quinta-feira, 3 de julho de 2014

Correndo e desafiando os limites da Ilha.

Certa oportunidade, o amigo Josué Netto escreveu que determinadas corridas, independente da distância a ser superada, podem ser entendidas como história sem fim, tal a importância em nossas vidas e que após a aventura ou superação do desafio, fica a sensação que aquele episódio ainda não acabou, que foi dada apenas uma pequena pausa para respirar e que a história continuará.

Hoje, embora um pouco tardio, trago um texto assinado por Samuel Toledo, referente a participação da dupla Samuel e Fernandes, durante a 19ª edição da tradicional Volta à Ilha, em abril de 2014, na belíssima cidade de Florianópolis, Santa Catarina.

************************************
*************************
***********


Amigos,

Se algum dia, no decorrer de uma conversa com pessoas que pratiquem corrida, você mencionar: "Florianópolis", vai ouvir imediatamente a expressão "Volta à Ilha".

Veja a maneira com que os organizadores fazem a introdução no Regulamento Geral:
Na Volta à Ilha, o esforço físico corre lado a lado com a diversão. Esta é uma prova na qual um segundo por quilômetro faz toda a diferença no resultado final. Os trechos apresentam graus de dificuldade variada e a concentração, o preparo e a solidariedade são as chaves para correr na frente. Cada nova curva traz uma paisagem inesquecível e um novo desafio para cada atleta.
Penso que minha relação de simbiose e paixão pela prova, começou em 2007, quando participei em dupla, no antigo percurso de 150 Kms.

Repetidamente, já retornei outras 7 vezes à Florianópolis, ou seja, ano após ano, tenho participado da aventura de contorná-la, sendo 4 vezes em duplas - 2007, 2012 a 2014 - e outras 4 vezes em quarteto - 2008 a 2011.

Alguém mais atento ao regulamento poderá discordar e comentar que não existe a modalidade quarteto. De certo modo ele terá razão!!! - Por quatro ocasiões, efetuamos a inscrição de uma equipe de 8 participantes, entretanto, somente 4 atletas correram a prova de maneira efetiva.

Naquelas quatro oportunidades, nosso quarteto não admitia viajar de Brasília até Florianópolis, cerca de 1.677 Kms, para correr tão somente um pequeno trecho, queríamos desfrutar aquele desafio e o cenário paradisíaco das praias, morros e trilhas, de forma intensa, quanto maior fosse a distância, melhor seria.

Entre uma e outra corrida, recordo-me que até 2011, a distância do desafio era de 150 Kms e somente a partir de 2012, ficou com o formato atual, reduzindo-se 10 km, porém, crescendo em nível de dificuldade, tendo em conta os morros e praias que foram acrescentados.

Volta à Ilha - Florianópolis
Como o próprio nome menciona, é uma corrida onde percorremos todo o contorno de Florianópolis, totalizando 140 kms, em 18 trechos previamente estabelecidos, sendo o menor de 4,7 km e o maior de 15,2 km.

Durante o revezamento você corre sobre "asfalto, terra, praia com areia fofa, duna, trilha e calçamento".

Sem receios de ser feliz, você irá se deparar com diferentes relevos: "subidas, montanhas, planos e descidas".

Em resumo: - É uma competição que desafia e testa os limites do corredor.


São 8 as categorias de equipes no Revezamento Volta à Ilha - aberta; aberta mista; feminina; veterana 40; veterana mista; veterana 50; dupla e participação.

Nos dois últimos anos - 2013 e 2014 - revezei com o amigo Ornaldo Fernandes, um corredor muito forte e extremamente veloz.

Com grata satisfação, em 2013, conseguimos concluir a prova em 12 horas, 48 minutos e 47 segundos, obtendo a sétima colocação, sob o ritmo de 5:30 min/km.

Para o ano de 2014, tínhamos a meta de melhorar nossa marca anterior, mas já sabíamos que não seria tarefa fácil atingir aquele objetivo.

O dia da aventura - 12 de abril de 2014.

19º Revezamento
Volta à Ilha - 2014
A partir das 5 horas da matina e com intervalos de 15 minutos, as equipes iniciaram o revezamento, em regra, as mais lentas largam logo cedo e as mais rápidas largam um pouco mais tarde. Neste ano, a Volta à Ilha contou com aproximadamente 400 equipes, entre as quais, 22 duplas.

Na escuridão da madrugada - resolvemos que a estratégia de nossa dupla seria a mesma do ano anterior, que nos permitiu revezar trecho a trecho. No planejamento inicial, eu correria os trechos impares e o Fernandes os pares. Na matemática, seriam 73,5 kms para mim e o restante: 66,5 kms para o Fernandes.

No ano anterior, nosso desempenho foi semelhante, pace de 5:30 min/km, em razão do contratempo ocorrido com o Fernandes, quando sentiu a musculatura da panturrilha nos cinco últimos trechos.
  
Samuel no local da largada
Chegamos ao local da largada às 4:30, encontramos diversos amigos e tiramos algumas fotos, pois durante a prova seria muito complicado para o Marlon - motorista do carro de apoio - dar o suporte para todas as necessidades da dupla.

Literalmente, tudo seria muito corrido.

O nível de "stress" é alto, pois quando você termina um trecho, imediatamente tem que se hidratar, alimentar, trocar a camisa e por vezes, substituir o tênis, para então, seguir para o próximo ponto de transição.

Fernandes, Marlon e Samuel
Nossa dica é contratar motorista e/ou equipe de apoio que conheça muito bem o percurso, do contrário, com certeza a equipe terá problemas.

Seção 1: Avenida Beira Mar x Bairro João Paulo - 7,1 km.

Às 05:00 horas em ponto, foi dada a largada, o primeiro trecho com 7,1 km, é considerado fácil, eu havia planejado repetir o ritmo do ano passado, algo em torno 5:12 min/km, entretanto, as demais duplas estavam voando baixo, acabando por contaminar o meu ritmo inicial. Acabei rodando sob o pace de 4:58 min/km e ainda assim, estávamos na 19ª colocação.

Logo que terminei a seção, percebi que o ritmo estava muito forte. Fiquei intrigado se as demais duplas estavam muito bem ou se elas estariam acima de suas capacidades e no decorrer da prova, muitas iriam quebrar!!!

Não sabendo a resposta, resolvi ser bastante conservador nos próximos trechos, justamente para não prejudicar o final de nossa prova.

Seção 2: Bairro João Paulo x Rodovia SC 401 “Office Park” - 4,8 km.

Apesar daquela 19ª colocação no primeiro ponto de troca - categoria duplas - a diferença entre a 6ª dupla e a nossa era de 4 minutos e 16 segundos. Sabendo que o trecho tinha somente 4,8 kms, era óbvio que o pequeno Fernandes iria diminuir aquela diferença.

Na avaliação da comissão organizadora, tratava-se de uma seção fácil, com percurso em calçamento e asfalto.

Sem hesitar, Fernandes percorreu o trecho em 21’41” - pace de 4:31 min/km, representando a quinta melhor marca entre as duplas, que nos colocou no 14º lugar.

Seção 3: Rodovia SC 401 “Office Park” x Santo Antônio - 8,3 km.

Meu próximo trecho era de 8,3 km e avaliado como difícil, é um percurso no asfalto com muitas subidas. Quando comecei a correr, mentalizei um ritmo confortável, pois ainda teria mais outros sete trechos pela frente.

Com aqueles pensamentos, percorri aproximadamente 4 kms, quando então, encontrei o corredor da dupla da Equipe Zona Alvo, nº 518, da cidade de Aracaju, Sergipe e juntos, compartilhamos todo aquele restante de trecho.

Acredito que em razão da boa companhia, não percebi que estava correndo melhor do que eu esperava, ou seja, pouco abaixo de 5 minutos por km, concluí o trecho em 40’57”, pace de 4:56 min/km.

Seção 4: Santo Antônio x Praia de Sambaqui x Praia da Daniela - 8 km.

Seção 4 - Travessia de BarcoFoto: Jessé Giotti - Agência RBS
O quarto trecho, de 8 km, tem como peculiaridade a travessia de barco ou banana boat, ou seja, após o percurso de 5 km de calçamento e estrada de terra, o atleta chega à Praia de Sambaqui, sobe na embarcação, que o leva até à Praia da Daniela, na outra margem.

Ao desembarcar, terá mais 3 kms pela areia da praia, até o próximo ponto de troca. É importante ressaltar que o tempo gasto na travessia é anotado pela organização e depois, descontado do tempo total das equipes.

Um tanto quanto encantado com aquela mistura de passeio e corrida,  Fernandes concluiu o trecho em 34’08”, pace de 4:16 min/km.

Seção 5: Praia da Daniela x  Forte x Jurerê - 5,1 km.

O quinto trecho, com 5,1 km, considerado moderado, possui o percurso em trilha (mata fechada) e praia, sobressaindo-se a subida do forte, extremamente difícil. Logo a seguir, quando a praia começa, a corrida se torna mais tranquila na areia firme.

Antes de iniciar a Seção 5 - encontrei meu amigo Fábio Machado, que também iria correr o trecho e com ar de desafio (no bom sentido) disse que me alcançaria.

Aquela frase ficou martelando minha mente. Fiquei pensando, pensando, pensando, quando é que ele me alcançaria de fato.

No final, consegui vencer o fantasma que habitava minha cabeça, fechei o trajeto sob o pace de 5:16 min/km, com 26 minutos e 52 segundos (ufa!!!).

Seção 6: Jurerê Tradicional x Cachoeira do Bom Jesus - 5,3 km.

O sexto trecho, possui 5,3 km, com a avaliação moderado, percurso de praia, asfalto e praia. No trajeto em asfalto, existe uma subida acentuada, porém, nada que impedisse ao Fernandes concluir o trecho em 23’46” com pace de 4:29 min/km.

Naquela altura da prova, a maior dificuldade dizia respeito ao carro de apoio, que passou a ter dificuldade em chegar a tempo aos pontos de transição, uma vez que foi necessário percorrer uma volta enorme, sem contar que as vias de acesso, começavam a ficar congestionadas com os veículos das equipes.

Seção 7: Cachoeira do Bom Jesus x Praia Brava - 10,4 km.

As primeiras vítimas da prova começam a aparecer a partir do sétimo trajeto, que é considerado pela organização como "o segundo mais difícil da corrida".
Altimetria Seção 7
A rigor, são 10,3 kms, passando por praia, asfalto e trilha. Até a entrada da trilha, que começa no km 6, a tarefa é de certa forma fácil, assim, consegui manter o ritmo de 5 minutos para cada km.

No sentido oposto, quando cheguei na parte da trilha, a coisa mudou de figura. É inacreditável, mas existem pontos em que você é obrigado a subir apoiado na vegetação. 

Ao puxar pela memória, lembrei-me que entre o sétimo e oitavo km, minha frequência cardíaca foi às alturas, com pico de 184 bpm, embora eu tenha levado 14 minutos e 35 segundos para concluí-lo.

Ao final do trecho, estava sedento e exausto. Naquele momento, os dados da cronometragem indicavam que éramos a 11ª dupla. O tempo gasto: 01h19'51" - o ritmo 06:43 min/km.

Seção 8: Praia Brava x Praia dos Ingleses - 5,8 km.

Extenuado, demorei para encontrar nosso veiculo, o motorista Marlon, havia estacionado longe do ponto de transição.

Ainda bem que o amigo Fernandes é um excelente mestre cuca. No sábado, quando estávamos passeando pelo comercio local, ele comprou um pequeno fogão, de uma boca, e à noite, preparou uma deliciosa sopa, ainda no hotel.

Daí, para a prova, compramos pacotinhos de caldos que só precisariam de água quente.

Considerando que meu trecho foi longo, ele teve tempo de preparar o "tal" caldo, e assim que cheguei ao carro, encontrei a "iguaria" ainda quente, tomei e me senti revigorado.

Em nova oportunidade, nosso desafio seria o deslocamento de carro daquela seção para a próxima, uma vez que o corredor teria que correr um trecho de 5,8 km por praias e trilhas.

Com o trânsito cada vez mais complicado, era quase impossível para o veículo de apoio chegar ao ponto de transição a tempo e à hora, pois as equipes mais rápidas estão passando e o congestionamento é inevitável.

Em face daqueles fatores, acreditei que não estaríamos no ponto quando o Fernandes chegasse. A princípio, contava que ele ficaria esperando por alguns minutos para não prejudicar nosso planejamento, todavia, assim que chegamos ao ponto de troca, fui logo avisado pelo amigo Fábio Machado que o Fernandes já havia passado.

Este trecho é considerado difícil, com praia e trilhas em morro, ele correu o trecho em 33’38”com pace de 5:48 min/km.

Seção 9: Praia dos Ingleses x Praia do Santinho - 4,7 km.

Sem outra alternativa, retornei o mais rápido possível para o carro e saímos para o próximo ponto, no caminho, fui conferindo nossa programação e fiquei extremamente preocupado, não encontrava solução para equilibrar os kms, pensei comigo: - Seja o que DEUS quiser!!!

Mal havia chegado ao ponto de transição, Fernandes apareceu, pegou minha garrafa de água e disse que iria fazer o próximo trecho, não tive tempo para contra argumentar, ele saiu voando baixo.

Aquele era um trecho considerado fácil, de 4,7 km, em praia e trilha, que foi pulverizado em 21’23”, sob o pace de 4:33 min/km.

Resumindo: com o imbróglio do congestionamento dos veículos, pequeno quatorze - personagem de um antigo comercial de tv - estava correndo o terceiro trecho consecutivo.

Seção 10: Praia do Santinho x Moçambique - 8,4 km.

O cenário paradisíaco do trajeto, destoava do nível de dificuldade do terreno - trecho muito difícil - com 8,4 km, em asfalto, dunas, trilhas e estrada de terra.

Ocorreu que não estávamos ali à passeio, assim não dava para curtir o local totalmente.

No início da seção, há um túnel formado pela vegetação densa, com largura aproximada de 1,5 metros, piso em areia com seus lados e a parte superior fechada por vegetação.

Após transpor aquele obstáculo natural, você se depara com as dunas, areia muito fofa onde correr é extremamente difícil. Na sequência, uma estrada de terra margeando a belíssima praia, que te chama para um maravilhoso e improvável mergulho.

Nas minhas oito participações na Volta à Ilha, já corri o trecho em cinco oportunidades.

O veloz Fernandes concluiu mais um trecho em 46’37” com pace de 5:33 min/km. Na soma dos três trechos, o resultado foi 18,4 km, tempo gasto de 1h41’39”, pace médio de 5’23”. De forma definitiva, agora estávamos em sétimo lugar.

Seção 11: Moçambique x Barra da Lagoa - 5,7 km.

Enquanto esperava, refiz as contas e se não houvesse mais surpresas, Fernandes fecharia a Volta à Ilha com 71,2 km, um pouco acima da minha rodagem, que somaria 68,8 km.

Fui para a transição e enquanto aguardava, tomei um banho de chuva. O trecho era de 5,7 kms, considerado muito difícil, praticamente em areia fofa.

Confesso que o episódio da quebra de nossa programação me tirou energias e enquanto esperava o Fernandes, lembrei-me que só havia tomado o caldo (sopa), com tudo aquilo que estava acontecendo, esqueci de me alimentar corretamente.

Em uma corrida de revezamento, o tempo realmente voa, e se não houver disciplina para fazer criteriosamente o planejado sobre alimentação e hidratação, você estará perdido.

Eis que visualizo o Fernandes chegando, daí, esqueço a fome e o cansaço, imediatamente, começo a correr meu trecho.

Coincidência ou não, naquele instante a maré estava baixa, me permitindo fugir da areia fofa, fechei em 32’07” com pace de 5:38 min/km.

Seção 12: Barra da Lagoa x Praia da Joaquina - 8,1 km.

O percurso de número 12 é considerado muito difícil, em asfalto e calçamento com 8,1 km, possuindo duas subidas fortes.

A primeira delas, uma verdadeira parede, onde Fernandes mostrou que estava muito bem preparado para a tarefa e que ainda tinha muita lenha para queimar.

No cronômetro, fechou em 41’59” - pace de 5:11 min/km.

Seção 13: Praia da Joaquina x Praia do Campeche - 7,7 km.

Depois de muitas horas correndo, eu estava em contagem regressiva dos trechos que eu ainda tinha que fazer, a todo instante repetia: “só faltam ...........”.

Aquele 13º trecho é considerado muito difícil, com 7,7 kms em areia fofa, corri margeando as ondas para pegar uma areia mais firme, fiz muito ziguezague, porém, correndo em linha reta você acaba enfrentando a areia fofa, o que se torna mais complicado.

Concluí mais uma empreitada em 42’21” - pace de 5:30 min/km, agora só faltavam dois trajetos para terminar minha missão.

Seção 14: Praia do Campeche x Armação - 4,9 km.

Trecho considerado muito difícil, com 4,9 km em areia fofa e asfalto.

Por conta da maré que estava subindo, não havia condições do atleta escapar da terrível areia fofa.

Um pouco desgastado, até o Fernandes sentiu a dificuldade do terreno, pois não há mecanismos para se correr naquelas condições, sem fazer muita força.

O resultado era evidente, ele fechou o trecho em 30’18” - pace de 6:11 min/km.

Seção 15: Armação x Pântano do Sul x Açores - 9,3 km.

Trecho considerado difícil, são 9,3 kms em areia fofa, asfalto e praia.

Com as forças exaurindo, começar correndo em areia fofa, não é tarefa fácil para os corredores. Para fugir daquele obstáculo, muitos optaram pela vegetação que fica ao fim da praia, onde também há muita areia fofa.

O agravante é que ali existia uma vegetação que provocava quedas, quando embaraçava nas pernas dos atletas. Diante das variáveis, ainda era mais rápido correr pela trilha do que pela praia.

Ao final da praia eu estava literalmente acabado, levei uma garrafa de água para usar durante todo o percurso, mas com 3 km, já tinha tomado toda a água.

Comecei a correr no asfalto e aos poucos fui melhorando o pace e paulatinamente, as forças foram retornando.

No final do trecho em asfalto, passei pelo meu amigo Sidnei, de São Paulo, que também estava correndo em dupla, convidei-o para prosseguirmos juntos, mas ele preferiu manter o ritmo menos cadenciado.

Estava bastante animado naquele momento, pois me encontrava no final do trecho e só teria apenas mais uma seção para finalizar minha participação na 19ª Volta à Ilha, fechei com 51’28” pace de 5:32 min/km. Estávamos agora em sexto lugar!!!

Seção 16: Açores x Morro do Sertão x Ribeirão da Ilha - 15 km.

Este é o trecho com a classificação de O mais difícil”, começando com asfalto e depois estrada de terra.

Na altura do km 3,5, começa a subida do "famigerado Morro do Sertão"São 3 kms onde se sobe 250 metros, o que equivale a inclinação média de 8,33%. Um verdadeiro pesadelo para todos os corredores!!!
Altimetria Morro do Sertão
Logo a seguir, na altura do km 8,5 - começa uma descida de 250 metros, em apenas 1 km, o piso era de paralelepípedo, tudo doía naquele instante (pé, tornozelo, joelho e região lombar) o atleta deve correr com a atenção redobrada, qualquer descuido o tombo é certo.

Com a cautela devida, Fernandes fechou este trecho em 1h30’ com pace 6:00 min/km.

Seção 17: Ribeirão da Ilha x Aeroporto x Via Expressa Sul - 15,2 km.

Quando chegamos ao estacionamento do ponto de troca, eu não conseguia trocar a meia e o tênis, estava sentindo muitas câimbras, nosso motorista teve que me ajudar, passei a fazer alguns alongamentos, tomei uma cápsula de sal e fui andando para o ponto de troca.

Ponto de Transição - Seção 17
Aquele trecho era considerado difícil, com 15,2 km, em calçamento e asfalto, com pouca variação de altimetria.

Quando o Fernandes chegou, eu não sentia mais as câimbras, entretanto, quase toda minha musculatura estava enrijecida.

Comecei a correr e aos poucos fui melhorando, a ponto de conseguir manter um ritmo próximo de 5:20 min/km, nas descidas e nos trechos planos.

Ao completar 11 km, meu ritmo foi piorando e por mais que tentasse não conseguia mantê-lo, a dor era quase insuportável (músculos posteriores, quadríceps e panturrilha).

Cheguei a cogitar que até o meu cérebro iria dar câimbras. Imagina!!! - Quase em colapso, não olhava para trás com receio de enxergar outro corredor de dupla, pois eu não tinha a mínima condição de aumentar o ritmo.

No km 13 - andei por cerca de cem metros, fui ultrapassado por corredores, que pelo ritmo, acreditei que seriam de equipes com 8 ou mais atletas. Foi quando consegui enxergar a passarela da redenção, que leva ao fim do trecho.

Aquela visão foi animadora, dando-me forças para aumentar o ritmo novamente. Concluí meu percurso em 1h26’23” pace de 5:41 min/km, ainda éramos a sexta dupla.

Seção 18: Via Expressa Sul x Linha de chegada - 6,2 km.

Trecho considerado fácil com 6,2 km em asfalto e em sua maioria, plano com algumas subidas continuas, porém leves. O difícil é você convencer alguém, que já rodou 65 kms, que o último percurso é fácil.

Mal havíamos começado o trecho e outra dupla estava passando pela área de transição, cerca de 15 segundos nos separavam.

Aquele corredor, espertamente forçou e ficou acompanhando o Fernandes, algo em torno de 10 metros, por certo, guardando forças para um tiro final.

Do carro de apoio, eu e o motorista Marlon, ficamos acompanhando os dois por um tempo, mas não avisamos nada para o Fernandes, pois conhecendo a fera, eu sabia que ele só seria ultrapassado se não conseguisse correr.

Assim, resolvi não colocar pressão no amigo e fomos direto para o local da chegada, fiquei esperando o Fernandes, para completarmos os metros finais juntos.

Como eu não sabia se chegariam disputando a posição, resolvi ficar bem próximo do final para não atrapalhar. Ledo engano, ele chegou soberano, o que nos permitiu correr os 30 metros finais juntos.

Samuel Toledo e Ornaldo Fernandes
No apagar das luzes e após a prova, Fernandes comentou que quando faltavam aproximadamente 1500 metros, ele já tinha percebido a audácia do outro corredor, aumentou o ritmo e não foi mais acompanhado.

O baixinho fechou o trecho em 31’25” pace de 5:04 min/km.

No resumo da ópera, ficamos em 6º lugar na categoria dupla, com o tempo total de 12 horas, 40 minutos e 24 segundos - pace médio de 5:26 min/km.

Na estatística para cada corredor:

*** Ornaldo Fernandes correu 71,2 kms em 6:15:10 - pace 5:16 min/km ***

*** Samuel Toledo correu 68,8 kms em 6:25:14 - pace 5:36 min/km ***

Para concluir a resenha, gostaria de agradecer ao amigo Silvestre, pela edição e postagem do texto no espaço do "Correr é Pura Paixão".

Sei que demorei na montagem da história, todavia, não poderia construir uma narrativa simples, que não demonstrasse o nível de dificuldade da corrida, bem assim, que não contemplasse as peculiaridades da inesquecível Volta à Ilha em Florianópolis.

Nesta condição, à cada oportunidade em que o amigo me cobrava pelo envio da postagem, fui buscando minhas memórias e reconstruindo os episódios dos trechos de corrida, como se falasse de uma pessoa; de suas ladeiras e dos pontos de referências (Praia de Sambaqui, Praia da Daniela, Jurerê, Cachoeira do Bom Jesus, Praia Brava, Praia dos Ingleses, Praia do Santinho, Moçambique, Praia da Joaquina, Praia do Campeche, Armação, Pântano do Sul, Açores, Morro do Sertão e Ribeirão da Ilha), enfim, retratei-os como portais mágicos aonde você vai superando seu cansaço e suas limitações.

Forte abraço e nos vemos no caminho,

Samuel Toledo



19 comentários:

  1. Essa Dupla é do Barulho...Fefê e Samuca!!!!
    Parabéns pela corrida e pelo texto.
    Marcelo Presidente

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Marcelo,
      Obrigado pela visita e pelo comentário, o Fefê estava demais carregou a dupla.
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
  2. Samuel,
    Sempre forte e competente.
    Parabéns!
    Luiz Fernando
    (aquele que passou 2 dias sem dormir antes da Comrades)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande Luiz,
      Ficou dois dias sem dormir e mesmo assim concluiu os 89km de Comrades, saudades de você, obrigado pela visita no blog.
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
  3. Relato maravilhoso... Samuel viajei e curti muito tudo o que escreveu. Agora sabendo o grau de dificuldade dessa prova vou pensar umas 10 vezes prá criar coragem e correr... Parabéns dupla maravilhosa que eu adoro.

    Abraços

    Meire

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Meire,
      Para você não tem dificuldades, faça seu relato da Ultra dos Anjos e mande para o Silvestre publicar aqui no blog, tenho certeza que vai ser muito contagiante.
      Obrigado pelo comentário.
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
  4. Parabéns ao Samuel e ao Fernandes pela belíssima participação na Volta a Ilha. Admiro quem faz esta prova e gosto muito de sentir o relato no decorrer da leitura das palavras. Foi como um passeio pela ilha. Parabéns!!
    abraço e boas corridas
    Helena
    Blog Correndo de bem com a vida
    @Correndodebem

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Helena Vidal,
      Obrigado pela mensagem, como você bem menciona em seu blog a "sensação de bem-estar após o exercício compensa todo seu esforço".
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
  5. Sem comentários.
    À prova foi maravilhosa e encantadora...
    Samuel. Correr com você é sempre um prazer.
    Valeu Silvestre pela edição muito boa...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande Fernandes,
      Você foi o motor da dupla e só pelo seu desempenho conseguimos melhorar nosso tempo de 2013.
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
    2. Fernandes,

      Meu filho Erick comenta que "família" a gente não escolhe, quanto aos "amigos", temos o privilégio de escolhê-los. Apesar da distância (Guaíra x Brasília), penso que é um privilégio ser amigo de vocês dois e dos incansáveis "Corredores da Lixeira".

      Quanto a edição e postagem do texto, só tenho que agradecer aos amigos pela oportunidade que me deram, em divulgar esta "obra prima", narrando a saga dos guerreiros na Volta à Ilha em Florianópolis.

      Forte abraço e obrigado pelo presente que me deram!!!

      Silvestre

      Excluir
  6. Que relato sensacional! Parabéns, amigo corredor. Reconheci alguns dos lugares que visitei quando estive aí floripa em Maio para uma prova. Um dia ainda faço essa famosa volta a Ilha.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ivan Hostil,
      Espero te encontrar "neste dia" na Volta à Ilha, obrigado pela visita ao blog.
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
  7. Narrativa excelente! Excelente memória a sua. É como se estivesse lá correndo. Você e o " Pequeno Grande corredor " Fernandes estão de parabéns pelo tempo de conclusão. Apesar de ser bonito, o percurso é muito difícil. Já participei lá em dupla com o Sergio Cordeiro e sei que da metade pra frente, o "bicho pega". Valeu!
    Bomfim

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mestre Bomfim,
      Sei que você conhece bem o percurso, quando participou com o Sergio Cordeiro vocês voaram baixo e ficaram em primeiro lugar.
      Obrigado pela visita.
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
  8. Grande Samuel Toledo e pequeno Fernandes... Grande dupla... Sempre mandando muito bem em todos os tipos de desafios...
    Se superam mais uma vez. Parabéns pela prova e pelo belo tempo e ótimo relato.

    Samuel Viana
    Endurance Run

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Samuel,
      Obrigado pela visita no site e pelo incentivo.
      Você como um grande Ultra tem que fazer esta prova, tenho certeza que ficará entre os primeiros.
      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir
  9. Grande Samuel,
    Pelo belo relato percebo que fizeram "jus" à frase dos organizadores: ".... o esforço físico corre lado a lado com a diversão". Parabéns aos atletas pela superação ao desafio proposto e especialmente pela colocação alcançada.
    Fico na torcida por outros relatos vitoriosos como este.
    Forte abraço!
    Guilherme Freitas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Guilherme,

      Obrigado pela visita e pelo incentivo, quero ver você também neste mundo maravilhoso das corridas, dos desafios e das superações.

      Aquele abraço,
      Samuel Toledo

      Excluir

Aos leitores do blog "Correr é Pura Paixão" deixo meu profundo agradecimento. Aguardo seu comentário, uma vez que a participação de vocês é de grande importância para o aprimoramento dos relatos.

Ultra abraço,

Dionisio Silvestre