Em passado recente, quatro amigos apaixonados por corrida, lançaram-se ao desafio de percorrer “O Caminho da Fé”, na rota entre a cidade de Águas da Prata (SP) e o Santuário Nacional de Aparecida (SP) - percorrendo 305 Km na Serra da Mantiqueira, no intervalo de cinco dias.
Sem
sombra de dúvidas, antes de uma grande empreitada, a busca de informações e o
consequente planejamento torna-se indispensável.
Eis aqui
a resenha da aventura, um diário de bordo narrado por Eduardo Rodrigues, 64 anos, natural de Crateús, Ceará, corredor de
rua desde 1981, residente em Brasília há 42 anos.
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Certa
ocasião, conversando com o Samuel Toledo,
amigo e parceiro de longa jornada – especialmente no mundo das corridas - comentei
que tinha a intenção de percorrer o Caminho
da Fé, na condição de peregrino.
Naquele
momento, meados do primeiro semestre de 2017, a animação tomou conta da
resenha, todavia, ele apresentou a proposta alternativa de realizar uma corrida
em revezamento, a ser definida previamente e ainda no ano de 2017.
Em
contrapartida, argumentou que o revezamento serviria como treino para a BR 135
- ultramaratona que participaremos no 1° dia do mês fevereiro de 2018, no
trajeto entre a cidade de São João da Boa Vista (SP) e Paraisópolis (MG).
Não
aceitei a contraproposta, uma vez que pretendia percorrer a rota completa do Caminho
da Fé na condição de peregrino (Águas da Prata x Santuário).
Então, na
condição de excelente estrategista, Samuel propôs percorrermos o trajeto correndo,
apenas durante o dia, com pernoites para descanso nas pousadas de apoio aos
peregrinos da fé.
Nessa
linha de ação, o amigo faria parte do meu projeto de peregrinação, ao tempo em
que mesclaria com aquela proposta de treino para a BR 135, sem compromisso, da
parte dele, de fazer todo o percurso da peregrinação, correndo a pé.
Acordo
feito, o planejamento do desafio ficou por conta do estrategista Samuel Toledo, que em poucos dias já
apresentou uma planilha detalhada, repleta com informações das cidades por onde
passaríamos, suas respectivas distâncias, com cálculos matemáticos de ritmo e distância
a ser percorrida a cada dia.
Em breve
resumo, o planejamento indicava que seria possível completar o “Caminho da Fé”
– rota Águas da Prata x Santuário, em 5 dias, totalizando 305 quilômetros.
À guisa
de informações e para contextualizar com maior grau de precisão, trago
compilação de texto, colhida no site oficial do Caminho da Fé - http://caminhodafe.com.br
“O Caminho da Fé (Brasil), inspirado no milenar Caminho de Santiago de Compostela (Espanha), foi criado para dar estrutura às pessoas que sempre fizeram peregrinação ao Santuário Nacional de Aparecida, oferecendo-lhes os necessários pontos de apoio e infraestrutura. A ideia da sua criação ocorreu após um dos organizadores percorrer por duas vezes o conhecido caminho espanhol. Com ajuda de um mapa e partindo de Águas da Prata, foi imaginado um caminho que chegasse até Aparecida privilegiando a rota mais lógica e que atendesse ao perfil peregrino, sem interferência política. O Caminho da Fé foi inaugurado em 11.02.2003, na cidade de Águas da Prata/SP.”
O dia 12
de novembro de 2017, ficou acertado para o início de nosso desafio e a partir
de então, passamos a convidar os amigos corredores para somarem forças na
empreitada.
Em regra,
avaliaram o projeto interessante, todavia, houve a adesão apenas do amigo Sebastião dos Santos, também corredor,
mas que resolveu fazer o desafio de bicicleta.
“O quarto
elemento”: Lucas Toledo (filho do
Samuel Toledo) conduziria toda a logística no veículo de apoio, nas
intermináveis subidas e descidas da Serra da Mantiqueira, seguindo a marcação
peculiar do Caminho da Fé - as setas amarelas pintadas nos postes, mourões de
cerca, pedras e a indicação da distância que falta para chegar ao Santuário em
Aparecida - ou seja: “seguindo as setas, não tem erro”.
DIA ZERO
No dia 11
de novembro, viajamos de Brasília, com destino a cidade de Águas da Prata, em
veículo com tração 4 x 4, que também seria nosso carro de apoio, transportando
a logística de alimentação, hidratação e equipamentos.
Assim que
chegamos a cidade de Águas da Prata, providenciamos as fichas passaporte de
peregrino na sede do Caminho da Fé e a seguir, pernoite em hotel na cidade de
São João da Boa Vista, localizada a 15 quilômetros de Aguas da Prata.
Esse
passaporte é carregado pelos peregrinos para que sejam carimbados nas pousadas
e hotéis por onde passam, como forma de “comprovação” da peregrinação com as
respectivas datas.
PRIMEIRO DIA
Embora a
previsão do início da aventura, tenha sido para às 7 horas da manhã, do dia 12
de novembro de 2017, só foi possível concretizar a partida às 8 horas e coincidentemente,
naquele mesmo horário, havia concentração de ciclistas, oriundos da cidade de
Tambaú (SP), que também seriam acompanhados por carro de apoio e que se
encontravam no segundo ano de peregrinação.
Ao longo
dos quatro primeiros dias de nossa corrida - aventura, foi possível
compartilhar o caminho com aquele grupo de ciclistas.
Nosso
destino inicial: a cidade de Andradas, Minas Gerais, aproximadamente 31 km de
Águas da Prata, um trecho com inúmeras fazendas, paisagens bonitas, entretanto,
com considerável ganho de elevação.
Por volta
do quilômetro treze, passamos pela base do Pico do Gavião, uma elevação montanhosa
localizada na divisa dos estados de Minas e de São Paulo que com seus 1.663
metros de altitude, tornou-se ao longo do tempo, uma bela atração turística,
sendo considerado um dos melhores locais do mundo para a prática do voo livre e
parapente.
Mais alguns
quilômetros adiante, antes de uma série de descidas, encontramos “Belmiro”, um peregrino solitário,
percorrendo o caminho de bicicleta, celebrando uma nova idade: 65 anos de vida
naquele exato dia!!!
Igualmente
aos ciclistas da cidade de Tambaú, nos encontramos com o “peregrino solitário”
ao longo dos quatro primeiros dias de nossa aventura.
Esse
longo trecho de descidas, segue praticamente até chegar a cidade de Andradas. O
local merece especial atenção, bastante pedregoso, estrada precariamente conservada
e que requer cautela dos atletas e peregrinos, para evitar acidentes.
Na cidade
de Andradas, nossa primeira parada estratégica para almoçar no restaurante do
Clube Rio Branco, refeição rápida para não atrasar demasiadamente a empreitada.
Após o
almoço, seguimos rumo à cidade de Crisólia, 36 quilômetros. No decorrer do
trajeto passamos pela subida da Serra dos Lima, pela comunidade de Barra com
uma descida muito difícil e a famosa e inesquecível subida do Sabão.
Há uma
peculiaridade no final da subida da Serra dos Lima, cerca de 1.200 metros é
asfaltado. Penso que em razão da dificuldade para subi-la.
Naquele
intervalo (Andradas x Serra dos Lima) outro grupo de ciclistas nos alcançou,
agora da cidade de Tietê (SP) que em rápida passagem, havíamos visualizado em
Andradas.
O fato
interessante, por vezes engraçado é que em alguns trechos da serra conseguíamos
ultrapassar os ciclistas tanto os de Tambaú como os de Tietê.
O grupo
de Tambaú acabou ficando um pouco para trás, pernoitando na Vila da Barra, e o
grupo de Tietê descansou na mesma pousada em que dormimos, na cidade de Ouro
Fino.
O relógio
aproximava-se das 19 horas quando chegamos a cidade de Crisólia. No resumo da
ópera: havíamos percorrido cerca de 68 quilômetros naquele dia inicial.
Imediatamente,
paramos na praça em frente à Igreja, buscamos local para pernoitar na cidade,
entretanto, não foi possível. Nos deslocamos de carro até a próxima cidade,
Ouro Fino, que fica 6 quilômetros à frente, onde nos acomodamos e descansamos
da jornada.
SEGUNDO DIA
No dia
seguinte, pouco antes das 6 horas, retornamos à cidade de Crisólia, retomamos a
corrida, paramos na entrada da cidade para as fotos de praxe no monumento em
homenagem ao “Menino da Porteira”.
Na
pousada, tomamos o nosso café da manhã, fizemos o “check out” e seguimos rumo à
cidade de Inconfidentes, 9 quilômetros à frente. Os ciclistas de Tietê saíram
um pouco depois de nosso grupo de amigos, mas logo nos passaram e não tivemos
mais contato.
A
passagem por Inconfidentes foi rápida. Seguimos então para a cidade de Borda da
Mata, 20 quilômetros à frente. Esse trecho dá para o corredor manter um ritmo
um pouco melhor porque as variações de altimetria não são tão significativas.
Faltavam 3
quilômetros para a cidade de Borda da Mata, quando encontramos a ultramaratonista
Raissa Ferreira de Aguiar, que
estava fazendo a peregrinação do caminho da fé.
Foi um
momento mágico e nostálgico esse encontro com a amiga “Raissa”, que já concluiu a BR 135 em todas as suas variações,
seja: “em dupla, trio, quarteto e solo”.
Na
ocasião, ela fazia a peregrinação para receber o Cálice da Jornada, uma
premiação para quem fecha o ciclo da ultramaratona BR 135.
No
restaurante em Borda da Mata, encontramos “Rodrigo”,
outro guerreiro ultramaratonista, que estava fazendo a peregrinação com a
esposa.
Na
sequência, Raissa chegou e juntou-se
ao grupo no restaurante, acompanhada também do companheiro de caminhada,
oportunidade para atualizar a resenha dos que “correm por pura paixão”.
Aproveitando
a presença de tantos participantes da BR, Rodrigo efetuou ligação pelo “Messenger”
para o Mario Lacerda, Diretor da BR135, atualmente residindo na Flórida,
Estados Unidos, com quem pudemos conversar sobre a nossa aventura.
Concluído
o almoço, aguardamos na praça da cidade, reencontramos os ciclistas de Tambaú
que nos alcançaram na chegada à cidade, também reencontramos o Belmiro que havia dormido na Vila da
Barra e na madrugadinha já estava na estrada.
Ato
contínuo, seguimos para a cidade de Tocos do Moji, a apenas 17 quilômetros, trecho
curto, mas de muitas dificuldades para aquele nosso segundo dia de corrida,
pois ainda não havia a plena adaptação do corpo às necessidades de resistência,
até porque não havíamos feitos treinos de longa duração.
Só para
contexto, recordo-me que meu treino mais longo foi de 4 horas e naquele
instante (o da aventura) estava sendo apresentada uma enorme e quase impagável
fatura.
No início
do dia, havíamos cogitado ir até a cidade de Estiva, que resultaria correr mais
21 quilômetros naquele dia, entretanto, as circunstâncias nos fizeram reavaliar
e concluir que o melhor seria pernoitar em Tocos do Moji, com 53 quilômetros
percorridos. Uma decisão acertada a de parar mais cedo, que nos propiciou maior
tempo de descanso.
Já ia
esquecendo!!! – Faltando 8 quilômetros para chegar na cidade de Tocos do Moji, concluímos
uma subida bem difícil, passamos num mata-burro e pela porteira de madeira que
tem um nome curioso: “Porteira do Céu”.
Ao lado,
existe um abrigo parecido com uma parada de ônibus, com bancos, onde os
corredores e peregrinos costumam parar para um descanso, fotos e colagem de
adesivos.
Chegamos
a Tocos e o Belmiro já estava lá,
arranchado. Paramos na Pastelaria do Bastião, onde comemos uns bons pastéis
feitos com massa de milho e tomamos uma cerveja geladinha.
Em
seguida, fomos conferir as acomodações das pousadas disponíveis e acabamos
optando pela Pousada São José, com quartos duplos, banheiro privativo, todavia,
sem café da manhã.
TERCEIRO DIA
Para iniciarmos
o terceiro dia, combinamos com o dono de uma lanchonete próxima à pousada, o
café da manhã para as 5:30 horas. No mesmo horário já estavam lá os ciclistas
de Tambaú.
O Belmiro
já havia saído de madrugada. A previsão do dia era percorrermos 63 quilômetros,
passando pelas cidades de Estiva, 21 quilômetros, Consolação 20 quilômetros e
chegada a Paraisópolis com mais 22 quilômetros. Sabíamos o que nos aguardava, pois,
esses trechos já eram velhos conhecidos de nossas participações na BR135.
A largada
de Tocos aconteceu às 6 horas e 8 minutos. Nos primeiros 5 quilômetros o Garmin
acusou 315 metros de altimetria positiva (subidas), uma variação superior a 6%.
Até a cidade de Estiva o mote são as subidas e as decidas fortes e longas, o
que maltrata muito a musculatura das pernas.
Chegamos
a Estiva por volta das 10 horas e 15 minutos. Paramos no ponto de parada da BR135,
fizemos um lanche e seguimos viagem rumo a Consolação. A ideia era almoçar em
Consolação, todavia, tínhamos um outro grande desafio pela frente: “A Serra do
Caçador”, uma subida de 3 quilômetros com 10% de variação positiva, com o
agravante do horário da subida, por volta de meio dia, com muito sol e calor.
Nesta subida,
digamos: traumática!!! – Por muito pouco, não desisto da BR 135 deste ano, mesmo
faltando menos de 30 km para o final da competição.
Nesta
oportunidade fui precavido. Ao chegar à base da subida, tomei umas providências
que me evitaram passar pelo mesmo drama de janeiro.
Tomei uns
suplementos, BCAA e cápsula de sal e a enfrentei sem grandes dificuldades. No
início da subida passamos pelo Belmiro
empurrando sua bicicleta carregada de equipamentos.
Após a
Serra do Caçador, chegamos sem problemas a cidade de Consolação e conseguimos
almoçar para enfrentar o último terço do dia e durante o almoço, os ciclistas
de Tambaú passaram por nós.
A saída
da cidade de Consolação começa por umas ruas de paralelepípedos, com descidas
íngremes, que requerem muito cuidado e atenção.
Aproximadamente um quilômetro à frente, o caminho passa pelo asfalto que liga Consolação a Paraisópolis, por cerca de 3 quilômetros. A seguir, o caminho nos conduz às estradas de terra por dentro das fazendas da região.
Aproximadamente um quilômetro à frente, o caminho passa pelo asfalto que liga Consolação a Paraisópolis, por cerca de 3 quilômetros. A seguir, o caminho nos conduz às estradas de terra por dentro das fazendas da região.
Esse primeiro trecho de estrada de terra até que é bem tranquilo, com poucas subidas e descidas, assim como quase todo o caminho, a região é muito bonita.
Quando
faltam cerca de 9 quilômetros para se chegar a Paraisópolis, há uma bifurcação
e o peregrino pega uma nova estrada de terra, agora com muitas subidas e
descidas.
Essa
estrada tem alto nível de dificuldade e na hipótese de chuva, torna-se impraticável
correr com a lama escorregadia. Ainda bem que aquele terceiro dia foi de sol e
a estrada estava seca.
Sem muita
demora, estávamos no portão da cidade, onde começam as ruas calçadas de
paralelepípedos e, dali até o hotel “Serras de Minas” foram apenas 2
quilômetros. Concluímos o terceiro dia com 63 quilômetros percorridos.
QUARTO DIA
O horário
de saída com destino a cidade de Campos do Jordão, ocorreu às 7 horas e 20
minutos. Naquele quarto dia, os ciclistas de Tambaú passaram por nós no
primeiro quilômetro. Essa foi a derradeira ocasião que os vimos, embora tenham
pernoitado na mesma cidade que nosso grupo, Campos do Jordão.
Naquele dia,
o trecho nos trazia grau maior de preocupação, pois teríamos pela frente a
famosa Serra da Luminosa.
Busquei
na memória minha experiência da corrida em revezamento (quarteto) ocorrida
naquela rota; quando imaginei que até cidade de Luminosa, cerca de 22
quilômetros à frente, seriam estradões planos e com descidas.
Nos
primeiros 12 quilômetros a expectativa foi se confirmando e conseguimos manter
um bom ritmo, dalí adiante, a perspectiva modificou demais, com boas subidas, descidas fortes e
repentinamente, nos deparamos com a belíssima visão do vale onde fica o
vilarejo de Luminosa.
Na minha avaliação
é o lugar mais bonito de toda a jornada. Inexplicavelmente, surge a vontade de
morar naquele local ou mesmo passar uma temporada para apreciar o lugar.
No
trajeto, descemos a Serra do Tatu que leva ao centro de Luminosa e quando lá
chegamos, havia uma variação positiva superior a 700 metros.
Pouco
mais de três quilômetros à frente, inicia-se à subida da Serra da Luminosa, com
aproximadamente 7,5 quilômetros de subida, com 835 metros de ganho de elevação,
com inclinação média de 11,13%; tendo seu ponto mais alto 1670 metros acima no
nível do mar.
Iniciada a subida, alcançamos novamente o Belmiro empurrando sua bike e menos de 2 quilômetros à frente paramos na Pousada da Dona Inês, onde almoçamos uma comidinha caseira saborosa, acompanhada de ovo frito. Bom demais!!!
Na saída
da Pousada vimos que o Belmiro
estava a menos de 50 metros, sob uma árvore fazendo o seu quilo (descanso pós
refeição), comentou que estava almoçando castanhas. O terreno em frente à pousada
é plano e o amigo montou na sua bicicleta e foi embora... não por muito tempo,
porque o pesado da subida estava por vir. Passamos pelo peregrino solitário, em
seguida, pela última ocasião.
A subida
da Luminosa é realizada em zig e zag; a sensação do peregrino que não há um
fim, segue-se para lá e volta para cá, uma sucessão quase infinita de vai e vem
ou vem e vai!!!
Passamos
pela subida denominada “quebra perna”
e, alguns quilômetros à frente chegamos ao Bairro Quilombo, uma pequena
comunidade onde há uma bela capelinha e algumas casas.
Em
seguida, depois de uma boa volta em um morro, nos defrontamos com uma longa
subida em linha reta e, no seu final, a estrada passa a ser ladeada por matas
de eucaliptos e de pinheiros.
Algum
tempo depois, chegamos a uma descida e a sensação é que a serra teria
terminado. Ledo engano, pois ainda teríamos a última subida que termina numa
espécie de parque onde há uma placa indicativa da divisão dos estados de Minas
Gerais e São Paulo.
Após esse
ponto, cerca de 2 quilômetros à frente, chegamos ao asfalto, da rodovia que
liga os municípios de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí. Seguimos por
essa estrada asfaltada até a localidade de Campista, nos limites de Campos do
Jordão e São Bento do Sapucaí. Ali pegamos uma nova estrada de terra, bem menos
conservada, para chegarmos a Campos do Jordão, com cerca de 16 km.
Nossa
chegada a Campos do Jordão ocorreu por volta das 17 horas e 30 minutos.
Quando se chega a Campos do Jordão tem-se duas opções para seguir no Caminho da Fé com destino a Aparecida.
A
primeira opção por Guaratinguetá - Gomeral - Pedrinhas (inicialmente planejada)
em virtude da informação que o carro de apoio poderia acompanhar sem
dificuldades, com cerca de 80% em estrada de terra. A segunda opção por Pindamonhangaba,
no sentido oposto ao que havíamos previamente definido.
Ocorreu
que, como não tínhamos hotel reservado, optamos por parar a corrida num ponto
específico e ir de carro solucionar a questão da hospedagem, na certeza que de
no dia seguinte retomaríamos o caminho no mesmo ponto da parada.
QUINTO DIA
Na manhã
seguinte, antes do café da manhã, retornamos ao ponto onde havíamos parado no
dia anterior e reiniciamos nossa jornada, pouco mais de 2 km das instalações do
hotel.
Após o café da manhã seguimos viagem para o último trecho da nossa empreitada.
Seguindo
as setas amarelas do caminho, fomos em direção ao Horto Florestal e, por
asfalto, corremos por cerca de 12 km, quando pegamos uma estrada de terra no
sentido Pedrinhas. Um pouco mais de 400 metros adiante, iniciamos a maior
subida do trecho que, embora um pouco longa, cerca de 5 quilômetros, não foi
das mais difíceis.
Após
passarmos por um bom trecho de terreno plano, iniciarmos uma descida forte de
cerca de 20 quilômetros, com muitas pedras soltas, e declives acentuados e com uma
parte de asfalto.
Nesse
tipo de terreno, mesmo descendo, não consegui desenvolver um bom ritmo. O risco
de queda era grande e a musculatura já estava bastante maltratada pelo pancadão
dos dias anteriores.
Em nosso
planejamento, havia a expectativa de parada estratégica para almoço por volta
do quilômetro 32 ou 33. A sorte não nos acompanhou!!! de maneira que
continuamos até Pedrinhas, quando já havíamos percorrido a distância de uma
maratona (42,2 km).
A opção
foi comer pastel de carne com queijo, produzidos na hora por um pequeno
quiosque, assim, seria possível completar a jornada do dia.
O fato
pitoresco é que havia apenas um coco a venda, o que para nós (Eduardo e Samuel)
não era problema algum, pois no mesmo modelo que compartilhamos o caminho, dividimos
a refeição.
Pedrinhas
fica no pé da Serra da Mantiqueira e do local, pode-se observar a Serra do Mar,
por um pequeno capricho as duas formações montanhosas não se encontram;
observar esse detalhe me impressionou durante a descida da Serra da
Mantiqueira.
Saindo de
Pedrinhas, voltamos a correr em estrada de terra, mas não por muito tempo. A
partir de então e até a cidade de Aparecida do Norte, o percurso era plano e conseguimos
manter um bom ritmo de corrida.
Às 17
horas e 30 minutos, chegamos ao Santuário de Aparecida, um momento literalmente
“mágico”, repleto de sensações: prazerosa, gostosa, dever cumprido, de curtir o
momento, fazer fotos, visitar a imagem, retirar o certificado de peregrino, que
é personalizado e impresso na hora, assistir à missa das 18 horas, enfim: “a
verdadeira face do peregrino”.
Ocorre
que a Secretaria do Santuário fechava as 18 horas e tudo seria muito rápido
(acima do ritmo de corrida).
A
sensação indescritível: “Eu consegui realizar
o sonho de peregrinar pelo caminho da fé, de maneira diferente, correndo na
maior parte do percurso, num total de 305 km, em 5 dias”.
Após a
missa decidimos procurar hotel para descansar, tomar um bom banho, jantar, e dormir
para, no dia seguinte, viajar de carro para casa.
SEXTO DIA
Saímos de
Aparecida por volta das 8 horas da manhã de sexta-feira, 17 de novembro de 2017.
Utilizamos a Via Dutra com o objetivo de chegarmos a Rodovia D. Pedro que liga
a Via Dutra a Campinas. Com pouco mais de 50 quilômetros percorridos
ultrapassamos o nosso amigo Belmiro.
Imediatamente,
paramos o carro no acostamento e o esperamos para cumprimentá-lo e fazermos
troca de telefones. Ele havia chegado a Aparecida às 14 horas do dia anterior,
e havia saído de madrugada com destino a Moji Mirim, onde reside, a cerca 300
quilômetros de distância. O seu objetivo era pedalar 150 quilômetros por dia.
Na segunda-feira ele me ligou para me avisar que havia chegado em casa no
sábado à noite.
Aqui
rendo minhas homenagens e tiro o chapéu ao guerreiro “Belmiro”.
Quando
saímos de Aparecida, ligamos para um dos componentes do grupo de ciclistas de
Tambaú, o Marcos, e ele nos informou
que no dia anterior o grupo havia decidido parar numa localidade próxima à
Aparecida, e lá fizeram um churrasco para comemorar o desafio.
Haviam
chegado ao Santuário às 8 horas daquela manhã e estavam, naquele momento,
assistindo à missa.
Para concluir
a resenha, registro um agradecimento especial às pessoas que toparam realizar e
concretizar esse desafio. Sem sombra de dúvidas com muita parceira, onde houve
sofrimento pelo cansaço, mas houve muita alegria e muito companheirismo em
todos os seus momentos. Na contabilidade: “zero de estresse”.
Um forte
abraço aos amigos Samuel Toledo,
Sebastião dos Santos e ao guerreiro Lucas
Toledo que, embora muito jovem, teve muita tranquilidade e paciência para nos
acompanhar nessa jornada, pois proporcionar apoio é uma arte muito difícil e,
neste quesito ele foi nota dez.
Na mesma
linha, não posso deixar de agradecer imensamente
minha família que sempre me apoia nessas insanidades de corredor, e aos
amigos, pela torcida.
Que relato precioso e emocionante! Me senti parte dessa equipe e desses encontros! Uma grande inspiração! Parabéns a todos!
ResponderExcluirGrande Dudu,
ResponderExcluirO relato ficou incrível e retrata muito bem nossa peregrinação, corrida, diversão e treino, tudo em clima de festa.
Não vejo a hora de repetir o feito com um grupo ainda maior.
Aquele abraço,
Samuel Toledo
Nobres amigos Eduardo, Samuel, Sebastião e fiel escudeiro Lucas,
ResponderExcluirJornada maravilhosa, relato incrível, com narrativa de detalhes que nos impulsionam a recordar de outras aventuras no Caminho da Fé, em plena Serra da Mantiqueira, desconhecida por muitos brasileiros.
Parabéns, forte abraço, vida longa e nos vemos no caminho!!!
Dionisio Silvestre
Sem dúvida o Relato ficou muito bom e ficou assim por conta da burilada feita pelo mestre Silvestre na sua revisão. Obrigado meu amigo.
ResponderExcluirMeu amigo Dudu,
ResponderExcluirO relato ficou ótimo, me senti fazendo parte da aventura...as imagens são lindas. Parabéns, abraço!
Marileusa