Por diversas vezes, já ouvi o comentário: "corredor é bicho neurótico". Na condição de bom ouvinte, jamais me contrapus a esta linha de pensamento, até porque, penso que seja uma neurose do bem, se é que isto existe!!!
Na manhã do dia 25 de maio de 2014 - domingo - logo após o término de um treino de 16 Km, iniciei uma conversa com minha esposa, narrando sobre o meu nível de ansiedade, naquelas últimas semanas de preparação para a corrida da África do Sul, falava dos meus receios e cuidados na reta final de preparação, em verdade, falava de meus fantasmas imaginários.
Ao tempo em que debatia o assunto, quase que de forma mecânica, porque não dizer, robotizada, alcancei uma bolsa de gelo reutilizável e sem muitas cerimônias, iniciei uma espécie de fisioterapia preventiva na junção mio tendínea, na região da panturrilha; uma parte do meu corpo que já sofreu alguns traumas.
No dia anterior - sábado - liguei para comentar com o amigo Samuel Toledo, sobre algumas precauções na reta final de preparação para a Comrades. Ele por sua vez, não deixou o assunto passar em branco e também assumiu o seu nível de preocupação:
No dia anterior - sábado - liguei para comentar com o amigo Samuel Toledo, sobre algumas precauções na reta final de preparação para a Comrades. Ele por sua vez, não deixou o assunto passar em branco e também assumiu o seu nível de preocupação:
"Silvestre!!! - pode ser neurose minha, mas um dos maiores receios que tenho é quanto à infecção da garganta, evito contato com pessoas com a garganta infeccionada.
Faço isto em decorrência de um processo natural que ocorre em ultramaratonistas, que é a baixa na resistência orgânica, na fase mais crítica do treinamento".
No propósito de ilustrar o relato, embrenhei-me em alguns trabalhos acadêmicos - afetos à psicologia esportiva - quando então, encontrei uma dissertação de mestrado, assinada por Ligia Silveira Frascareli, sob o título: "Interfaces entre Psicologia e Esporte: Sobre o sentido de ser atleta", que me fez enxergar uma explicação um tanto quanto interessante, que ora me permito transcrever, com os devidos créditos da autora:Samuel Toledo
"Encontrou-se que o sentido dado pelos atletas à sua prática esportiva é absolutamente singular e que não pode ser definido com precisão, nem aprendido como conceito, por ser particular, de difícil verbalização e, como fenômeno, permanece em constante movimento de revelação e ocultação."
Sem sombra de dúvidas, você percebe que esse tema - sobre nossos fantasmas imaginários - suscita e continuará suscitando discussões acaloradas, pois o sentido de nossas escolhas, enquanto atletas, é absolutamente singular, não conceitual e na mesma intensidade da corrida, está em constante mutação.Lígia Silveira Frascareli
Sendo assim, comecei a construir esta resenha, com esteio nas individualidades de quatro protagonistas: Wilson Bomfim - Samuel Toledo - Ornaldo Fernandes e Dionísio Silvestre - que novamente aceitaram o desafio de correr os 89,2 Kms da Comrades Marathon.
Sem receios de errar, acredito que o único aspecto em comum entre nós quatro, seja a paixão pela corrida e por via de resultado, a devoção pela Comrades.
O primeiro protagonista, Wilson Bomfim, 59 anos, micro empresário, é uma pessoa de fala mansa e extremamente introspectivo, sendo o atleta mais experiente do grupo com suas 08 Comrades. Nesta reta final de preparação, o guerreiro da Equipe Bsb Parque viu-se diante de dois enormes obstáculos (dois tombos em treinos), que lhes causaram repetidas lesões no joelho direito. É notório que seu fantasma imaginário - além da condro malácia do joelho direito (lesão antiga) - ficou por conta da incerteza, se as lesões se agravariam no decorrer da corrida. Seu desejo de completar a prova pela nona oportunidade, representaria estar a um passo do "Green Number Club".
Medalha Bill Rowan |
Nas duas ocasiões - 2012 e 2013 - deixei o sonho escapar por 6 e 16 minutos, respectivamente. Na condição de educador físico (formação acadêmica) e integrante da Equipe Bsb Parque, sempre acreditei que o sonho seria possível, entretanto, não podia esquecer das minhas limitações, bem como, que estávamos falando de 89,2 Kms, repletos de intermináveis subidas e descidas.
Seguindo adiante, o pequeno, destemido e agitado Ornaldo Fernandes, 43 anos, comerciante, é um dos 7 atletas Brasileiros(as), de um universo de 136, que estavam credenciados para largar no Pelotão "A". Em verdade, parece contraditório falar que o seu nível de performance é justamente o seu fantasma imaginário, pois em suas 03 participações na Comrades, trouxe para a Equipe Só Canelas, nada mais do que três medalhas "Bill Rowan", aquela destinada aos que concluem a prova sub 9 horas. Nesta reta final de preparação, reclamou de dores na região ciática, que o impedia de treinamentos prolongados. Sem outra alternativa, seguiu para a África do Sul com a cara e a coragem, para fazer frente ao seu melhor tempo (07:45:29), que foi conquistado logo na sua estréia.
Já o atleta Samuel Toledo, 50 anos, Administrador, com suas 04 Comrades, é o grande estrategista do grupo, camarada extremamente agregador e de fácil comunicação. É uma das figurinhas carimbadas do Parque da cidade no Distrito Federal, onde idealizou e criou a Equipe Bsb Parque. A meu ver, depois de 2010 - quando concluiu a Comrades com o seu melhor desempenho, deixou de participar da prova por receio de não conseguir superar seu recorde pessoal. Apesar de toda a sua metodologia e planejamento, penso que seu fantasma imaginário era justamente o seu melhor tempo na prova (07:59:38) - sem deixar de mencionar suas 04 medalhas "Bill Rowan".
Contrapondo-se aos fantasmas imaginários, além de nossas famílias, um cantinho especial de Brasília estaria, em sua essência singular, irradiando energia positiva em prol dos amigos corredores. Refiro-me à lixeira!!! - Não entendeu? - então explico!!!
Há considerável tempo, alguns amigos de Brasília, logo após o expediente de trabalho, começaram a se reunir no Parque da cidade. Antes de iniciarem a prática esportiva, vários assuntos do cotidiano eram debatidos - futebol, automobilismo, política, corridas - enfim, toda a sorte de assuntos. A resenha cativava-os de tal forma que eles não se deram conta que, naquelas tardes, estavam se reunindo próximo a uma das lixeiras do parque, um local um tanto quanto insalubre, daí, foram batizados: "Corredores da Lixeira".
Antecipadamente, rendo aqui minhas homenagens e agradecimentos à gigante "Equipe dos Corredores da Lixeira", que a meu entender, congrega alguns integrantes das Equipes: Só Canelas (Pedro, Reginaldo, Bruno e Fernandes); Concord (Marcelo Chaves, Marcelo Vidal e Tico); Bsb Parque (Samuel, Ari, Antonio, Márcio, Marcelo Alves, Chico Corredor e Ricardo-Big) e Ricardo (Só Óleos).
Igualmente, não posso deixar de agradecer aos companheiros da Equipe Ultras do Cerrado (Fábio, Luciana, Rodrigo, Lilian, Nelson, Jorge, Ana, Garotinho e Arlete), que por diversas oportunidades, compartilharam treinos e corridas, por este mundão afora.
No dia 28 de maio de 2014 - quarta feira, começava no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, o primeiro capítulo de nossa viagem. Naquele mesmo dia, a porta de saída do país se daria pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Viajar para a cidade de Durban, que fica localizada no litoral do Oceano Índico, é necessário passar por Joanesburgo, que fica na região central da África do Sul.
Em decorrência da longa jornada - (Brasília x Guarulhos + Guarulhos x Joanesburgo + Joanesburgo x Durban ) - queríamos chegar logo aos hotéis e literalmente, correr para a retirada do kit de corrida.
Na quinta feira, 29 de maio de 2014, quando me aproximei do local da "Bonitas Comrades Expo", um filme saudosista começou a rodar em minha mente, lembrei-me de cada detalhe quando entrei e respirei aquela atmosfera pela primeira oportunidade em 2012.
Naquela ocasião, os companheiros mais experientes foram essenciais para desembaraçar e ajustar questões relacionadas ao chip de cronometragem do número 52574 - meu número na Comrades.
Pisar naquele local tem um significado muito especial, jamais imaginei que conseguiria participar e concluir a Comrades Marathon.
Na véspera da corrida, à noite, para controlar a ansiedade, que tal fazer o "check list" da armadura do guerreiro: tênis, chip, meia, bermuda com 2 bolsos, camiseta, números, camisa manga longa (descarte), gorro, boné, óculos, gps, suplementação, garrafinha (fugir da muvuca nos primeiros postos de hidratação).
Penso que tá tudo em Ordem. É chegada a hora do Progresso !@@! Não podemos esquecer da roupa pós corrida, para ser usada no final, no local de reunião dos corredores de outros países - International Tent - mochila, chinelo, toalha, muda de roupa completa e agasalho.
Domingo, 01 de junho de 2014, temperatura agradável em Pietermaritzburg - 11 graus aproximadamente - lá estávamos, prontos para o bom combate e aptos para enfrentar o somatório de nossos fantasmas, Durban era a nossa meta a 89,2 kms de distância.
Logo após concluir mais um trecho, Fernandes encontrou o atleta Adriano Bastos - primeiro Brasileiro na Comrades em 2013 - de modo diverso ao guerreiro da lixeira, Bastos já não reunia energias para seguir adiante, estava entregue ao cansaço.
Por outro lado, o baixinho voador, continuava firme, forte e ritmado - 04:53 min/km - de tal sorte que passou pelo ponto de cronometragem com 05:46:15 horas.
Quando lhe perguntei sobre a sensação de ter ultrapassado o melhor Brasileiro do ano passado, Fernandes me deu a seguinte resposta:
- Silvestre, não fiquei feliz em saber que eu estava muito bem e ele parecia ter quebrado!!!
Da minha parte, passei a administrar o que construí ao longo daqueles 71 km de prova, quando enxergava uma subida mais complicada, corria sua terça parte e caminhava os dois terços finais.
Recordei-me de meus treinos na cidade de Guaíra, Paraná, quando exaustivamente ensaiei a alternância de ritmos (caminhada e corrida), simulando o cansaço que adviria na prova.
Mantive meu ritmo de 05:56 min/km, completando mais um trecho com um minuto acima das 7 horas de prova - 07:01:00 (incrível). Pouco tempo depois, cerca de 10 minutos, Samuel Toledo passaria com - 07:10:12.
Nossa diferença de ritmo era na casa de oito segundos para cada km, uma vez que no somatório geral, ele estava mantendo a média de 06:04 min/km, ou seja, o guerreiro vinha bem próximo.
No passo dos ultramaratonistas experientes, Wilson Bonfim passou pelo km 71, com pouco mais de oito horas - 08:07:11 - seu ritmo de 06:52 min/km - estava dentro do esperado.
A única reclamação dizia respeito a incapacidade de continuar comendo os alimentos, tudo que o amigo tentava comer lhe causava náuseas. O jeito era improvisar e buscar a solução nos líquidos disponibilizados pela organização da prova (água e energade).
Mayville - 82,28 Kms
A região metropolitana de Durban estava repleta de pessoas, ao longo do caminho, inúmeras famílias. Naquele trecho, Fernandes passaria por outro renomado atleta, era Eduardo Calixto - Campeão da BR 135 nos anos 2012 e 2013.
Quando Fernandes passou pelo pórtico de cronometragem, o relógio oficial da prova marcava - 06:48:40 - seu ritmo continuava excelente- 04:58 min/km. Os últimos 7 kms seriam percorridos de alma lavada.
Quanto ao pangaré que escreve a resenha, a questão era de pura matemática, quando me aproximei do tapete de cronometragem, o tempo de prova era - 08:10:03 - o ritmo estava 9 segundos melhor do que eu esperava.
Imediatamente fiz as contas (7 x 6 = 42), pensei: "se até aqui com subidas e descidas consegui manter - 05:58 min/km - vai ser moleza correr 6 x 1 agora".
Eu estava corretíssimo!!! - Em virtude da condição de terreno plano, me entusiasmei e percorri o meu melhor trecho na prova, nem parecia que eu havia percorrido mais de 84 kms.
Nossos dois últimos amigos, Samuel e Bomfim, passaram por Mayville em - 08:40:29 - e 09:36:35 - ritmos de - 06:20 - e - 07:01.
"Sahara Stadium Kingsmead".
Faltava 1 km quando Fernandes olhou para o relógio e percebeu que ainda tinha 10 minutos para o tempo de 07:30 horas de prova. O sonho da medalha de prata começava a se materializar.
Definitivamente, o atleta da equipe Só Canelas realizaria o sonho. Naquele instante, dava-se ao luxo de correr mais cadenciado.
Quando alcançou o último tapete de cronometragem no gramado do "Sahara Stadium Kingsmead", o telão do estádio explodia nas cores verde e amarela.
No ranking entre os atletas brasileiros, Fernandes era o terceiro na prova - 07:25:43 horas de corrida e ritmo de 05:00 min/km.
Em nosso grupo havia um lema: "Quem chegar primeiro aguarda os demais!!!"
Algum tempo depois, me aproximei do estádio, desenrolei a Bandeira do Brasil e agitando-a, percorri todo o gramado, chegando ao derradeiro tapete de cronometragem - 08:50:48 - ritmo 05:57.
Estávamos aguardando Samuel Toledo na tenda internacional, seu filho Lucas era o nosso Assessor para Assuntos Especiais - por intermédio do zap zap - ele estava mantendo contato com alguns "Corredores da Lixeira em Brasília", e nos repassava as informações sobre o desempenho de seu pai.
Não demorou muito para comemorarmos a chegada de mais um da lixeira, com - 09:28:55 - de tempo bruto, Samuel Toledo chegaria "bufando" - seu ritmo: 06:23.
Faltava o mestre Bomfim para a festa dos "Corredores da Lixeira" começar em grande estilo. Olhávamos o relógio e nada do companheiro. A cada amigo que chegava, disparavamos a pergunta - Você viu o Bomfim? - Não!!!
Quase no apagar das luzes, descobrimos que o "espaçoso" havia terminado a corrida e estava tirando uma bela soneca no gramado que fica bem ao lado da tenda internacional - vai entender esse camarada!!! - Seu tempo de corrida - 10:34:37 - seu ritmo 07:07 min/km.
Com as 9 medalhas conquistadas na Comrades, o amigo Wilson Bomfim está a um passo do Green Number Club. A festa vai ser muito boa em 31 de maio de 2015, pois além do terceiro Brasileiro e Sul Americano a receber esta homenagem, teremos também, a Sul Mato-Grossense, Ana Márcia, que será a primeira Brasileira e Sul Americana a receber o tão cobiçado selo verde.
No resumo da ópera, os quatro amigos com suas virtudes e limitações, venceram seus fantasmas imaginários.
A título de ilustração, compilei o gráfico de ritmos dos 4 camaradas. A linha de tendência azul representa o desempenho do corredor nº 58788 - Fernandes; a vermelha a "corridinha mixuruca" do atleta nº 52574 - Silvestre; na cor amarela, temos o ritmo que foi empregado pelo nº 39401 - Samuel; e na cor verde - mensagem subliminar sem igual - o pace de corrida do "Aspira" Bomfim - 30059.
Ultra abraço,
Dionísio Silvestre
Igualmente, não posso deixar de agradecer aos companheiros da Equipe Ultras do Cerrado (Fábio, Luciana, Rodrigo, Lilian, Nelson, Jorge, Ana, Garotinho e Arlete), que por diversas oportunidades, compartilharam treinos e corridas, por este mundão afora.
No dia 28 de maio de 2014 - quarta feira, começava no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, o primeiro capítulo de nossa viagem. Naquele mesmo dia, a porta de saída do país se daria pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Almoço no Aeroporto de Guarulhos |
Em decorrência da longa jornada - (Brasília x Guarulhos + Guarulhos x Joanesburgo + Joanesburgo x Durban ) - queríamos chegar logo aos hotéis e literalmente, correr para a retirada do kit de corrida.
Na quinta feira, 29 de maio de 2014, quando me aproximei do local da "Bonitas Comrades Expo", um filme saudosista começou a rodar em minha mente, lembrei-me de cada detalhe quando entrei e respirei aquela atmosfera pela primeira oportunidade em 2012.
Naquela ocasião, os companheiros mais experientes foram essenciais para desembaraçar e ajustar questões relacionadas ao chip de cronometragem do número 52574 - meu número na Comrades.
Bonitas Comrades Expo |
Na véspera da corrida, à noite, para controlar a ansiedade, que tal fazer o "check list" da armadura do guerreiro: tênis, chip, meia, bermuda com 2 bolsos, camiseta, números, camisa manga longa (descarte), gorro, boné, óculos, gps, suplementação, garrafinha (fugir da muvuca nos primeiros postos de hidratação).
Armadura do guerreiro. |
Confraternização Brasil e Suíça Stephan Keller (25664) e Cavelti Roland (22152) |
Domingo, 01 de junho de 2014, temperatura agradável em Pietermaritzburg - 11 graus aproximadamente - lá estávamos, prontos para o bom combate e aptos para enfrentar o somatório de nossos fantasmas, Durban era a nossa meta a 89,2 kms de distância.
Após o cerimonial, a preocupação era o material displicentemente deixado ao longo da avenida - garrafas cheias e vazias, sacos plásticos, camisas, agasalhos, tocas, luvas e cobertores - tropeçar em qualquer um daqueles objetos poderia representar, além de uma lesão, a possibilidade de ser pisoteado pelos corredores que vinham imediatamente atrás.
Após o ponto de partida, teríamos 06 postos de cronometragem - Lion Park, Halfway, Winston Park, Cowies Hill, Mayville e finalmente o gramado do "Sahara Stadium Kingsmead" em Durban.
Lion Park - 17, 50 Kms
Na escuridão da madrugada, com uma velocidade impressionante - Fernandes que largou no Pelotão "A" - correu os primeiros 17,5 Kms em 01:20:17, ritmo de 04:36. Quando ele passou pelo primeiro posto de cronometragem, faltavam pouco para se atingir "Highest Point" - a 870 metros acima do nível do mar.
Lion Park - 17, 50 Kms
Na escuridão da madrugada, com uma velocidade impressionante - Fernandes que largou no Pelotão "A" - correu os primeiros 17,5 Kms em 01:20:17, ritmo de 04:36. Quando ele passou pelo primeiro posto de cronometragem, faltavam pouco para se atingir "Highest Point" - a 870 metros acima do nível do mar.
Um pouco mais cadenciado, eu e o guru Samuel - que largamos no Pelotão "C" - adotamos postura conservadora, nosso ritmo inicial foi melhorando gradativamente, passamos naquele local cerca de 24 minutos depois do baixinho. O ritmo oscilava entre 05:59 e 06:02. O dia chegava vagarosamente.
Por volta do km 13 - realizei um "pit stop -1" - confirmando que o corpo estava muito bem hidratado, pouco tempo depois, alcancei o guru Samuel.
O guerreiro Bomfim - que largou no Pelotão "D" - encontrou dificuldades na largada, muitos corredores dos "Pelotões F, G e H", resolveram burlar o sistema para largar pouco mais à frente, complicando o começo de prova dos mais rápidos.
Após superar aquele primeiro obstáculo, o mestre passou por Lion Park com 02:01:41, ritmo de 06:58. O clima ainda estava muito agradável para uma corridinha!!!
A tão temida Polly Shorts fica naquele trecho, entretanto, no percurso "down run" ela é favorável aos atletas, ou seja, é uma descida longa de aproximadamente 1,8 km - com perda de altimetria de 110 metros.
Halfway - 44, 97 Kms
No mesmo embalo do primeiro trecho, Fernandes continuava a sentar a bota lá na frente, passou pela metade do percurso em nada menos do que 03:32:49 (incrível), ritmo de prova 04:44 (loucura total). O clima começava a esquentar.
Em dado momento, Fernandes parou para abraçar algumas crianças da Ethembeni School for Handicapped Children, uma escola especial, além de alguns segundos de prova, também perdeu o boné, que foi retirado de sua cabeça por um dos alunos. Por outro lado, saiu daquele local com as energias renovadas para a segunda metade da corrida.
Com a cautela de sempre, passei pela metade do caminho com 04:19:43, meu ritmo de prova havia melhorado, chegando a 05:47 min/km.
O ritual de doação de agasalhos, blusas, tocas e luvas começava a partir daquele trecho.
Ao longo da rodovia, crianças e adultos, aguardavam a doação das roupas dos atletas que até aquele momento, tinha sido a proteção contra o frio da madrugada.
Samuel, que havia feito um "pit stop - 2", estava 06 minutos atrasado, com a parada estratégica, o ritmo do amigo havia diminuído para 05:55 min/km. A meta do sub 9 horas estava sendo cumprido à risca por nós dois.
O velho Bomfa, continuava naquele batidão de sempre, com 04:58:46 de prova, passou pelo mesmo ponto de cronometragem, o ritmo melhorou - 06:39 min/km.
Winston Park - 58, 27 Kms
Winston Park é o divisor de águas no percurso "down run", daquele ponto em diante, prevalecem as descidas. Na minha ótica, a estratégia passa a ser o ponto primordial para se alcançar as metas e sonhos.
O amigo Fernandes, que disse ter corrido sem estratégia, sonhava com a medalha de prata (sub 07:30 horas), assim continuou sua batalha e passou pelo terceiro ponto de cronometragem com 04:42:34 horas de prova, seu ritmo continuava excelente para aquela altura da corrida - ritmo 04:51 min/km.
Meu sonho era um pouco menos audacioso, ao longo dos últimos três anos flertei com a Medalha Bill Rowan (sub 9 horas). Ultrapassei Winston Park com - 05:45:40 horas - após o tiro do canhão, meu ritmo não oscilava - 05:56 min/km.
Naquele momento, algo inusitado aconteceu com o guru Samuel, além da blusa e das luvas que foram doadas na primeira metade do percurso, em razão do desconforto que lhe causava, ele também doou o boné, se livrando de tudo o que lhe trazia desconforto.
Até os saches de gel de carboidrato o companheiro saiu doando. O camarada endoidou de vez, a agonia lhe tirava as energias, contaminando sua corrida.
A passagem pelo posto de cronometragem deu-se com - 05:51:16 - horas do momento da largada, o ritmo continuava na casa de 06:02 minutos para cada km corrido.
O professor Wilson Bomfim, com sua inseparável "playlist", continuava soberano - 06:32: 35 de prova - e ritmo 06:45 min/km. Muito bom!!!
Cowies Hill - 71,00 Kms
Por volta do km 13 - realizei um "pit stop -1" - confirmando que o corpo estava muito bem hidratado, pouco tempo depois, alcancei o guru Samuel.
O guerreiro Bomfim - que largou no Pelotão "D" - encontrou dificuldades na largada, muitos corredores dos "Pelotões F, G e H", resolveram burlar o sistema para largar pouco mais à frente, complicando o começo de prova dos mais rápidos.
Após superar aquele primeiro obstáculo, o mestre passou por Lion Park com 02:01:41, ritmo de 06:58. O clima ainda estava muito agradável para uma corridinha!!!
A tão temida Polly Shorts fica naquele trecho, entretanto, no percurso "down run" ela é favorável aos atletas, ou seja, é uma descida longa de aproximadamente 1,8 km - com perda de altimetria de 110 metros.
Halfway - 44, 97 Kms
No mesmo embalo do primeiro trecho, Fernandes continuava a sentar a bota lá na frente, passou pela metade do percurso em nada menos do que 03:32:49 (incrível), ritmo de prova 04:44 (loucura total). O clima começava a esquentar.
Em dado momento, Fernandes parou para abraçar algumas crianças da Ethembeni School for Handicapped Children, uma escola especial, além de alguns segundos de prova, também perdeu o boné, que foi retirado de sua cabeça por um dos alunos. Por outro lado, saiu daquele local com as energias renovadas para a segunda metade da corrida.
Com a cautela de sempre, passei pela metade do caminho com 04:19:43, meu ritmo de prova havia melhorado, chegando a 05:47 min/km.
O ritual de doação de agasalhos, blusas, tocas e luvas começava a partir daquele trecho.
Ao longo da rodovia, crianças e adultos, aguardavam a doação das roupas dos atletas que até aquele momento, tinha sido a proteção contra o frio da madrugada.
Samuel, que havia feito um "pit stop - 2", estava 06 minutos atrasado, com a parada estratégica, o ritmo do amigo havia diminuído para 05:55 min/km. A meta do sub 9 horas estava sendo cumprido à risca por nós dois.
O velho Bomfa, continuava naquele batidão de sempre, com 04:58:46 de prova, passou pelo mesmo ponto de cronometragem, o ritmo melhorou - 06:39 min/km.
Winston Park - 58, 27 Kms
Winston Park é o divisor de águas no percurso "down run", daquele ponto em diante, prevalecem as descidas. Na minha ótica, a estratégia passa a ser o ponto primordial para se alcançar as metas e sonhos.
O amigo Fernandes, que disse ter corrido sem estratégia, sonhava com a medalha de prata (sub 07:30 horas), assim continuou sua batalha e passou pelo terceiro ponto de cronometragem com 04:42:34 horas de prova, seu ritmo continuava excelente para aquela altura da corrida - ritmo 04:51 min/km.
Meu sonho era um pouco menos audacioso, ao longo dos últimos três anos flertei com a Medalha Bill Rowan (sub 9 horas). Ultrapassei Winston Park com - 05:45:40 horas - após o tiro do canhão, meu ritmo não oscilava - 05:56 min/km.
Naquele momento, algo inusitado aconteceu com o guru Samuel, além da blusa e das luvas que foram doadas na primeira metade do percurso, em razão do desconforto que lhe causava, ele também doou o boné, se livrando de tudo o que lhe trazia desconforto.
Até os saches de gel de carboidrato o companheiro saiu doando. O camarada endoidou de vez, a agonia lhe tirava as energias, contaminando sua corrida.
A passagem pelo posto de cronometragem deu-se com - 05:51:16 - horas do momento da largada, o ritmo continuava na casa de 06:02 minutos para cada km corrido.
O professor Wilson Bomfim, com sua inseparável "playlist", continuava soberano - 06:32: 35 de prova - e ritmo 06:45 min/km. Muito bom!!!
Cowies Hill - 71,00 Kms
Logo após concluir mais um trecho, Fernandes encontrou o atleta Adriano Bastos - primeiro Brasileiro na Comrades em 2013 - de modo diverso ao guerreiro da lixeira, Bastos já não reunia energias para seguir adiante, estava entregue ao cansaço.
Por outro lado, o baixinho voador, continuava firme, forte e ritmado - 04:53 min/km - de tal sorte que passou pelo ponto de cronometragem com 05:46:15 horas.
Quando lhe perguntei sobre a sensação de ter ultrapassado o melhor Brasileiro do ano passado, Fernandes me deu a seguinte resposta:
- Silvestre, não fiquei feliz em saber que eu estava muito bem e ele parecia ter quebrado!!!
Da minha parte, passei a administrar o que construí ao longo daqueles 71 km de prova, quando enxergava uma subida mais complicada, corria sua terça parte e caminhava os dois terços finais.
Mantive meu ritmo de 05:56 min/km, completando mais um trecho com um minuto acima das 7 horas de prova - 07:01:00 (incrível). Pouco tempo depois, cerca de 10 minutos, Samuel Toledo passaria com - 07:10:12.
Nossa diferença de ritmo era na casa de oito segundos para cada km, uma vez que no somatório geral, ele estava mantendo a média de 06:04 min/km, ou seja, o guerreiro vinha bem próximo.
No passo dos ultramaratonistas experientes, Wilson Bonfim passou pelo km 71, com pouco mais de oito horas - 08:07:11 - seu ritmo de 06:52 min/km - estava dentro do esperado.
A única reclamação dizia respeito a incapacidade de continuar comendo os alimentos, tudo que o amigo tentava comer lhe causava náuseas. O jeito era improvisar e buscar a solução nos líquidos disponibilizados pela organização da prova (água e energade).
Mayville - 82,28 Kms
A região metropolitana de Durban estava repleta de pessoas, ao longo do caminho, inúmeras famílias. Naquele trecho, Fernandes passaria por outro renomado atleta, era Eduardo Calixto - Campeão da BR 135 nos anos 2012 e 2013.
Quando Fernandes passou pelo pórtico de cronometragem, o relógio oficial da prova marcava - 06:48:40 - seu ritmo continuava excelente- 04:58 min/km. Os últimos 7 kms seriam percorridos de alma lavada.
Quanto ao pangaré que escreve a resenha, a questão era de pura matemática, quando me aproximei do tapete de cronometragem, o tempo de prova era - 08:10:03 - o ritmo estava 9 segundos melhor do que eu esperava.
Imediatamente fiz as contas (7 x 6 = 42), pensei: "se até aqui com subidas e descidas consegui manter - 05:58 min/km - vai ser moleza correr 6 x 1 agora".
Eu estava corretíssimo!!! - Em virtude da condição de terreno plano, me entusiasmei e percorri o meu melhor trecho na prova, nem parecia que eu havia percorrido mais de 84 kms.
Nossos dois últimos amigos, Samuel e Bomfim, passaram por Mayville em - 08:40:29 - e 09:36:35 - ritmos de - 06:20 - e - 07:01.
"Sahara Stadium Kingsmead".
Faltava 1 km quando Fernandes olhou para o relógio e percebeu que ainda tinha 10 minutos para o tempo de 07:30 horas de prova. O sonho da medalha de prata começava a se materializar.
Definitivamente, o atleta da equipe Só Canelas realizaria o sonho. Naquele instante, dava-se ao luxo de correr mais cadenciado.
Quando alcançou o último tapete de cronometragem no gramado do "Sahara Stadium Kingsmead", o telão do estádio explodia nas cores verde e amarela.
No ranking entre os atletas brasileiros, Fernandes era o terceiro na prova - 07:25:43 horas de corrida e ritmo de 05:00 min/km.
Em nosso grupo havia um lema: "Quem chegar primeiro aguarda os demais!!!"
Comrades Marathon 2014 Medalha Bill Rowan |
Estávamos aguardando Samuel Toledo na tenda internacional, seu filho Lucas era o nosso Assessor para Assuntos Especiais - por intermédio do zap zap - ele estava mantendo contato com alguns "Corredores da Lixeira em Brasília", e nos repassava as informações sobre o desempenho de seu pai.
Não demorou muito para comemorarmos a chegada de mais um da lixeira, com - 09:28:55 - de tempo bruto, Samuel Toledo chegaria "bufando" - seu ritmo: 06:23.
Faltava o mestre Bomfim para a festa dos "Corredores da Lixeira" começar em grande estilo. Olhávamos o relógio e nada do companheiro. A cada amigo que chegava, disparavamos a pergunta - Você viu o Bomfim? - Não!!!
Quase no apagar das luzes, descobrimos que o "espaçoso" havia terminado a corrida e estava tirando uma bela soneca no gramado que fica bem ao lado da tenda internacional - vai entender esse camarada!!! - Seu tempo de corrida - 10:34:37 - seu ritmo 07:07 min/km.
Com as 9 medalhas conquistadas na Comrades, o amigo Wilson Bomfim está a um passo do Green Number Club. A festa vai ser muito boa em 31 de maio de 2015, pois além do terceiro Brasileiro e Sul Americano a receber esta homenagem, teremos também, a Sul Mato-Grossense, Ana Márcia, que será a primeira Brasileira e Sul Americana a receber o tão cobiçado selo verde.
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No resumo da ópera, os quatro amigos com suas virtudes e limitações, venceram seus fantasmas imaginários.
Gráfico de ritmos - Comrades Marathon 2014 |
Ultra abraço,
Dionísio Silvestre
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