domingo, 8 de junho de 2014

Fantasmas imaginários - Comrades Marathon 2014

Por diversas vezes, já ouvi o comentário: "corredor é bicho neurótico". Na condição de bom ouvinte, jamais me contrapus a esta linha de pensamento, até porque, penso que seja uma neurose do bem, se é que isto existe!!!

Na manhã do dia 25 de maio de 2014 - domingo - logo após o término de um treino de 16 Km, iniciei uma conversa com minha esposa, narrando sobre o meu nível de ansiedade, naquelas últimas semanas de preparação para a corrida da África do Sul, falava dos meus receios e cuidados na reta final de preparação, em verdade, falava de meus fantasmas imaginários.

Ao tempo em que debatia o assunto, quase que de forma mecânica, porque não dizer, robotizada, alcancei uma bolsa de gelo reutilizável e sem muitas cerimônias, iniciei uma espécie de fisioterapia preventiva na junção mio tendínea, na região da panturrilha; uma parte do meu corpo que já sofreu alguns traumas.

No dia anterior - sábado - liguei para comentar com o amigo Samuel Toledo, sobre algumas precauções na reta final de preparação para a Comrades. Ele por sua vez, não deixou o assunto passar em branco e também assumiu o seu nível de preocupação:
"Silvestre!!! - pode ser neurose minha, mas um dos maiores receios que tenho é quanto à infecção da garganta, evito contato com pessoas com a garganta infeccionada.
Faço isto em decorrência de um processo natural que ocorre em ultramaratonistas, que é a baixa na resistência orgânica, na fase mais crítica do treinamento".
Samuel Toledo
No propósito de ilustrar o relato, embrenhei-me em alguns trabalhos acadêmicos - afetos à psicologia esportiva - quando então, encontrei uma dissertação de mestrado, assinada por Ligia Silveira Frascareli, sob o título: "Interfaces entre Psicologia e Esporte: Sobre o sentido de ser atleta", que me fez enxergar uma explicação um tanto quanto interessante, que ora me permito transcrever, com os devidos créditos da autora:
"Encontrou-se que o sentido dado pelos atletas à sua prática esportiva é absolutamente singular e que não pode ser definido com precisão, nem aprendido como conceito, por ser particular, de difícil verbalização e, como fenômeno, permanece em constante movimento de revelação e ocultação." 
Lígia Silveira Frascareli
Sem sombra de dúvidas, você percebe que esse tema - sobre nossos fantasmas imaginários - suscita e continuará suscitando discussões acaloradas, pois o sentido de nossas escolhas, enquanto atletas, é absolutamente singular, não conceitual e na mesma intensidade da corrida, está em constante mutação. 

Sendo assim, comecei a construir esta resenha, com esteio nas individualidades de quatro protagonistas: Wilson Bomfim - Samuel Toledo - Ornaldo Fernandes e Dionísio Silvestre - que novamente aceitaram o desafio de correr os 89,2 Kms da Comrades Marathon.

Sem receios de errar, acredito que o único aspecto em comum entre nós quatro, seja a paixão pela corrida e por via de resultado, a devoção pela Comrades.

O primeiro protagonista, Wilson Bomfim, 59 anos, micro empresário, é uma pessoa de fala mansa e extremamente introspectivo, sendo o atleta mais experiente do grupo com suas 08 Comrades. Nesta reta final de preparação, o guerreiro da Equipe Bsb Parque viu-se diante de dois enormes obstáculos (dois tombos em treinos), que lhes causaram repetidas lesões no joelho direito. É notório que seu fantasma imaginário - além da condro malácia do joelho direito (lesão antiga) - ficou por conta da incerteza, se as lesões se agravariam no decorrer da corrida. Seu desejo de completar a prova pela nona oportunidade, representaria estar a um passo do "Green Number Club".

Medalha Bill Rowan
No sentido oposto, eu, Dionísio Silvestre, 50 anos, militar, sou o pangaré de menor experiência do grupo, com apenas duas Comrades. Penso que a comunicação é o meu maior predicativo, pois adoro uma boa prosa. Apesar de não ter enfrentado obstáculos físicos na reta final, na condição de fantasma imaginário - elegi a meta de correr a Comrades sub 9 horas.

Nas duas ocasiões - 2012 e 2013 - deixei o sonho escapar por 6 e 16 minutos, respectivamente. Na condição de educador físico (formação acadêmica) e integrante da Equipe Bsb Parque, sempre acreditei que o sonho seria possível, entretanto, não podia esquecer das minhas limitações, bem como, que estávamos falando de 89,2 Kms, repletos de intermináveis subidas e descidas.



Seguindo adiante, o pequeno, destemido e agitado Ornaldo Fernandes, 43 anos, comerciante, é um dos 7 atletas Brasileiros(as), de um universo de 136, que estavam credenciados para largar no Pelotão "A". Em verdade, parece contraditório falar que o seu nível de performance é justamente o seu fantasma imaginário, pois em suas 03 participações na Comrades, trouxe para a Equipe Só Canelas, nada mais do que três medalhas "Bill Rowan", aquela destinada aos que concluem a prova sub 9 horas. Nesta reta final de preparação, reclamou de dores na região ciática, que o impedia de treinamentos prolongados. Sem outra alternativa, seguiu para a África do Sul com a cara e a coragem, para fazer frente ao seu melhor tempo (07:45:29), que foi conquistado logo na sua estréia.

Já o atleta Samuel Toledo, 50 anos, Administrador, com suas 04 Comrades, é o grande estrategista do grupo, camarada extremamente agregador e de fácil comunicação. É uma das figurinhas carimbadas do Parque da cidade no Distrito Federal, onde idealizou e criou a Equipe Bsb Parque. A meu ver, depois de 2010 - quando concluiu a Comrades com o seu melhor desempenho, deixou de participar da prova por receio de não conseguir superar seu recorde pessoal. Apesar de toda a sua metodologia e planejamento, penso que seu fantasma imaginário era justamente o seu melhor tempo na prova (07:59:38) - sem deixar de mencionar suas 04 medalhas "Bill Rowan".

Contrapondo-se aos fantasmas imaginários, além de nossas famílias, um cantinho especial de Brasília estaria, em sua essência singular, irradiando energia positiva em prol dos amigos corredores. Refiro-me à lixeira!!! - Não entendeu? - então explico!!!

Há considerável tempo, alguns amigos de Brasília, logo após o expediente de trabalho, começaram a se reunir no Parque da cidade. Antes de iniciarem a prática esportiva, vários assuntos do cotidiano eram debatidos - futebol, automobilismo, política, corridas - enfim, toda a sorte de assuntos. A resenha cativava-os de tal forma que eles não se deram conta que, naquelas tardes, estavam se reunindo próximo a uma das lixeiras do parque, um local um tanto quanto insalubre, daí, foram batizados: "Corredores da Lixeira".

Antecipadamente, rendo aqui minhas homenagens e agradecimentos à gigante "Equipe dos Corredores da Lixeira", que a meu entender, congrega alguns integrantes das Equipes: Só Canelas (Pedro, Reginaldo, Bruno e Fernandes); Concord (Marcelo Chaves, Marcelo Vidal e Tico); Bsb Parque (Samuel, Ari, Antonio, Márcio, Marcelo Alves, Chico Corredor e Ricardo-Big) e Ricardo (Só Óleos).

Igualmente, não posso deixar de agradecer aos companheiros da Equipe Ultras do Cerrado (Fábio, Luciana, Rodrigo, Lilian, Nelson, Jorge, Ana, Garotinho e Arlete), que por diversas oportunidades, compartilharam treinos e corridas, por este mundão afora.

No dia 28 de maio de 2014 - quarta feira, começava no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, o primeiro capítulo de nossa viagem. Naquele mesmo dia, a porta de saída do país se daria pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Almoço no Aeroporto de Guarulhos
Viajar para a cidade de Durban, que fica localizada no litoral do Oceano Índico, é necessário passar por Joanesburgo, que fica na região central da África do Sul.

Em decorrência da longa jornada - (Brasília x Guarulhos + Guarulhos x Joanesburgo + Joanesburgo x Durban ) - queríamos chegar logo aos hotéis e literalmente, correr para a retirada do kit de corrida.

Na quinta feira, 29 de maio de 2014, quando me aproximei do local da "Bonitas Comrades Expo", um filme saudosista começou a rodar em minha mente, lembrei-me de cada detalhe quando entrei e respirei aquela atmosfera pela primeira oportunidade em 2012.

Naquela ocasião, os companheiros mais experientes foram essenciais para desembaraçar e ajustar questões relacionadas ao chip de cronometragem do número 52574 - meu número na Comrades.
Bonitas Comrades Expo
Pisar naquele local tem um significado muito especial, jamais imaginei que conseguiria participar e concluir a Comrades Marathon.

Na véspera da corrida, à noite, para controlar a ansiedade, que tal fazer o "check list" da armadura do guerreiro: tênis, chip, meia, bermuda com 2 bolsos, camiseta, números, camisa manga longa (descarte), gorro, boné, óculos, gps, suplementação, garrafinha (fugir  da muvuca nos primeiros postos de hidratação).
Armadura do guerreiro.
Penso que tá tudo em Ordem. É chegada a hora do Progresso !@@! Não podemos esquecer da roupa pós corrida, para ser usada no final, no local de reunião dos corredores de outros países - International Tent - mochila, chinelo, toalha, muda de roupa completa e agasalho.
Confraternização Brasil e Suíça
Stephan Keller (25664)  e Cavelti Roland (22152)

Domingo, 01 de junho de 2014, temperatura agradável em Pietermaritzburg - 11 graus aproximadamente - lá estávamos, prontos para o bom combate e aptos para enfrentar o somatório de nossos fantasmas, Durban era a nossa meta a 89,2 kms de distância.
Após o cerimonial, a preocupação era o material displicentemente deixado ao longo da avenida - garrafas cheias e vazias, sacos plásticos, camisas, agasalhos, tocas, luvas e cobertores - tropeçar em qualquer um daqueles objetos poderia representar, além de uma lesão, a possibilidade de ser pisoteado pelos corredores que vinham imediatamente atrás.

Após o ponto de partida, teríamos 06 postos de cronometragem - Lion Park, Halfway, Winston Park, Cowies Hill, Mayville e finalmente o gramado do "Sahara Stadium Kingsmead" em Durban.

Lion Park - 17, 50 Kms

Na escuridão da madrugada, com uma velocidade impressionante - Fernandes que largou no Pelotão "A" - correu os primeiros 17,5 Kms em 01:20:17, ritmo de 04:36. Quando ele passou pelo primeiro posto de cronometragem, faltavam pouco para se atingir "Highest Point" - a 870 metros acima do nível do mar. 

Um pouco mais cadenciado, eu e o guru Samuel - que largamos no Pelotão "C" - adotamos postura conservadora, nosso ritmo inicial foi melhorando gradativamente, passamos naquele local cerca de 24 minutos depois do baixinho. O ritmo oscilava entre 05:59 e 06:02. O dia chegava vagarosamente.

Por volta do km 13 - realizei um "pit stop -1" - confirmando que o corpo estava muito bem hidratado, pouco tempo depois, alcancei o guru Samuel.

O guerreiro Bomfim - que largou no Pelotão "D" - encontrou dificuldades na largada, muitos corredores dos "Pelotões F, G e H", resolveram burlar o sistema para largar pouco mais à frente, complicando o começo de prova dos mais rápidos.

Após superar aquele primeiro obstáculo, o mestre passou por Lion Park com 02:01:41, ritmo de 06:58. O clima ainda estava muito agradável para uma corridinha!!!

A tão temida Polly Shorts fica naquele trecho, entretanto, no percurso "down run" ela é favorável aos atletas, ou seja, é uma descida longa de aproximadamente 1,8 km - com perda de altimetria de 110 metros. 

Halfway - 44, 97 Kms

No mesmo embalo do primeiro trecho, Fernandes continuava a sentar a bota lá na frente, passou pela metade do percurso em nada menos do que 03:32:49 (incrível), ritmo de prova 04:44 (loucura total). O clima começava a esquentar.

Em dado momento, Fernandes parou para abraçar algumas crianças da Ethembeni School for Handicapped Children, uma escola especial, além de alguns segundos de prova, também perdeu o boné, que foi retirado de sua cabeça por um dos alunos. Por outro lado, saiu daquele local com as energias renovadas para a segunda metade da corrida.

Com a cautela de sempre, passei pela metade do caminho com 04:19:43, meu ritmo de prova havia melhorado, chegando a 05:47 min/km.
O ritual de doação de agasalhos, blusas, tocas e luvas começava a partir daquele trecho.

Ao longo da rodovia, crianças e adultos, aguardavam a doação das roupas dos atletas que até aquele momento, tinha sido a proteção contra o frio da madrugada.

Samuel, que havia feito um "pit stop - 2", estava 06 minutos atrasado, com a parada estratégica, o ritmo do amigo havia diminuído para 05:55 min/km. A meta do sub 9 horas estava sendo cumprido à risca por nós dois.

O velho Bomfa, continuava naquele batidão de sempre, com 04:58:46 de prova, passou pelo mesmo ponto de cronometragem, o ritmo melhorou - 06:39 min/km.

Winston Park - 58, 27 Kms

Winston Park é o divisor de águas no percurso "down run", daquele ponto em diante, prevalecem as descidas. Na minha ótica, a estratégia passa a ser o ponto primordial para se alcançar as metas e sonhos.

O amigo Fernandes, que disse ter corrido sem estratégia, sonhava com a medalha de prata (sub 07:30 horas), assim continuou sua batalha e passou pelo terceiro ponto de cronometragem com 04:42:34 horas de prova, seu ritmo continuava excelente para aquela altura da corrida - ritmo 04:51 min/km.

Meu sonho era um pouco menos audacioso, ao longo dos últimos três anos flertei com a Medalha Bill Rowan (sub 9 horas). Ultrapassei Winston Park com - 05:45:40 horas - após o tiro do canhão, meu ritmo não oscilava - 05:56 min/km.
Naquele momento, algo inusitado aconteceu com o guru Samuel, além da blusa e das luvas que foram doadas na primeira metade do percurso, em razão do desconforto que lhe causava, ele também doou o boné, se livrando de tudo o que lhe trazia desconforto.

Até os saches de gel de carboidrato o companheiro saiu doando. O camarada endoidou de vez, a agonia lhe tirava as energias, contaminando sua corrida.

A passagem pelo posto de cronometragem deu-se com - 05:51:16 - horas do momento da largada, o ritmo continuava na casa de 06:02 minutos para cada km corrido.

O professor Wilson Bomfim, com sua inseparável "playlist", continuava soberano  - 06:32: 35 de prova - e ritmo 06:45 min/km. Muito bom!!!

Cowies Hill - 71,00 Kms

Logo após concluir mais um trecho, Fernandes encontrou o atleta Adriano Bastos - primeiro Brasileiro na Comrades em 2013 - de modo diverso ao guerreiro da lixeira, Bastos já não reunia energias para seguir adiante, estava entregue ao cansaço.

Por outro lado, o baixinho voador, continuava firme, forte e ritmado - 04:53 min/km - de tal sorte que passou pelo ponto de cronometragem com 05:46:15 horas.

Quando lhe perguntei sobre a sensação de ter ultrapassado o melhor Brasileiro do ano passado, Fernandes me deu a seguinte resposta:

- Silvestre, não fiquei feliz em saber que eu estava muito bem e ele parecia ter quebrado!!!

Da minha parte, passei a administrar o que construí ao longo daqueles 71 km de prova, quando enxergava uma subida mais complicada, corria sua terça parte e caminhava os dois terços finais.
Recordei-me de meus treinos na cidade de Guaíra, Paraná, quando exaustivamente ensaiei a alternância de ritmos (caminhada e corrida), simulando o cansaço que adviria na prova.

Mantive meu ritmo de 05:56 min/km, completando mais um trecho com um minuto acima das 7 horas de prova - 07:01:00 (incrível). Pouco tempo depois, cerca de 10 minutos, Samuel Toledo passaria com - 07:10:12.

Nossa diferença de ritmo era na casa de oito segundos para cada km, uma vez que no somatório geral, ele estava mantendo a média de 06:04 min/km, ou seja, o guerreiro vinha bem próximo.

No passo dos ultramaratonistas experientes, Wilson Bonfim passou pelo km 71, com pouco mais de oito horas - 08:07:11 - seu ritmo de 06:52 min/km - estava dentro do esperado.

A única reclamação dizia respeito a incapacidade de continuar comendo os alimentos, tudo que o amigo tentava comer lhe causava náuseas. O jeito era improvisar e buscar a solução nos líquidos disponibilizados pela organização da prova (água e energade).

Mayville - 82,28 Kms

A região metropolitana de Durban estava repleta de pessoas, ao longo do caminho, inúmeras famílias. Naquele trecho, Fernandes passaria por outro renomado atleta, era Eduardo Calixto - Campeão da BR 135 nos anos 2012 e 2013.

Quando Fernandes passou pelo pórtico de cronometragem, o relógio oficial da prova marcava - 06:48:40 - seu ritmo continuava excelente- 04:58 min/km. Os últimos 7 kms seriam percorridos de alma lavada.

Quanto ao pangaré que escreve a resenha, a questão era de pura matemática, quando me aproximei do tapete de cronometragem, o tempo de prova era - 08:10:03 - o ritmo estava 9 segundos melhor do que eu esperava.
Imediatamente fiz as contas (7 x 6 = 42), pensei: "se até aqui com subidas e descidas consegui manter - 05:58 min/km - vai ser moleza correr 6 x 1 agora".

Eu estava corretíssimo!!! - Em virtude da condição de terreno plano, me entusiasmei e percorri o meu melhor trecho na prova, nem parecia que eu havia percorrido mais de 84 kms.

Nossos dois últimos amigos, Samuel e Bomfim, passaram por Mayville em - 08:40:29 - e 09:36:35 - ritmos de - 06:20 - e - 07:01.

"Sahara Stadium Kingsmead".

Faltava 1 km quando Fernandes olhou para o relógio e percebeu que ainda tinha 10 minutos para o tempo de 07:30 horas de prova. O sonho da medalha de prata começava a se materializar.

Definitivamente, o atleta da equipe Só Canelas realizaria o sonho. Naquele instante, dava-se ao luxo de correr mais cadenciado.

Quando alcançou o último tapete de cronometragem no gramado do "Sahara Stadium Kingsmead", o telão do estádio explodia nas cores verde e amarela.
No ranking entre os atletas brasileiros, Fernandes era o terceiro na prova - 07:25:43 horas de corrida e ritmo de 05:00 min/km.

Em nosso grupo havia um lema: "Quem chegar primeiro aguarda os demais!!!"
Comrades Marathon 2014
Medalha Bill Rowan
Algum tempo depois, me aproximei do estádio, desenrolei a Bandeira do Brasil e agitando-a, percorri todo o gramado, chegando ao derradeiro tapete de cronometragem - 08:50:48 - ritmo 05:57.
Estávamos aguardando Samuel Toledo na tenda internacional, seu filho Lucas era o nosso Assessor para Assuntos Especiais - por intermédio do zap zap - ele estava mantendo contato com alguns "Corredores da Lixeira em Brasília", e nos repassava as informações sobre o desempenho de seu pai.
Não demorou muito para comemorarmos a chegada de mais um da lixeira, com - 09:28:55 - de tempo bruto, Samuel Toledo chegaria "bufando" - seu ritmo: 06:23.
Faltava o mestre Bomfim para a festa dos "Corredores da Lixeira" começar em grande estilo. Olhávamos o relógio e nada do companheiro. A cada amigo que chegava, disparavamos a pergunta - Você viu o Bomfim? - Não!!!
Quase no apagar das luzes, descobrimos que o "espaçoso" havia terminado a corrida e estava tirando uma bela soneca no gramado que fica bem ao lado da tenda internacional - vai entender esse camarada!!! - Seu tempo de corrida - 10:34:37 - seu ritmo 07:07 min/km.

Com as 9 medalhas conquistadas na Comrades, o amigo Wilson Bomfim está a um passo do Green Number Club. A festa vai ser muito boa em 31 de maio de 2015, pois além do terceiro Brasileiro e Sul Americano a receber esta homenagem, teremos também, a Sul Mato-Grossense, Ana Márcia, que será a primeira Brasileira e Sul Americana a receber o tão cobiçado selo verde.


!!@@!!
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No resumo da ópera, os quatro amigos com suas virtudes e limitações, venceram seus fantasmas imaginários.


Gráfico de ritmos - Comrades Marathon 2014
A título de ilustração, compilei o gráfico de ritmos dos 4 camaradas. A linha de tendência azul representa o desempenho do corredor nº 58788 - Fernandes; a vermelha a "corridinha mixuruca" do atleta nº 52574 - Silvestre; na cor amarela, temos o ritmo que foi empregado pelo nº 39401 - Samuel; e na cor verde - mensagem subliminar sem igual - o pace de corrida do "Aspira" Bomfim - 30059.

Ultra abraço,

Dionísio Silvestre




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sexta-feira, 6 de junho de 2014

101 Brasileiros(as) concluíram a Comrades 2014

Prometi que seriam 03 relatos sobre nossas aventuras em terras sul africanas, pois bem, esta é a segunda postagem de um universo de três. Nela comento sobre as marcas pessoais dos amigos que estiveram participando da Comrades Marathon em 2014.

Alguns desses amigos insistem em ponderar: "não existem coincidências, existe o destino". Hoje, em homenagem a esses incrédulos, como linha editorial do relato, vou adotar esta corrente de pensamento.

No último domingo, 01 de junho de 2014, exatamente às 05:30 horas da matina, Brasileiros (homens e mulheres), saíram correndo de Pietermaritzburg, com destino a Durban, na África do Sul. Exatos 89, 2 kms de subidas e descidas deveriam ser percorridos naquela jornada.

Poucas semanas antes de nosso embarque, havia notícias que éramos 159 corredores; um pouco mais adiante e próximo ao dia da corrida, este número ficou reduzido a 136 atletas.

Não consigo ter um juízo de valor pleno, más naquele pequeno grupo, haviam 101 atletas, pré-destinados(as) a deixarem suas marcas pessoais na Rainha das Ultramaratonas.

Como diria os meus filhos Juliane e Erick - em mais uma oportunidade, juntos e misturados eles venceram a Comrades Marathon em 2014.

Diferente dos dálmatas do filme, as marcas desses abnegados corredores, mudam de cor com o passar dos anos, são marcas que começam com a cor da paixão (roxa), lentamente são convertidas na marca do amadurecimento (amarelo), contrariam a natureza e sabiamente fazem a migração para a cor da esperança (verde).

Para que o leitor tenha a exata noção do que acabei de escrever, criei uma escala para demonstrar como se dá esta transição ao longo dos anos de Comrades.

A cor roxa é a cor da paixão, a meu ver representa os corredores que estão entre 01 e 03 medalhas na prova, independente do seu tempo de corrida.

A cor amarela é a cor do amadurecimento, penso que os atletas que possuem entre 04 e 06 medalhas se ajustam perfeitamente a este estágio, estejam eles entre os primeiros ou entre os derradeiros.

A cor verde é a cor da esperança, imagino que aqueles atletas entre 7 e 9 provas, são perfeitos para carregarem essa marca, uma vez que: veladamente sonham com o Green Number Club.
André Arruda
Green Number em 2014
Antes que alguém me pergunte sobre qual será a cor para representar os atletas com 10 ou mais medalhas, digo que ainda não consegui estabelecer a cor ideal para representá-los, uma vez que eles congregam todos os predicativos, ou seja, ao tempo em que são apaixonados pela prova, são maduros na condução do ritmo de corrida e sobretudo, nutrem a esperança de novas medalhas no currículo.

Não havendo consenso, para aqueles que correram 10 ou mais provas, Nato Amaral (12) e André Arruda (10), vou recorrer a "estrela", uma vez que eles possuem um brilho tão intenso quanto às suas respectivas façanhas na Comrades Marathon.

Antes de falarmos sobre os resultados dos brasileiros(as) na Comrades 2014 (marcas cronológicas), vou aproveitar para inserir algumas imagens que foram captadas no decorrer de nossa estada na África do Sul. 
Bonitas Comrades Expo - 31.05.2014
No terceiro dia da Bonitas Comrades Expo - sábado, cliquei seis amigos de diversas partes do Brasil: Ana (Mato Grosso do Sul), Ésio (Pernambuco); Samuel (Distrito Federal); Mariano, Júlio e Eduardo (Minas Gerais).
Retirada do Kit
Área Internacional
No primeiro dia de entrega dos kits - quinta-feira - enquanto aguardávamos na fila da área internacional (outros países), consegui capturar a imagem de dois veteranos na Comrades. No centro da imagem estão Samuel Toledo (5) e Wilson Bomfim (9).
Bsb Parque e Só Canelas
A imagem acima foi capturada logo após o término da prova, de camisa branca está Samuel Toledo (5) mostrando com muito entusiamo a medalha de bronze (09:28:55); ao centro e de camisa azul está Ornaldo Fernandes (4), Equipe Só Canelas, exibindo a tão desejada medalha de prata (07:25:43), destinada aos que terminam a prova sub 07:30 horas. O Pangaré que escreve a resenha conseguiu a tão desejada medalha de prata e bronze (08:50:48).

Amigos, Ornaldo Fernandes estava pré-destinado a ganhar a primeira medalha de prata de um corredor do Distrito Federal. Nunca é demais lembrar, com aquela marca, ele ficou entre os três melhores atletas Brasileiros na Comrades em 2014. Parabéns ao gigante pequeno quatorze, você é o orgulho dos corredores da lixeira.

Ademais, do maravilhoso Rio de Janeiro, não posso deixar de mencionar os integrantes da Equipe Filhos do Vento, Josué e Luís Felipe; do parceiro Rodrigo e esposa Nadjala, da Assessoria Esportiva Speed; da galera do Chão do Aterro - Álvaro Reis e Valdir.
Bonitas Comrades Expo
Nadjala, Rodrigo, Josué,
Luís Felipe, Valdir e Álvaro
Na noite de segunda-feira, essa moçada de sorriso fácil, comemorava o aniversário de dois integrantes: Josué e Nadjala. Vida longa aos corredores cariocas!!@@!!

Para os amigos que gostam de conferir os vídeos da prova de 2014, recomendo uma visita ao espaço criado por Álvaro Reis - back-to-back em 2014 - http://www.alvaroreis.com.br/

Na Bonitas Comrades Expo também conheci Francisco Goes (11:53:44), Fortaleza, Ceará. Nosso encontro foi surpreendente, ele havia lido a postagem do ano passado, onde comentei sobre a lesão do tendão do tibial posterior.

Foi muito gratificante saber que o relato o auxiliou na recuperação de uma lesão semelhante e o ajudou a manter os treinamentos. Um forte abraço ao amigo, lembrei-me de suas palavras no decorrer da prova.

Do estado do Rio Grande do Sul encontrei o casal Gilmar Signori e Daniela Signori, a sintonia deste casal de Caxias do Sul é de tal forma que em 2013 eles terminaram a prova com o mesmo tempo (até os segundos coincidiram), já em 2014, eles não foram tão precisos, Gilmar terminou 1 (um) mísero segundo a frente de Daniela (é brincadeira essa parceria!!!). 

Do estado de Minas Gerais, podemos falar dos amigos de Belo Horizonte: Francisco Porto e esposa Andréa Ferreira, Márcio, André e Rosimeire. Nossos encontros começaram a partir do  almoço da quarta-feira no Aeroporto de Guarulhos.

Do litoral paulista recordamos dos camaradas Douglas Santos (08:09:17) e Carlos (Praia Grande). Ainda do estado de São Paulo, Zilma, José Cerqueira e Carlos Cunha, a quem tive o prazer de compartilhar os últimos kms da prova.

Agradeço ao amigo Carlos Cunha (08:46:07) pela boa prosa, pelo entusiasmo e principalmente, pela energia positiva no último trecho da prova. Show de bola garoto!!!

Quanto ao Douglas Santos, não me esqueço da cena dele tentando filmar os macacos que ficam na orla da praia, em Durban - hilário - acompanhe o vídeo abaixo.



De Curitiba, Paraná, temos o amigão Mauri Pereira, que mesmo residindo no Paraná, ainda ostenta as cores da Equipe Quero-Quero. Por intermédio deste parceiro, conhecemos o Jefrey, de Capetown, África do Sul.

Antes e durante a Comrades, tentei encontrar o Ricardo Almeida - Blog Rumo a Comrades - para um belo papo de blogueiros, não obtive êxito, entretanto, o destino colocou-nos lado a lado no desembarque no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Apesar do curto espaço, na conversa foi possível perceber que o camarada vai tentar a back to back em 2015. Vida longa parceiro!!!

Ultra abraço,

Dionísio Silvestre



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101 Ultramaratonistas Brasileiros(as) venceram a Comrades em 2014.

Colocação Número Nome Tempo
1 23436 Christiano Bulka 06:57:34
2 20452 Farnese Da Silva 07:03:35
3 58788 Ornaldo Fernandes Lima 07:25:43
4 16664 Eduardo Silverio 07:27:32
5 13000 Jacques Fernandes 07:31:47
6 50432 Francisco Porto 08:00:13
7 23234 Daniel Vist 08:06:33
8 23242 Douglas Santos Pereira 08:09:17
9 19397 Leandro Carvalho 08:23:26
10 29696 Adriano Bastos 08:23:27
11 20951 Joao Dami 08:43:15
12 14719 Eduardo Castanheira 08:44:18
13 58821 Carlos Cunha 08:46:07
14 52574 Dionisio Silvestre 08:50:48
15 17419 David Oliveira Lopes Da Silva 08:55:29
16 25960 Ivaltemir Carrijo 08:55:36
17 21476 Fernando Schwery 08:57:17
18 58822 Jose Cerqueira Da Silva 08:59:17
19 23438 Cecilia Abe 09:10:38
20 17481 Marlon Fontana 09:23:33
21 29975 Jefferson Neves 09:28:28
22 39401 Samuel Toledo 09:28:55
23 13527 Luiz Santos 09:32:38
24 13985 Nadjala De Oliveira Richard João 09:33:22
25 14399 Marcello Lauer 09:35:48
26 14789 Jose Luiz Campos 09:40:04
27 49566 Marco Ribeiro 09:40:04
28 10762 Andre Arruda 09:40:04
29 15243 Alvaro Reis 09:40:45
30 12583 André Fernando Rocha 09:47:48
31 11234 Gustavo Jobim 09:51:06
32 43636 Zilma Rodrigues Da Silva 09:52:18
33 31684 Rosimeire Assis 09:52:18
34 21706 Leonardo Vilela 09:52:42
35 40633 Paulo Ortega 09:54:24
36 10147 Ricardo Mendes 09:55:03
37 22087 Ricardo Hideki Nishizaki 10:01:32
38 43660 Gracco Lopes 10:05:57
39 12857 Wilson Novais 10:09:06
40 16572 Eduardo Koichi Yamada 10:09:56
41 22088 Diego Lopez 10:14:15
42 50388 Nilson Paulo De Lima 10:16:46
43 18296 Gui Padua 10:18:40
44 43290 Dirceu Busmayer 10:18:47
45 18665 Cristiano Alves 10:24:13
46 13069 Gilmar Signori 10:24:51
47 13029 Daniela Signori 10:24:52
48 15727 Jose Raimundo Bezerra Maia 10:26:49
49 16161 Sergio Beltrao 10:30:30
50 11501 Roberval Pimenta 10:31:20
51 10874 Andrea Ferreira 10:33:38
52 30059 Wilson Bomfim 10:34:37
53 19848 Ilza Maria Machado 10:34:42
54 22081 Gilceia Albertina Soprana 10:36:35
55 11654 Jose Bonchristiano 10:38:42
56 14768 Raul Vianna Filho 10:40:58
57 13107 Humberto Souza 10:47:18
58 11416 Marcus Almeida 10:48:45
59 43369 William Ferreira 10:49:25
60 36422 Guilherme Valle 10:49:26
61 18978 Eduardo Neves 10:49:40
62 59942 Fernando Abdalla 10:49:45
63 50483 Rodrigo Richard João 10:50:45
64 16629 Fernando Dezem 10:53:51
65 18859 Decio Santos Jr 10:53:52
66 13668 Ricardo Almeida 10:54:08
67 11214 Carlos Castro 10:54:45
68 20950 Anamelia Dami 10:55:04
69 43056 Dirceu Tirado 10:57:46
70 14195 Mario Sugisawa 10:59:01
71 12693 Rodrigo Ennes 10:59:04
72 17490 Ernani Praia Filho 11:00:50
73 14026 Mariano Silverio De Moraes Mariano 11:05:24
74 22084 Alexandre Imperador 11:06:27
75 18139 Joao Alison Ferreira De Andrade 11:10:08
76 43039 Alexandre Saraiva 11:15:23
77 21643 Paola Geber 11:15:41
78 11207 Claudia Marcondes 11:20:07
79 36499 Onacir Marcondes 11:22:55
80 22086 Nádia Eloisa Duarte 11:24:41
81 14721 Adonai Armstrong 11:25:44
82 19137 Luiz Gustavo Grossi Baron 11:25:44
83 13528 Lis Bellio 11:28:11
84 30050 Ana Marcia Gomes 11:29:52
85 10124 Luiz Felipe Marques 11:29:57
86 48418 Nato Amaral 11:35:50
87 12085 Josue Netto 11:36:18
88 39303 Maria Bernardino 11:37:09
89 11888 Alexandre Andrade 11:39:20
90 11905 Eder Magalhaes 11:39:28
91 6512 Carlos Soto 11:39:36
92 43164 Aguinaldo Soares 11:40:01
93 17799 Márcio Da Silva 11:43:10
94 11549 Guilherme Vieira 11:43:10
95 13881 Manoel Nascimento Lima 11:43:35
96 11672 Jose Guglielmo 11:50:05
97 12223 Cristiane Souza 11:50:24
98 17318 Charlston Benassi 11:50:34
99 55740 Michael De Freitas 11:51:12
100 11085 Francisco Goes 11:53:44
101 16625 Gilberto Tanno 11:54:29