segunda-feira, 5 de maio de 2014

A magia do Ultra Longão em Família.


Escolhi o dia de ontem, domingo, para realizar o Ultra longão de preparação para a Comrades Marathon, evento que reunirá mais de 20.000 corredores de todo o planeta e que será realizado no próximo dia 01.06.2014, nas rodovias que ligam as cidades de Pietermaritzburg a Durban, na África do Sul.

A princípio, como ocorre todo ano, esse treino seria realizado com outros amigos de Brasília, Wilson Bomfim (8 Comrades), Samuel Toledo (4 Comrades) e Ornaldo Fernandes (3 Comrades), que também são apaixonados pela prova Sul Africana.

Esse treino-ensaio tem por objetivo simular as condições que enfrentaremos na prova, testar alimentos que serão oferecidos durante a corrida (similares), buscar uma estratégia de hidratação adequada para os 89 Km, ajustar a armadura do guerreiro (tênis, meia, bermuda, camiseta, boné e óculos), perceber as reações orgânicas frente a alternância de ritmos (subidas e descidas) e sobretudo, fortalecer o aspecto psicológico.

Ocorreu que, nossos calendários estavam muito díspares, assim, só conseguiria me reunir com os guerreiros das Equipes Bsb Parque e Só Canelas, por volta do terceiro domingo do mês de maio, no dia 18.05.2014.

Na minha contabilidade, estaria faltando apenas 14 dias para a Comrades, o que por si só, inviabilizava totalmente a realização do Ultra longão em Brasília.

Assim, surgiu o Plano "B": - Realizar o "Ultra Longão" aqui em Guaíra, Paraná.
Plano "B" - Ultra longão na BR 163

Seria algo entre 50 e 60 Km, com limite máximo de 06 horas de treino. Uma verdadeira pérola para a minha planilha de treinos, pois seriam 28 dias após haver disputado a Maratona de Santiago, no Chile e 27 dias antes da Comrades Marathon.

Pensei um pouco e lembrei-me que a rodovia que liga "Guaíra a Marechal Cândido Rondon", havia passado por reformas e contava com asfalto novo, sem muitas oscilações e acima de tudo, tinha uma altimetria interessante.

Ainda faltava um detalhe: - E a equipe de apoio?Quase como um namoro, comecei a flertar com minha esposa para que ela e seu irmão mais novo, me auxiliassem na empreitada.

Conversa aqui, conversa ali, expliquei sobre como é realizado o apoio, bem assim, esclareci que o dia também seria cansativo para eles.

Sem muitas delongas, recebi a resposta que desejava. - Tudo bem, vamos te auxiliar no treino!!!

Em frente ao portão de minha casa, às 06:05 horas do domingo, 04.05.2014, iniciei o "Ultra Longão", ainda estava escuro, o caminho era iluminado pelas luzes dos postes, pouquíssimas pessoas transitavam pela cidade, o frio característico do outono paranaense estava presente.

Nos quatro primeiros Kms, busquei o aquecimento necessário para o que enfrentaria na Rodovia, o ritmo daquele primeiro trecho foi em cima do planejado (06:04 - 05:53 - 05:36 - 05:31), ou seja, aquecimento gradativo e sem atropelos.

O primeiro ponto de apoio ficou por volta do Km 06, ocorreu que a equipe parou no local combinado (Posto Paraná - BR 163) e penso eu, por causa do frio da manhã do outono paranaense, permaneceu dentro do Maresia (meu carro de apoio), sem ter separado a garrafinha de água para os primeiros goles.

Para não perder muito tempo, segui adiante e por volta do Km 07, recebi a tão desejada garrafinha. Dali pra frente, o apoio seria a cada 3 Km.

O dia realmente começava a nascer, a temperatura super agradável para uma corridinha (um pouco mais longa), uma pena que o fotógrafo de plantão, William Gonçalves, não conseguiu captar as primeiras imagens da manhã. Seria interessante postar as belas imagens do dia clareando.

A suplementação hídrica, algo em torno de 300 a 400 ml para cada ponto de apoio, foi realizada por meio de água de cocô, gatorade ou power ade, água mineral e maltodextrina diluída em água mineral.
Marileusa e o Maresia (carro de apoio)
À medida que avançava no terreno, percebia que o pace estava melhor do que minha programação inicial, tentava diminuir o ritmo, mas o corpo estava muito bem adaptado àquela intensidade. Me surpreendi quando rodei exatos 05:04 nos Kms 13 e 14.

O planejado não era aquilo, assim, com muito receio de quebrar, reduzi a velocidade para me manter dentro da meta previamente estabelecida (entre 05:40 e 06:00).
Verde limão e amarelo
Com a respiração e frequência cardíaca controlada, cheguei a um trecho de descida e com o vento favorável, resultado do deslocamento de ar da passagem dos caminhões, consegui a proeza de concluir o Km 22 em 05:01. Dei boas risadas daquele episódio.
E lá vem o caminhão!!!
Sem maiores problemas o treino foi se desenvolvendo melhor do que eu esperava, todavia, para não falar que tudo são flores, a costura da meia do pé direito, começou a incomodar, quase machucando o "dedão".

Decidi fazer uma parada estratégica no Km 36 - para substituir a meia e passar vaselina líquida nos pés. Foi uma decisão acertadíssima, com pouco tempo depois, percebi que o incômodo havia passado.

Ainda bem!!! porque o trecho entre o Km 39 e 46 era "Só Subindo!!!".

Quando passei pelo "Arroio Guaçu" no Km 39, a altimetria era de 201 metros acima do nível do mar, quando terminei o Km 46, a frequência cardíaca estava nas alturas e a altimetria era de 364 metros, ou seja, foram 7 Km de subida moderada e constante, um teste de fogo para aquela altura do campeonato.
Km 46 - divisor de águas!!!
Para apimentar ainda mais o tempero, naquele trecho a equipe de apoio não conseguiu um local seguro à beira da rodovia, uma vez que, com a recente reforma da rodovia, o antigo acostamento tornou-se a terceira faixa para facilitar a vida dos motoristas.

Desta maneira, a hidratação ficou prejudicada naquele instante. Assim, foi necessário recompor toda a estratégia do treino.

Acabei devorando um sanduíche de presunto e queijo, recheado com geleia de goiaba.

Enquanto caminhava, tomei boa quantidade de maltodextrina para reforçar o nível de carboidrato.
Tamos juntos!!!
Naquele momento, minha esposa sofreu junto comigo, pois eu tinha receio de parar e as pernas travarem por causa do esforço na subida. Recuperei o fôlego caminhando por cerca de 200 a 300 metros.

Bastou aquela suplementação alimentar para a plena recuperação, rodei os Kms 47 e 48 sob o pace (05:13 e 05:12). Imediatamente, refleti como a suplementação alimentar, feita na hora correta, contribui sobremaneira para o desempenho do atleta.

A meta dos 50 Km, quase ininterruptos, estava muito próxima. Quando cheguei ao Km 50, solicitei que as paradas do Maresia (meu carro de apoio) fossem feitas a cada 1 Km. Com isto, pretendia avaliar Km a Km, até que altura era interessante manter o treino naquele padrão de 05:30 minutos para cada Km.

Para não passar desapercebido, junto com a suplementação hídrica, devorei metade de uma banana nanica e uma paçoquinha de amendoim (mas que meleca hein!!!).

O tempo foi passando e os Kms foram se sucedendo:  (51) - não era uma boa ideia parar naquele momento. Que tal o (52) - não gostei da numerologia. Vamos avançar para o (53) - ritmo de 05:31 - bem sugestivo a repetição de números! - E o Km (54) - também não, pois correria o risco do Ricardo Rezende, que edita o Blog "Rumo a Comrades", me acusar de plágio na distância do Ultra longão.

Ao me aproximar do Km 55 - uma mensagem subliminar me ocorreu: percebi que havia encontrado o número mágico (um casal de números cinco), que serviria perfeitamente para representar a parceria de sucessivos e maravilhosos anos de vida conjugal e familiar; que naquele instante mágico, enaltecia a convivência de dois eternos namorados.
A magia do longão em família!!!
Vou tentar explicar essa pretensa mensagem subliminar, usando os caracteres matemáticos:

(5-5) cinco menos cinco é absolutamente nada (0);

(5+5) cinco mais cinco é nota dez (e 10 é êxito total);

(5:5) cinco dividido por cinco representa uma unidade (1 desafio - 1 casal -1 vida);

- (5x5) cinco vezes cinco é uma explosão de emoções (25 precisamente).

É óbvio que com aqueles pensamentos, encerrei o treino no Km 55, com 05:05:20 horas de treino efetivo, pace 05:33 min/km, ganho de elevação de 542 metros, perda de elevação de 412 metros, frequência cardíaca média em 155 bpm e 05:13:53 horas de tempo total de treino.
Altimetria x Frequência Cardíaca
Vou encerrar a postagem desejando aos corredores Samuel e Bonfim, da Equipe Bsb Parque; e Fernandes, da Equipe Só Canelas, que o "Ultra longão", programado para acontecer em Brasília no próximo domingo, dia 11.05.2014, seja repleto de magia e tenha no mínimo, a intensidade dos meus 55 Km de treino. Vida longa aos guerreiros de Brasília!!!

Ultra abraço e bons treinos!!!

Dionísio Silvestre










quarta-feira, 30 de abril de 2014

Pausa para a Maratona de Foz do Iguaçu.

Postado em 

O Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná e os parceiros que promovem a Maratona Internacional de Foz do Iguaçu resolveram transferir para 2015 a sua oitava edição.

O Sesc, a prefeitura de Foz, a Itaipu Binacional, o Parque Nacional do Iguaçu concordaram de forma unânime que o congestionado calendário do segundo semestre deste ano inviabiliza a realização do evento.
Devido à realização da Copa do Mundo, diversas provas foram reagendadas para a segunda metade do ano. Só no período em que estava prevista a edição de Foz do Iguaçu, existem sete maratonas a ser corridas em apenas 35 dias no país.
Em 2015, a VIII Maratona Internacional de Foz do Iguaçu deverá ser uma das principais atrações do circuito nacional, conforme compromisso já firmado em conjunto pelos realizadores da prova, que é considerada a mais acolhedora do calendário e referência em responsabilidade ambiental. A previsão é que a prova aconteça no dia 27 de setembro de 2015 (a confirmar).

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quarta-feira, 9 de abril de 2014

En este Maratón no correrás solo!!!

Na semana da viagem para Santiago, fiquei receoso com as primeiras notícias sobre os fortíssimos terremotos que sacudiram o norte do Chile. Apesar da distância da capital chilena para a região de Arica (2.000 Km), Iquique (1.800 Km) e Antofagasta (1.400 Km), locais próximos ao epicentro dos abalos, tinha dúvidas a respeito das condições para a plena realização dessa edição da Maratona de Santiago.
Plaza de la Ciudadania
Na quinta-feira pela manha, ao acessar o site oficial da prova, enxerguei a frase: "Estamos listos", ou seja, mesmo diante da catástrofe, a organização da prova dizia-se pronta para o evento. Outro aspecto importante foi a atitude do Diretor da Prova - Fernando Jamarne, quando compartilhou a mensagem de alento da AIMS - Association of International Marathons and Distance Races.
Querido  Fernando,

He tenido noticias del sísmo de 8,2 grados en la escala Reichter ocurrido esta misma mañana en Chile; como ocurre en un país tan bien preparado para este tipo de desastres naturales, vuestros dirigentes han tomado las medidas correspondientes haciendo que los daños sean mínimos y el orden no haya sufrido alteraciones importantes.

Este próximo domingo tenéis programada la edición del Maratón de Santiago, prueba que ha adquirido a lo largo de estos años una fama internacional deportiva y organizativa; espero y deseo que el suceso mencionado no impida que se celebre esta competición de la cual estoy seguro que todo Santiago se siente orgulloso. Es evidente que esta decisión estará basada en las circunstancias que rodean a la catástrofe, pero estoy seguro de que eventos de este tipo, si el apartado material lo permite, generan en la población un sentimiento de orgullo y de capacidad ciudadana de enfrentarse a las dificultades y vencerlas aunque sea indirectamente.

En nombre de AIMS y de todos los directores de carrera de nuestra asociación, recibid todo el equipo organizador nuestro afecto y nuestro ánimo para hacer de la edición 2014 otro éxito del Maratón de Santiago.
  
Un abrazo de parte de todos,
Paco Borao
President of AIMS 

Igualmente, e-mails foram enviados pela organização, desejando sucesso aos participantes e divulgando a "Expo Running", que foi realizada no "Centro Cultural Estacion Mapocho", que diga-se de passagem, foi muito bem organizada, com inúmeros "stands" divulgando materiais esportivos, suplementos alimentares, enfim, um show!!!
Centro Cultural Estacion Mapocho
Para os amigos e familiares que permaneceram no Brasil, também foi divulgado o aplicativo para que eles pudessem acompanhar os atletas no decorrer da prova, ou seja, apesar dos episódios dos terremotos, havia toda uma concentração de esforços para assegurar a realização da prova.

Era hora de começar a preparação mental para a viagem, imaginando todos os detalhes importantes da corrida, era hora também da montagem da mochila, separar apenas os apetrechos essenciais, material de higiene pessoal, algumas mudas de roupa para frio, passaporte, cartão de vacina, smartphone, dinheiro - em resumo: na mochila só caberia o indispensável.

Aqui deixo minhas indagações: - Em alguma oportunidade você já foi correr uma prova longe de casa, imbuído do espírito mochileiro??? - Nesta condição, o que realmente é indispensável?

Na sexta-feira, 04.04.14, apesar do atraso na decolagem, o voo entre Guarulhos e Santiago foi extremamente tranquilo, céu de brigadeiro. Ao chegar ao Aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benítez, em Santiago, encontrei dois amigos de Brasília: "Fábio e Luciana", ele também correria os 42 Km e ela enfrentaria os 21 Km da Meia Maratona.

Depois de uma breve conversa, me despedi e fui procurar o Hotel Serrano - Centro, de localização muito privilegiada, uma vez que estava a 800 metros do Centro Cultural Casa de la Moneda (local da largada) e a 1.700 metros do ponto de distribuição dos kits - no Centro Cultural Estacion Mapocho.
Centro Cultural Casa de la Moneda
Sem perder tempo, fui caminhando para retirar o kit da prova. Apesar da pouca distância, passei por verdadeiros cartões postais da cidade. Confiram as imagens!!!


Enquanto caminhava, analisava a rotina diária do povo chileno. À noite, quando pude assistir às reportagens sobre os terremotos, me surpreendi com as entrevistas das pessoas que foram afetadas pela catástrofe. Ao serem entrevistadas, diziam que estavam reconstruindo a vida.
Carabineiros de Chile
Pode parecer "utopia", mas, frente a tamanha adversidade, o debate prioritário entre os chilenos referia-se ao tema "construções anti sísmicas", tal qual o modelo existente no Japão. Penso que é a maneira deles aceitarem que a natureza continuará soberana e que abalos de maior ou menor intensidade, continuarão a acontecer. É vida que segue!!!
Plaza de la Constituicion
Naquela mesma sexta-feira, às 23:26, acordei muito assustado com as ondas de choque, reflexas do terremoto que naquele instante ocorria nas cercanias da cidade de Valparaíso, que por sua vez, fica a 120 Kms de Santiago. Quando comentei com a família sobre essa experiência, a engraçadinha da minha irmã, me mandou a seguinte mensagem: "mano, sai daí agora e vem pra cá correndo"!!!

Direcionando o foco para a prova, ao analisar a altimetria do percurso, programei minha estratégia de corrida, dividindo-a em 3 fases. Na fase inicial pretendia correr no ritmo de 04:40 min/km, até o Km 20, tendo em vista a pouca oscilação entre descidas e subidas.

O trecho intermediário, correria dentro do ritmo possível, uma vez que existe uma subida interminável, que fica entre os Kms 20 e 32.

Se até ali tudo estivesse dentro do programado, nos demais 10 Km, pretendia melhorar ou retornar à meta de 04:40 min/km, acreditando sobretudo na descida.
Percurso da prova
Aproximando-se o momento da largada, o locutor solicitou a atenção das pessoas presentes, fez o pronunciamento oficial da Maratona de Santiago em relação às sete pessoas que faleceram nos terremotos, homenageando-as com 1 minuto de silêncio.

Nessa atmosfera não desejada e com um pequeno atraso de 5 minutos, a largada para a Maratona foi realizada às 08:20, o sol estava totalmente contido pelas densas nuvens, fazia muito frio, algo em torno de 6° C, que para o calango do cerrado é uma temeridade.

Pelos números divulgados, para as três provas: 10 Km, 21 Km e 42 Km, estavam reunidos na Plaza de la Ciudadania, atletas de 90 países, totalizando 25.500 corredores.
06.04.14 - Maratona de Santiago
Após a largada, meu primeiro km foi contaminado pelo ritmo de prova do amigo Fábio Machado, que, um pouco antes, na área de concentração dos corredores, havia dito que pretendia correr a Maratona de Santiago sub 3 horas.

A título de brincadeira, comentei que correria lado a lado os primeiros 195 metros e os 42 kms restantes seguiria no meu ritmo próprio.

Brincadeiras a parte, sequer consegui me aproximar do calcanhar do amigo, todavia, me assustei quando o relógio mostrou meu pace inicial - 04:13 min/km - algo muito à frente do ritmo de 04:40 que eu pretendia. Estratégia Kamikaze com o chassi 5.0 é suicídio!!! O jeito foi pisar no freio imediatamente.

Diante do frio extremo, parecia que o corpo não transpirava e a hidratação ficou em segundo plano, especialmente porque a água e o gatorade eram servidos em copos abertos. Não demorei muito para me acostumar, é o princípio da seleção natural, ou se adapta ou vai sucumbir. Prefiro a primeira hipótese!!!

Fiquei impressionado com o povo chileno que naquele frio extremo, foi as ruas para prestigiar os corredores. A todo instante, em cada esquina, lá estavam. A Bandeira do Brasil estampada em minha polera (camiseta) me proporcionou muita alegria!!! por onde passei recebi o carinho dos chilenos que gritavam "animo Brasil".

Planejar é uma coisa e correr é outra. Minha fase inicial de prova foi na ponta do lápis, ou seja, foi uma sucessão de kms muito bem corridos e com pouca variação de tempo.

No segundo trecho, as coisas não andaram muito bem, aos poucos, meu ritmo foi caindo lentamente, a musculatura posterior da coxa demonstrava certo grau de fadiga, apesar da ótima distribuição de água e gatorade, o gel de carboidrato de pouco adiantava, o frio continuava a maltratar e a meta de 04:40 min/km estava indo pro brejo.

O jeito foi curtir um pouco a festa, especialmente quando passava ao lado dos palanques que foram montados ao longo do percurso. Não há como esquecer as músicas locais que foram tocadas pelos artistas para entreter a população e os corredores.

Ao diminuir a velocidade, brinquei com uma galerinha de 5 ou 6 crianças, que estendiam os braços e colocavam as mãos para serem tocadas pelos corredores; vendo aquela cena, me curvei um pouco e saudei-os tocando a palmas das mãos. Usando o recurso da onomatopéia, foi bem asssim "clap, clap, clap, clap, clap e clap".

Em seguida, recebi minha recompensa: "uma sonora gargalhada de crianças".

Foi quando surgiu a descida salvadora. Aqueles últimos 10 kms seriam a redenção, forcei o ritmo novamente e voltei à programação estratégica, todavia, eu não contava com a astúcia e rebeldia da musculatura posterior, que a partir do Km 38, passou a me dar pequenos avisos, prenunciando a falência total.


O emblemático Km 38
Para nós, corredores amadores, é evidente que a corrida não é um meio de vida, talvez um estilo ou filosofia, que busca propiciar qualidade de vida. Com este pensamento, quase igual a um "mantra", enfrentei os últimos 4 kms da prova.

Será que valeria a pena continuar acelerando e faltando pouco para a linha de chegada, me imobilizar em câimbras ou deveria continuar com os meios possíveis, como o fiz, e por via de resultado, concluir aqueles 42.195 metros da Maratona de Santiago em:

*** 03:22:20 ***

Lembra do amigo Fábio Machado, que me confidenciou que correria sub 3 horas. É com grata satisfação que venho informar que "The Flash" cumpriu com a promessa. Em uma pontualidade britânica, concluiu a prova em 02:59:20. Esse carinha é fera!!!

De igual sorte, Luciana Sobreira, completou os 21 Kms sobrando (desculpe o trocadilho). A rigor, a guerreira arrematou a Meia Maratona em 01:51:16. Bom demais!!!

O final da festa foi literalmente dos Africanos. No masculino deu Beraki Beyene, da Eritreia, com o tempo de 02:11:50.

No feminino, Emily Chipkorir, do Kenia, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, com pouco mais de 02 horas e 35 minutos.
"Los Perros de Santiago" - Foto: Run 4 Life
Quando desembarquei no Aeroporto do Galeão, corri para acessar a página dos resultados da prova; procurei, procurei e não encontrei o meu resultado. Comentei com o Fábio e com a Luciana e ironicamente eles disseram: "é porque você cortou caminho"!!!

Um pouco chateado, encaminhei e-mail para a organização da prova, informando o ocorrido, mas pensando bem, não posso desprezar a tremenda lição de vida que o povo chileno demonstrou nessa minha rápida passagem pelo país. É desproporcional a minha preocupação, diante do drama recorrente deles. É vida que segue!!!

Por outro lado, o barato de tudo isso é que: passado esses momentos de euforia pela prova, a vida retorna à normalidade e assim, de novo, nos deparamos com nossos dramas pessoais de vida.

Então vamos lá: "táxi na madrugada, check-in no aeroporto, café meia boca, sala de espera, várias horas de voo, retirar a bagagem, táxi novamente, cheguei em casa"!!!

Ultra abraço,

Dionísio Silvestre


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Durante 10 dias, tentei manter contato com os organizadores sobre a falha de cronometragem, foram duas correspondências eletrônicas infrutíferas, sem respostas. 

Mudei a linha de ação e resolvi manter contato com a CHRONOTRACK, empresa que fez a cronometragem da prova, mantive a linha de argumentação e desta oportunidade encaminhei o link do GPS para confrontar com os dados registrados pela empresa.
42 Km - Maratona de Santiago
Para minha total alegria, bastou aquele único e-mail para que eles acatassem as argumentações e atualizassem a página de resultados. No mesmo dia, eles encaminharam correspondência eletrônica informando que meu resultado já constava na página oficial da Maratona de Santiago.

Bom demais da conta!!!

Resumo da ópera: "com persistência, com bom nível de argumentação e acima de tudo, graças ao idolatrado "GPS", mais uma meta foi alcançada".

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No mesmo modelo de outras postagens, com a autorização do amigo Nilo Resende, do site Companheiros de Corrida, estou reproduzindo dois vídeos para demonstrar a atmosfera que envolveu a Maratona de Santiago.



Neste primeiro vídeo, Nilo Resende busca demonstrar a impressionante estrutura montada para abrigar a "Expo Running".

Não menos importante, 0 segundo vídeo demonstra o dia da prova, a atmosfera contagiante do povo Chileno. Confira!!! penso que você vai gostar!!!


Para os amigos que desejam uma excelente leitura sobre a Maratona de Santiago 2014, também sugiro uma passadinha pelo site do nosso Companheiro de Corrida.











segunda-feira, 17 de março de 2014

No caminho do Córrego do Ouro

Após o treino do dia 23 de fevereiro, aquele com o fogareiro nas costas, nosso grupo programou outro percurso de 30 Km, agora em ambiente rural, na estrada de terra batida e cascalho, no caminho do Córrego do Ouro.

O nome me chamou a atenção!!! - Descobri que a aventura se daria na extremidade norte do Distrito Federal, na Região Administrativa da Fercal, na estrada de acesso ao "Povoado do Córrego do Ouro".

No caminho do Córrego do Ouro

Por aquelas bandas, não é raro ouvirmos lendas antigas que antecedem à construção de Brasília, entre as quais, encontramos a história dos aventureiros ávidos pelo metal precioso, que embrenharam-se pelos mais diversos caminhos do Planalto Central.

Na Wikipédia, consta que lenda é uma narrativa fantasiosa, transmitida através dos tempos, de caráter fantástico e/ou fictício. A rigor, as lendas combinam fatos reais e históricos com fatos irreais, meramente produto da imaginação humana. Eventualmente, uma lenda pode ser também verdadeira, o que realça a sua importância no contexto cultural.

Para os amantes do ciclismo e da corrida, a estrada do Córrego do Ouro é um presente, por que não dizer: um verdadeiro tesouro, um dos percursos mais difíceis que temos no Distrito Federal, com seus longos e intermináveis estradões, com subidas íngremes, descidas que judiam os joelhos e poucos trechos planos.


O percurso não é indicado para iniciantes, ele é muito utilizado para treinos de ultra resistência, sendo muito cobiçado por atletas que buscam, em suas desafiadoras subidas e descidas, melhorar o condicionamento físico.

O dia estava iniciando quando chegamos ao ponto de encontro no Posto Colorado e, logo a seguir, nos deslocamos para o local de início do treino. Nossa lista inicial de aventureiros era composta de cinco corredores: Jorge Coentro, Pedro Ivo, Samuel Toledo, Ornaldo Fernandes e Dionísio Silvestre.

No carro de apoio estaria nosso integrante mais importante, Lucas Toledo, filho do Samuel, que iria dirigir o carro de apoio, separar o material para a suplementação (hídrica e alimentar) e a princípio, também iria registrar os momentos interessantes ao longo daquela jornada. Ocorreu que o "muleke" havia retornado da balada poucas horas antes, assim, demorou para o camarada despertar.



Lucas Toledo após a balada
Na estratégia programada, o carro de apoio avançaria 3 Km no percurso e nos aguardaria, nesses momentos, Lucas aproveitava para uma soneca estratégica e quando o grupo chegava ao local, só conseguia nos responder com frases monossilábicas. Era evidente que ele não havia se recuperado da balada.

Os trechos foram sendo percorridos, o sol começou a esquentar, as subidas se tornavam cada vez mais desafiadoras, as descidas judiavam do joelho do Pedro Ivo e mesmo assim ele sentava a bota lá na frente, Jorge Coentro buscava acompanhá-lo, Samuel, Silvestre e Fernandes corriam lado a lado e aproveitavam o momento para recordar as experiências da Ultramaratona das Montanhas - BR 135, na Serra da Mantiqueira.


Uma subida no caminho!!!

Do Km 9 em diante, Pedro Ivo e Jorge Coentro, se destacaram do grupo, empreendendo um ritmo excelente. As notícias da dupla vinham por intermédio do Lucas Toledo, que nesta altura já havia despertado e parecia uma usina devorando os pães de queijo e salgadinhos que levei.


Pão de Queijo no café da manhã!!!

Sem a velocidade para acompanhar Pedro e Jorge, resolvi tentar acompanhar a outra dupla, aqui e ali forçava um pouco para tentar captar imagens para o blog, uma vez que o Lucas não queria nada com a máquina fotográfica.


A rapadura é doce mais não é mole!!!

No Km 15 - Uma constatação: - Apesar da distância percorrida do centro de Brasília, a placa indicativa do Córrego do Ouro não escapou da ação danosa dos pichadores. Uma pena!!! - O local é muito bonito para ser tratado daquela maneira!!!


A placa pichada

Lamentações à parte, chegamos correndo ao famoso "Corrego do Ouro". Há uma pequena ponte de madeira colonial, muito antiga, porém, extremamente conservada.

Era o momento da nostalgia. De forma didática, Fernandes começou uma explicação técnica sobre o manuseio da "bateia", aquele utensílio utilizado pelos garimpeiros na mineração em cursos d'água, uma espécie de prato grande, em forma de chapéu chines.


O garimpeiro e a bateia!!!

Diante de nossa total atenção, pequeno quatorze passou às explicações técnicas:
"Colocando-se uma pequena quantidade de cascalho na bateia e adicionando-se um pouco de água, procede-se à agitação da mistura, por meio de movimentos circulares. Esta agitação, associada com a diferença de densidade entre o cascalho e os minérios metálicos, permite efetuar a separação do ouro".
Viu só!!! - Correr também é cultura.


De volta ao treino!!!

Voltando ao nosso treino!!! - Aqueles 15 Km que haviam ficado para trás seriam enfrentados novamente, agora em sentido contrário, ou seja, o que era subida se tornaria descida e o que era descida se tornaria subida. É isso mesmo??? fiquei um tanto quanto confuso!!!

Só para que você tenha noção, o meu GPS registrou que no decorrer dos 30 Km, enfrentamos um ganho de elevação de 964 metros e perda de elevação de 908 metros.


Um verdadeiro tesouro!!!

Nada de novidade entre o Km 15 e o Km 24, a natureza mostrava sua exuberância, os casais de araras sobrevoavam uma área onde a vegetação conta com inúmeros buritis, o cascalho solto dificultava a corrida na hora das subidas íngremes, o sol maltratava a pele do quelônio, enfim, parecia que tudo se encaminhava para um dia normal de treino.

Na parada estratégica do Km 24, Fernandes resolveu propor um desafio ao Lucas. Na minha avaliação ele procurava garimpar novos talentos naquele instante.

O desafio era o seguinte: Lucas correria os próximos 6 Km e Fernandes conduziria o carro de apoio até o final do treino. Imediatamente, Lucas retrucou:

- E o que eu vou ganhar  com isso?

- R$ 100,00 (cem reais), mas se desistir, você perde o mesmo valor!!!

Um breve silêncio se instalou, Samuel só acompanhava aquela conversa e eu apenas sorria das traquinagens de pequeno quatorze. Só ele para ter essas idéias malucas naquela altura do treino.

O fato é que o camarada aceitou o desafio, tirou a bermuda e o chinelo, colocou short, meia, tênis, camiseta e boné.

Não hesitei, saquei minha máquina fotográfica para registrar aquele momento histórico. 

Olha o sorriso do paizão Samuel!!!


Desafio no Km 24!!!

O primeiro trecho foi até simples, havia uma pequena descida, mas tudo que desce tende a subir novamente, essa é a regra. Quando as subidas começaram, Lucas reclamou que o pulmão queimava e as pernas doíam. Era tarde para voltar atrás, ele teria que enfrentar aquela montanha russa de terra e cascalho.


No início tudo é fácil!!!

Sabe quando alguém faz uma aposta para perder!!! - Esta era a minha percepção, Fernandes propôs o desafio, porém, como eu já havia dito, ele estava era garimpando novos talentos.


água... água... água
Não demorou muito e Lucas pediu água!!! - Calma, ele só queria se hidratar e nada mais. Naquele instante, a palavra desistir havia sido retirada do seu dicionário.


Seguindo em frente!!!

Ao lado do Samuel e do Lucas (pai e filho), percorri os primeiros 3 Km do desafio. No decorrer do último trecho, resolvi que era o momento de avançar um pouco e deixar que os dois compartilhassem aquele momento sozinhos. Faltava pouco, mas faltava muito, a estrada exige bastante do corredor.

Encerrei o meu treino, peguei uma garrafa d'água e comecei a refletir sobre os momentos especiais que as corridas e treinos nos reservam. Posso afirmar que Samuel Toledo não esperava por aquele momento.

O fato é que mal iniciei a reflexão, acompanhei Fernandes correndo para pegar a máquina fotográfica para registrar o momento da superação do desafio pelo Lucas.


Desafio superado!!!

Valeu demais Lucas!!! - Com muita garra, depois da balada do sabadão, você foi guerreiro para superar o desafio proposto pelo Fernandes. Que esses primeiros 6 Kms sejam o início de muitos outros que você encontrará pelo caminho.

Ah sim, já ia esquecendo, isso que acabei de narrar não é lenda.

Frente ao fato, o "Blog Correr é Pura Paixão" foi designado para acompanhar e auditar o desafio. Nesse contexto, estou inserindo a imagem abaixo, para registrar o momento em que os guerreiros cumpriram com suas obrigações legais.


Só o Ouro na mão do Lucas!!!

Para concluir, vou inserir duas outras imagens que foram captadas após o treino. Só desta forma conseguimos registrar a presença do Pedro e do Jorge, de resto, eles pareciam dois foguetes naquelas estradas de terra e cascalho.

Ultra abraço,

Dionísio Silvestre


Seção "Eu estava lá"



Silvestre, Lucas, Samuel, Pedro e Fernandes
Jorge, Lucas, Fernandes, Samuel, Pedro