quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Sonho da Comrades Marathon - 2012

Esse blog nasceu inspirado na idéia de compartilhar amizades, experiências e emoções relacionadas à nossa capacidade de renovar as energias correndo ou correndo renovar as nossas energias.

Tudo começou em 2010, quando conheci dois ultramaratonistas aqui em Brasília, "Wilson Bomfim e Manoel Mendes". 

Surgia o sonho de correr uma Maratona. Pensei comigo, muita calma nesta hora, logo a seguir, com o apoio incondicional de minha alma gêmea guerreira, me lancei ao desafio dos 42 Km, sendo o primeiro passo a avaliação clínica completa para quem deseja tal feito.

De posse da liberação do cardiologista, o projeto foi encaminhado à prancheta, onde foi submetido à reengenharia de projetos, uma vez considerado que o motor propulsor era o SLV.4.6.STR

Assim, em 2011 participei das Maratonas de Brasília, Florianópolis, dos 51 Km da Volta ao Lago em Brasília (solo) e da Ultramaratona de Revezamento 300 Km - Aracaju a Maceió, essa última organizada pelos nossos irmãos da ACORJA, Lula e Gilmar Farias.

No final de 2011 amadureci a idéia de correr a COMRADES MARATHON 2012, sob o seguinte argumento: "89,3 é o tamanho de meu sonho".

Domingo, 03 de junho de 2012, madrugada gelada na cidade de Pietermaritzburg, 19.524 guerreiras e guerreiros de 68 países estavam reunidos para participar da 87ª COMRADES MARATHON.

A interação do grupo de Brasília com os demais brasileiros que estavam hospedados no Beach Hotel na cidade de Durban foi tão significativa que não posso deixar de mencionar seus nomes: Distrito Federal - "Wilson Bomfim (7ª), Mauri Pereira (5ª), Ornaldo Fernandes (3ª), Fábio Machado (1ª), Márcio Grace (1ª), Arlete Menezes (1ª), Nelson Junior (1ª), Dionisio Silvestre (1ª); São Paulo - " Maria Coelho (4ª), Schosiro Shibata (3ª), Pedro Bonfim (3ª), José Cerqueira (3ª), Viviane Cristina (2ª), José dos Anjos (2ª)", Mato Grosso do Sul: "Ana Gomes (7ª)".

Sob a temperatura de 7ºC, às 05:30h, foi dada a largada da prova com um tiro de canhão. Foi um momento sublime, repleto de receios, de sonhos, da euforia coletiva, das lágrimas que verteram naturalmente das faces dos participantes, após ouvir a música "shosholoza". Trata-se de uma canção originária do Zimbabue que se traduz como "seguindo adiante", todavia, popularizada na Africa do Sul, ao ponto de ser considerada o hino informal do país.

Sob a regência do mestre "Wilson Bomfim", avançamos na primeira parte do percurso de maneira natural e em ritmo cadenciado, algo próximo de 5:50/Km, às 08:08h passamos pelo primeiro ponto de cronometragem e filmagem em Camperdown, 26,8 Km de prova, ou seja, gastamos 02h 38min.

A demonstração de carinho e de orgulho dos Sul Africanos que estavam ao longo da rodovia era algo contagiante; nunca imaginei correr ao longo de 89 Km e jamais me sentir sozinho, algo diferente sempre acontecia.

Apesar das intermináveis subidas e descidas, o segundo trecho também foi percorrido sem maiores conflitos para a mente e o corpo; passamos pelo ponto de cronometragem e filmagem em Drummond às 09:54h, tendo percorrido 44,2 Km, distância um pouco maior que a Maratona, com o tempo de prova de 04h 23min.

A impecável distribuição de água, isotônico, frutas, batata cozida com sal, tornava a tarefa menos traumática pois a estratégia inicial contava com a suplementação com saches de gel de carboidrato, barras de proteínas e capsulas de sal.

Nesse estágio, encontramos os marcadores de ritmo para os atletas que almejavam concluir a COMRADES MARATHON sub 9 horas. A rigor, são atletas experientes que a organização da prova disponibiliza. Aqui, forma-se uma aglomeração enorme de corredores. Resolvemos em comum acordo nos incluir no ônibus sub 9, isso mesmo, o nome carinhosamente dado àquela aglomeração de atletas.

Winstow Park era o próximo desafio, 58,2 Km, temperatura amena, 22º C. Passamos nesse ponto às 11:19h com o tempo de corrida de 05h 49min. A minha avaliação é que esse ponto separa os homens dos meninos, pois faltam 31 Km para terminar. Ah é... vai explicar isso para as suas pernas naquela hora.

Esse é o momento de pura superação, manter pensamentos positivos uma vez que o corpo já começava a apresentar sinais de cansaço, o que era natural de se esperar naquele estágio da corrida.
Conflitos internos à parte, vamos avançar, próxima meta "Cowies Hil", à 18 Km do pórtico de chegada, ou seja, 71 Km percorridos com muito suor e sacrifício. Passei o ponto de cronometragem às 12:34h, com o tempo de 07h 04min. Nesse momento o mestre Wilson havia diminuído o ritmo e estava eu em corrida solo.

Ainda não refleti sobre a ausência de meu mestre, más, quase posso afirmar que teve um impacto psicológico, pois mesmo no ritmo do ônibus sub 9 horas, não me sentia com a plenitude das forças.

Talvez tenha deixado de me alimentar e hidratar da forma mais adequada possível. Naturalmente, é um momento crítico, as vias de produção de energia devem estar a pleno vapor.

Eis o conflito, me mantenho no meio do pelotão e tento me hidratar e alimentar ou fujo da aglomeração e reponho as energias com os alimentos possíveis. Optei pela segunda e não me arrependo. Faltando 14 Km para concluir a prova meu pensamento era o de preservar tudo aquilo que construí ao longo da corrida.

Próximo a um ponto de hidratação passei a caminhar, me hidratei, comi alimentos e mais alimentos de fácil digestão, em especial frutas, voltei a caminhar por 2 Km.

Argumentei comigo mesmo, será que já tenho energia disponível para iniciar um "fart lek", caminhar e correr leve. Vamos ver! - comecei a correr novamente com pequenos trechos. Era algo assim: "até aquela placa correndo... ok?" - meta superada, vou caminhar, "agora... mais um pouco de corrida" - legal! - Foram 5 Km nessa busca de superar os obstáculos e limites. 

Às 13:53h passei pelo ponto de cronometragem em Maryville, com o tempo de 08h 23min, agora faltavam tão somente 7 Km para concluir o desafio. 
Reiniciei uma corrida despretensiosa e aos poucos fui avançando, não havia o prenúncio das tão temidas câimbras, não haviam dores significativas, os pensamentos eram os melhores possíveis, lembrei-me da música "O Sol", do grupo Jota Quest, vamos curtir um trecho: 

Ei, dor!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei, medo!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou

Boa parte desse último trecho era quase toda plana o que contribuiu sobremaneira para o ritmo final, o estádio já podia ser visto e a emoção evidente. 

Quando pisei no gramado do "Sahara Stadium Kingsmead" passei a ter a certeza que o sonho estava próximo de ser realizado. Assim, sob forte emoção e agradecendo a todos que de forma direta ou indireta contribuíram na empreitada, completei a 87ª COMRADES MARATHON - VERSÃO 2012 às 14:36h, com o tempo de prova 09h 06min.
Vocês lembram que: "89,3 Km era o tamanho de meu sonho". Agora, "passou a ser o tamanho do meu ideal".

Para concluir necessito tecer duas considerações importantes: a primeira para agradecer o nosso eterno guru "Samuel Toledo", pessoa que possui um brilho tão intenso que deixei para mencioná-lo somente agora, em um momento especial. 

- "Amigo, que Deus continue te abençoando para que você possa cada dia mais, iluminar nossas trilhas e caminhos".

A segunda consideração deve-se ao fato de todos os atletas que foram citados nesse ensaio, terem completado a prova, alguns com grau de esforço um pouco maior, outros menor, porém, terminaram com louvor e extrema sabedoria.

Ah sim - já ia esquecendo, para os amigos de São Paulo "Viviane e Dos Anjos" fica o convite para 2013. Quero buscar a "Back to Back" - vocês poderiam me ajudar?

Forte abraços a todos,

Dionisio Silvestre