segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Só sei que não foi fácil - BR 135/2022.

Participar da mágica e emblemática BR 135, na Serra da Mantiqueira, correndo 217 Km em estradas de chão, trilhas, pastos, asfalto, paralelepípedos e as tradicionais pedras do Caminho da Fé, jamais será uma tarefa fácil, seja em quarteto, dupla e especialmente para os que se aventuram na categoria solo, verdadeiros monstros alienígenas!! 👽👽

Em mais uma oportunidade, nossa singela Equipe Bsb Parque participou nas categorias solo: Jorge Coentro e Vanderval Rosa; na categoria dupla - 🏃🏃Eduardo e Eurico e na categoria quarteto 🏃🏃🏃🏃- Samuel, Silvestre, Tião e Izaias.
Samuel, Izaias, Tião, Silvestre

Eu só não contava levar 🐄🐄🐄🐄carreira de boi no pasto; pegar chuva torrencial em Andradas; ficar angustiado e sem saber o que fazer no perdido do Izaias e depois me arrastar, caminhando com dores no quadriceps em todas as descidas após a cidade de Estiva, no estilo Jabuti com caimbras!!

A formação inicial do Quarteto Bsb Parque era: Samuel, Silvestre, Tião e Júlio, entretanto, em decorrência de lesão, não foi possível ao amigo Júlio César, estar presente no evento, sendo substituído a altura pelo incansável Izaias Porfírio.
Uma árvore no Caminho

A meu perceber, a edição 2022 da BR 135, foi um tanto quanto diferente das demais edições, por um lado adorei largar nas primeiras horas da manhã, aprovei o sistema de largada escalonado e o revezamento do quarteto desde a largada, todavia, em decorrência do Plano de Contigência, senti a falta daquela atmosfera e energia contagiante que envolve o Staff da BR 135, colaboradores e os competidores, antes, durante e depois da prova, com exceção aos dois pontos de controle em Borda da Mata, onde pude rever o amigo de longa jornada Ari Braga, vida longa guerreiro!!

São João da Boa Vista x Águas da Prata

Pontualmente às 05:30 h do dia 13 de janeiro de 2022, quinta-feira, no Cruzeiro da Serra, São João da Boa Vista - SP, Tião começou a jornada do Quarteto Bsb Parque na BR 135, o planejamento inicial: revezar a cada 2 Km e na Serra do Deus me Livre, revezar a cada 1 Km.

Até ali, 8 Km de prova, teoria e prática coerente!! Show!!
Monumento Cruzeiro da Serra, São João da Boa Vista - SP

Na sequência, no trecho de quase 6 Km, subida para as antenas, o carro apoio não consegue acompanhar o corredor, assim, em mais uma oportunidade, Tião foi o eleito para a missão!!

Só o Ouro!!
Serra do Deus me Livre

Avançamos com o carro apoio - Samuel, Silvestre e Izaias - uma vez que alternamos a função de motorista, ou seja, hora você estará correndo e hora estará de piloto do carro, isso mesmo, piloto do carro, porque o que mais enfrentamos foi lama, chuvas localizadas e pontos críticos no caminho.

Não estava fácil para ninguém!!
Samuel Toledo

Os dois trechos seguintes eram possíveis de apoio e foram percorridos pelo Samuel Toledo e Izaias Porfírio, sem problemas e dentro do planejado.
Quelônio do Cerrado

Coube ao Quelônio do Cerrado, no caso, eu - correr o último trecho para chegarmos na cidade de Águas da Prata, cerca da 9,6 Km, essencialmente em descida, entre pastos de fazendas, trilhas e estradas rurais.

Só não contava levar carreira do boi bandido no último pasto!! - Foi um tiro daqueles, imagina!!

Águas da Prata x Andradas

O Quarteto e a Dupla da Bsb Parque corriam bem próximos, com pequena vantagem para o quarteto, o nível de treinamento de Eduardo e Eurico estavam em outro patamar, mais um incentivo para o time do Capitão Samuel não aliviar na passada, né?

O negócio é organizado patrão!! - A planilha não me deixa mentir!!
Tião e Izaias

A cada transição, aquele SALVE tradicional para motivar o grupo e o fluxo seguia inabalável, com uma dupla mista a nossa frente, diga-se, uma dupla de respeito, pois seguiam firmes e com passada forte!!

Chegamos a Andradas sem maiores problemas, nuvens densas no caminho, avizinhando-se aquela chuva abençoada!!

Andradas x Serra dos Lima

A chuva chegou rapidamente, estávamos na saída de Andradas, alcancei e vesti a capa de chuva, comecei "o trotinho no estilo deixa que eu chuto", a chuva tornou-se torrencial e gelada, a passada demorou a engrenar, passei por trecho de asfalto e terra, o tênis literalmente ficou ensopado, Tião pegou o finalzinho da chuva e o estreante Izaias não pegou sequer uma gota de chuva, seu tênis branquinho estava impecável.

Pode isso produção?

A bagaceira só aumentava, os malucos não paravam, o ritmo seguia harmônico, eis que chegamos a temida subida Serra dos Lima, quando o Capitão do Mato bradou:

- BóOra revezar a cada 300 metros!!

Aí lascou, a conta começou a ficar pesada para pagar no débito!!

Etapa vencida, seguimos sem maiores problemas e um pouco a frente, antes da Pousada da Dona Natalina, chega ao meu lado um Pálio Cinza, com casal de moradores da região e me pergunta: 

- Vai uma Brahma?

- Mais adiante!! (respondi)

Quando chego na transição quem estava lá? ao lado do carro apoio? - O casal do Pálio Cinza!!

Mandei o salve: - Cadê minha Brahma?

Só sei que a danada da latinha estava estupidamente gelada!!

Até ali imaginava que era uma brincadeira, aceitei e guardei na caixa térmica!!

Ademais, que tal ouvir o canto das Seriemas?

Vídeo feito pelo nobre amigo Tião, logo após a subida de Serra dos Lima.

Serra dos Lima x Barra

Hora de saborear aquele macarrão feito com o capricho de sempre pela Dona Natalina!!

Bom demais!!

Vamos em frente porque a temida descida de Barra se aproximava, carro apoio e corredor em alerta máximo!! Ainda bem que o piso estava seco, haviam colocado britas e o Caminho estava bom!!

Escalamos nossa melhor formação para enfrentar a Subida do Sabão: Samuel Toledo de piloto do carro de apoio e Tião correndo. Confesso que nem respirava para não atrapalhar o piloto, sério!!

O negócio é tenso, primeira parte muito escorregadia e a segunda mais seca, todavia, inclinação perversa!!

- Só o Ouro patrão!! Segue o fluxo!!

Barra x Crisólia

Próxima a Crisólia, a chuva chegou novamente, um pouco mais fraca e com menor duração, coloquei a capa de chuva e retirei antes de terminar o trecho de 2 Km, naquele trecho asfaltado.
Tião

Assim que retornei ao carro apoio a resenha era: e o Izaias?

- Não pega chuva porque? - Tem base um trem desse não, só eu e Tião pegando chuva!!

Brincadeiras a parte, naquela altura da prova, Tião e Izaias eram nossas referências, haviam treinado bem, estavam firme e fortes na passada, enfrentavam as subidas com muita energia e por via de resultado, contribuíam sobremaneira com o ritmo do quarteto.

Chegando na cidade de Crisólia, avistamos vários peregrinos percorrendo o Caminho da Fé e um fato me chamou a atenção: além das capas de chuva, eles amarraram sacos plásticos, de supermercados, para proteger o calçado da chuva e da lama.

Crisólia x Ouro Fino

No trajeto para Ouro fino Izaias pediu:

- Quero uma foto no Monumento Menino da Porteira!!
Izaias e o Menino da Porteira
Outro trecho que não tivemos obstáculos e a passada seguia firme e embalada, a ponto do Capitão Samuel Sanduba preparar um baita lanche com pão integral, patê de atum, queijo e salaminho. 

Imaginou?

Confere aí produção!!
Samuel Sanduba

Ouro Fino x Inconfidentes

A cada nova oportunidade que percorro o Caminho da Fé, seja na jornada de peregrinação ou correndo a BR 135, vejo a dedicação das pessoas para torná-lo cada vez mais cativante e acolhedor, construíram a Capela São Judas Tadeu, na entrada da cidade de Inconfidentes - MG.

Capela São Judas Tadeu, Inconfidentes - MG

Inconfidentes x Borda da Mata

Aos poucos, a medida que a temperatura diminuía, o dia cedia espaço para a noite, era o momento de separar coletes refletivos e lanternas de mão e cabeça. A atenção no percurso e nos cachorros redobrava, os outros animais adotavam postura de descanso, tudo parecia adormecer, dava para escutar o silêncio, as passadas dos corredores era ouvida a longa distância.

Separei uma camisa de manga para o período da noite, foquei na recuperação pós esforço, com breves cochilos no interior do carro, descer do veículo somente nos momentos de transição e corrida, ou seja, hora de economizar energia para não faltar no final.

Pretendíamos chegar na tenda montada pela Prefeitura de Borda da Mata antes do anoitecer, para receber as instruções da rota alternativa que os corredores enfrentariam para não passar pelo centro da cidade, conforme o Plano de Contigência adotado.

O fato é que quando chegamos a Borda da Mata já era noite e o desvio seria enfrentado pelo estreante Izaias, seguindo a marcação das fitas azuis, seriam 6 Km até retornar novamente ao trajeto tradicional do Caminho da Fé, logo após o Cemitério da cidade.

Tenso, né?

Borda da Mata x Tocos do Moji

Enquanto Izaias corria, Samuel, Tião e Silvestre faziam contas de quanto tempo seria necessário para concluir o trecho, uma vez que era um percurso desconhecido de todos e com ingrata altimetria.

A rigor, pensamos que 48 minutos seriam suficientes para o guerreiro cumprir a missão.

Chegamos na segunda tenda de controle, instalada após o cemitério e encontramos o amigo Ari Braga, de Taubaté, gente da melhor qualidade, sempre prestativo e esclarecedor dos detalhes de trajeto, suporte e dicas.

Bom demais a prosa!!

O tempo foi passando, o semblante de todos foi modificando, Izaias não chegava, inúmeros pensamentos habitavam a cabeça da equipe e do staff da BR 135, nenhum quarteto, duplo ou atleta solo chegavam na tenda para tentarmos esclarecer o ocorrido com o amigo, momento de extrema preocupação.

No olho do furacão Samuel decidiu avançar com o carro apoio, até a Porteira do Céu, cerca de 7 Km para tentar encontrar o corredor perdido, considerando eventual erro de percurso e retorno ao Caminho da Fé mais a frente do local em que estávamos; diametralmente oposto, Tião sugeriu aguardar, entendendo que se ele havia errado o percurso, uma hora teria que retornar e corrigir o erro.

Confesso que não sabia qual postura adotar!!

O tempo é o Senhor da razão, dito e feito, Tião acertou em cheio, Izaias errou a rota e só percebeu o equivoco bem adiante, cerca de 4,5 Km a frente, ou seja, correu 9 Km de grátis!!

Ohhhhh lasquera!!

Confere o mapa do perdido do Izaias!!
O perdido do Izaias
Quando ele nos encontrou, estava desgastado com tamanho esforço, enfrentou 15 Km no escuro, com subidas e descidas insanas, sem ao menos a hidratação necessária.

Cabuloso!!

Para descontrair o amigo e tirar o peso de seus ombros, sugerimos aquela tradicional foto na Porteira do Céu, subliminar por essência, né?

- Perco o amigo, mas a piada não!!
Izaias na Porteira do Céu

Tocos do Moji x Estiva

Aqui começou meu dilema, já não conseguia correr nas descidas, a musculatura do quadríceps estava literalmente destruída e nas subidas mais íngremes o trote era inviável, a musculatura anterior não respondia adequadamente, só me restava aquele trotinho pé de pano no plano, repito: no plano!!

Os demais integrantes ainda estavam soberanos na corrida e assim, compensavam minha letargia.

Estiva x Consolação

Passamos por Estiva e a cidade ainda adormecia, o sol começava a nascer, o próximo desafio seria a Serra do Caçador e aqueles bloquetes de cimento, instalados naquelas curvas malucas.

Em mais uma oportunidade Samuel Sanduba Toledo determinou: 

- Vamos revezar a cada 500 metros!!

Não teve como, paguei o boleto no crédito, caminhei sem medo de ser feliz, né?

VSL!!

Impressionante era a desenvoltura da passada do Tião e do Izaias, parecia que haviam começado a prova naquele instante!!

- Show!!

Consolação x Paraisópolis

No derradeiro trecho, mente e corpo já não se entendiam, a mente queria ir mais rápida, o corpo queria ir mais lento e ambos tinham a mesma justificativa: falta pouco, você consegue ir mais rápido (mente); falta pouco, melhor ir mais devagar (corpo).

Posso estar equivocado, mas até os incansáveis Tião e Izaias já não rendiam na mesma intensidade de antes, o cansaço era nítido, 24 horas de privação de sono se somavam, as subidas insanas na chegada a Paraisópolis, mais conhecida como Mata Cavalo - davam as boas vindas ao Município.

Naquele instante, minha preocupação seriam as escadas, isso mesmo, as escadas após a prova!!

Isso já te ocorreu?

No resumo da ópera:

Nosso Quarteto concluiu a BR 135 em 25 h e 43 minutos - 3º lugar na categoria.

Os guerreiros Eduardo e Eurico - 29 h 17 minutos - 3º lugar na categoria dupla. 

O monstro alienígena do Vanderval Rosa concluiu os 217 Km em 48 h e 18 minutos.

O monstro alienígena do Jorge Coentro, infelizmente abandonou a prova - DNF.

Forte abraço e nos vemos no caminho!!

Seção eu estava lá!!
Izaias, Silvestre, Jorge, Samuel, Eduardo
Tião, Ari, Ana, Eurico


7 comentários:

  1. Excelente relato, Silvestre! Deu muita vontade de estar lá. Infelizmente minha queda 1 semana antes me de cancelar! Só 1 coisa aí que não dá pra acreditar. Esse negócio de aceitar a Brahma gelada e "GUARDEI NA CAIXA TÉRMICA", é fato ou fake? Aquele abraço!

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  2. Ficou sensacional o relato!
    Foi uma corrida difícil principalmente pela falta de treino em razão da inflamação do nervo ciático, mas vencemos as dificuldades e completamos mais uma prova com muita determinação e espírito de equipe.
    A largada cedo e o revezamento desde o início, sem a obrigação do quarteto correr junto os 30km iniciais sem revezar, fez toda a diferença!
    Espero que para os próximos anos a organização mantenha o revezamento desde o início.
    Todos que participam da Br correndo ou no apoio são vencedores, a corrida e o caminho tem uma energia especial.
    Foi maravilhoso rever os amigos!
    Obrigado e Aquele abraço

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  3. Excelente relato! Parabéns equipe bruta!!! Prova durissima ..

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  4. Excelente relato.

    Melhor do que esse relato só mesmo a viagem que transcorreu "de maravilha" do começo ao fim, e a prova que todos os corredores fizeram, na qual todos deram tudo de si.
    👏👏👏👏
    Parabéns a todos!

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  5. Agradecimento do estreante.

    Se você quer ser bem sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si. (Ayrton Senna). Assim eu avalio as nossas participações nesse evento. Agradeço a Deus pela vida e pelas oportunidades e esta descrição brilhantíssima do evento envaidece o meu ser . Obrigado aos mestres, Silvestre, Samuel e Tião.

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  6. Parabéns ao quarteto pelo resultado e pela presença, fico agradecido com as referências a minha pessoa afirmando que foi muito positivo rever todos vocês... sempre me empenho ao máximo para todos concluíram seus objetivos.... um super abraço em todos vocês.... e obrigado pelos elogios.... Ari

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  7. Meu caro mestre Silvestre,

    Excelente relato dessa aventura na Serra da Mantiqueira, na companhia de tão ilustres amigos.
    Seu relato faz parecer que estávamos juntos no quarteto que sempre corre com alegria e simplicidade, mas com efetividade. Faz o leitor se sentir na corrida, vivenciando os momentos bons e as dificuldades, que são muitas ao longo do caminho.
    Parabéns a você pela bela resenha, parabéns ao quarteto pelo excelente resultado, principalmente diante das dificuldades que tanto você como o Samuel enfrentaram na preparação para esse desafio.
    Grande abraço, guerreiros.

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Aos leitores do blog "Correr é Pura Paixão" deixo meu profundo agradecimento. Aguardo seu comentário, uma vez que a participação de vocês é de grande importância para o aprimoramento dos relatos.

Ultra abraço,

Dionisio Silvestre