plano estratégico ocorria a mil maravilhas, quando no dia 30.12.2014, o guerreiro Vilmar nos informou que havia lesionado o joelho, de forma que não nos acompanhará na BR 135 + .

A notícia caiu como um balde de água gelada, uma vez que faltavam apenas 2 semanas para a prova, que será disputada entre os dias 14 e 17 de janeiro de 2015.

Em primeiro instante, fiquei imaginando o tamanho da frustração do amigo Vilmar, que treinava com muita disciplina e dedicação. Vida longa parceiro!!! ano que vem tem mais!!!

Enfim... o quinto elemento!!!

Não haviam outras alternativas, senão, convidar outro atleta para integrar a equipe Bsb Parque, bem assim, desejar o pronto restabelecimento ao amigo Vilmar Rocha, que sem sombra de dúvidas, permanecerá em Brasília, lamentando o infortúnio, todavia, torcendo intensamente pelos amigos do grupo de corrida.

Uma semana de sofrimento para nosso Capitão Eduardo Rodrigues, que incansavelmente, convidou amigos para recompor o quarteto. Não era uma tarefa simples, uma vez que duas situações se sobressaíam: 1) que almejamos correr 281 km, em revezamento; 2) que além da condição física e mental para enfrentar o desafio, o novo integrante não poderia ter compromissos no período da viagem.


Foi quando num passe de mágica, surgiu Luís Ricardo do Carmo, 46 anos, ultramaratonista de São Paulo, nosso quinto elemento.

Se o nível de ansiedade do grupo aumentava a cada dia, imagine naqueles dias dentro do olho do furacão, enquanto a substituição do atleta era uma incógnita.

De toda a sorte, a numerologia do quarteto ficou modificada para 211 - Eduardo (61); Luis (46); Sebastião (54); Silvestre (50).

Ultra abraço e nos vemos no caminho!!!

Dionísio Silvestre

2 comentários:

  1. Silvestre,

    Maravilhosa resenha, a Br e uma corrida impar com uma energia sem igual e a turma dos Ultras realmente é uma grande família.

    Aquele abraço,
    Samuel Toledo

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    1. Samuel,

      À medida que nos aproximamos do dia da nossa aventura, meu nível de ansiedade aumenta, assim, para combatê-lo, resolvi construir a resenha que refletisse o ambiente de camaradagem da BR 135.

      Forte abraço,

      Silvestre

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Aos leitores do blog "Correr é Pura Paixão" deixo meu profundo agradecimento. Aguardo seu comentário, uma vez que a participação de vocês é de grande importância para o aprimoramento dos relatos.

Ultra abraço,

Dionisio Silvestre