quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Peregrinação ou aventura, nos vemos no caminho!!!


Em passado recente, quatro amigos apaixonados por corrida, lançaram-se ao desafio de percorrer “O Caminho da Fé”, na rota entre a cidade de Águas da Prata (SP) e o Santuário Nacional de Aparecida (SP) - percorrendo 305 Km na Serra da Mantiqueira, no intervalo de cinco dias.

Sem sombra de dúvidas, antes de uma grande empreitada, a busca de informações e o consequente planejamento torna-se indispensável.
Serra da Mantiqueira
Eis aqui a resenha da aventura, um diário de bordo narrado por Eduardo Rodrigues, 64 anos, natural de Crateús, Ceará, corredor de rua desde 1981, residente em Brasília há 42 anos.

***************************************
*************************
**************


Certa ocasião, conversando com o Samuel Toledo, amigo e parceiro de longa jornada – especialmente no mundo das corridas - comentei que tinha a intenção de percorrer o Caminho da Fé, na condição de peregrino.

Naquele momento, meados do primeiro semestre de 2017, a animação tomou conta da resenha, todavia, ele apresentou a proposta alternativa de realizar uma corrida em revezamento, a ser definida previamente e ainda no ano de 2017.

Em contrapartida, argumentou que o revezamento serviria como treino para a BR 135 - ultramaratona que participaremos no 1° dia do mês fevereiro de 2018, no trajeto entre a cidade de São João da Boa Vista (SP) e Paraisópolis (MG).

Não aceitei a contraproposta, uma vez que pretendia percorrer a rota completa do Caminho da Fé na condição de peregrino (Águas da Prata x Santuário).

Então, na condição de excelente estrategista, Samuel propôs percorrermos o trajeto correndo, apenas durante o dia, com pernoites para descanso nas pousadas de apoio aos peregrinos da fé.

Nessa linha de ação, o amigo faria parte do meu projeto de peregrinação, ao tempo em que mesclaria com aquela proposta de treino para a BR 135, sem compromisso, da parte dele, de fazer todo o percurso da peregrinação, correndo a pé.

Acordo feito, o planejamento do desafio ficou por conta do estrategista Samuel Toledo, que em poucos dias já apresentou uma planilha detalhada, repleta com informações das cidades por onde passaríamos, suas respectivas distâncias, com cálculos matemáticos de ritmo e distância a ser percorrida a cada dia.

Em breve resumo, o planejamento indicava que seria possível completar o “Caminho da Fé” – rota Águas da Prata x Santuário, em 5 dias, totalizando 305 quilômetros.

À guisa de informações e para contextualizar com maior grau de precisão, trago compilação de texto, colhida no site oficial do Caminho da Fé - http://caminhodafe.com.br

“O Caminho da Fé (Brasil), inspirado no milenar Caminho de Santiago de Compostela (Espanha), foi criado para dar estrutura às pessoas que sempre fizeram peregrinação ao Santuário Nacional de Aparecida, oferecendo-lhes os necessários pontos de apoio e infraestrutura. A ideia da sua criação ocorreu após um dos organizadores percorrer por duas vezes o conhecido caminho espanhol. Com ajuda de um mapa e partindo de Águas da Prata, foi imaginado um caminho que chegasse até Aparecida privilegiando a rota mais lógica e que atendesse ao perfil peregrino, sem interferência política. O Caminho da Fé foi inaugurado em 11.02.2003, na cidade de Águas da Prata/SP.” 

O dia 12 de novembro de 2017, ficou acertado para o início de nosso desafio e a partir de então, passamos a convidar os amigos corredores para somarem forças na empreitada.

Em regra, avaliaram o projeto interessante, todavia, houve a adesão apenas do amigo Sebastião dos Santos, também corredor, mas que resolveu fazer o desafio de bicicleta.
Lucas, Samuel, Sebastião e Eduardo
“O quarto elemento”: Lucas Toledo (filho do Samuel Toledo) conduziria toda a logística no veículo de apoio, nas intermináveis subidas e descidas da Serra da Mantiqueira, seguindo a marcação peculiar do Caminho da Fé - as setas amarelas pintadas nos postes, mourões de cerca, pedras e a indicação da distância que falta para chegar ao Santuário em Aparecida - ou seja: “seguindo as setas, não tem erro”.

DIA ZERO

No dia 11 de novembro, viajamos de Brasília, com destino a cidade de Águas da Prata, em veículo com tração 4 x 4, que também seria nosso carro de apoio, transportando a logística de alimentação, hidratação e equipamentos.

Assim que chegamos a cidade de Águas da Prata, providenciamos as fichas passaporte de peregrino na sede do Caminho da Fé e a seguir, pernoite em hotel na cidade de São João da Boa Vista, localizada a 15 quilômetros de Aguas da Prata.

Esse passaporte é carregado pelos peregrinos para que sejam carimbados nas pousadas e hotéis por onde passam, como forma de “comprovação” da peregrinação com as respectivas datas.

PRIMEIRO DIA

Embora a previsão do início da aventura, tenha sido para às 7 horas da manhã, do dia 12 de novembro de 2017, só foi possível concretizar a partida às 8 horas e coincidentemente, naquele mesmo horário, havia concentração de ciclistas, oriundos da cidade de Tambaú (SP), que também seriam acompanhados por carro de apoio e que se encontravam no segundo ano de peregrinação.

Ao longo dos quatro primeiros dias de nossa corrida - aventura, foi possível compartilhar o caminho com aquele grupo de ciclistas.

Nosso destino inicial: a cidade de Andradas, Minas Gerais, aproximadamente 31 km de Águas da Prata, um trecho com inúmeras fazendas, paisagens bonitas, entretanto, com considerável ganho de elevação.
Por volta do quilômetro treze, passamos pela base do Pico do Gavião, uma elevação montanhosa localizada na divisa dos estados de Minas e de São Paulo que com seus 1.663 metros de altitude, tornou-se ao longo do tempo, uma bela atração turística, sendo considerado um dos melhores locais do mundo para a prática do voo livre e parapente.

Mais alguns quilômetros adiante, antes de uma série de descidas, encontramos “Belmiro”, um peregrino solitário, percorrendo o caminho de bicicleta, celebrando uma nova idade: 65 anos de vida naquele exato dia!!!
Belmiro, o peregrino solitário
Igualmente aos ciclistas da cidade de Tambaú, nos encontramos com o “peregrino solitário” ao longo dos quatro primeiros dias de nossa aventura.

Esse longo trecho de descidas, segue praticamente até chegar a cidade de Andradas. O local merece especial atenção, bastante pedregoso, estrada precariamente conservada e que requer cautela dos atletas e peregrinos, para evitar acidentes.

Na cidade de Andradas, nossa primeira parada estratégica para almoçar no restaurante do Clube Rio Branco, refeição rápida para não atrasar demasiadamente a empreitada.
parada estratégica para o almoço
Após o almoço, seguimos rumo à cidade de Crisólia, 36 quilômetros. No decorrer do trajeto passamos pela subida da Serra dos Lima, pela comunidade de Barra com uma descida muito difícil e a famosa e inesquecível subida do Sabão.

Há uma peculiaridade no final da subida da Serra dos Lima, cerca de 1.200 metros é asfaltado. Penso que em razão da dificuldade para subi-la.

Naquele intervalo (Andradas x Serra dos Lima) outro grupo de ciclistas nos alcançou, agora da cidade de Tietê (SP) que em rápida passagem, havíamos visualizado em Andradas.

O fato interessante, por vezes engraçado é que em alguns trechos da serra conseguíamos ultrapassar os ciclistas tanto os de Tambaú como os de Tietê.

O grupo de Tambaú acabou ficando um pouco para trás, pernoitando na Vila da Barra, e o grupo de Tietê descansou na mesma pousada em que dormimos, na cidade de Ouro Fino.

O relógio aproximava-se das 19 horas quando chegamos a cidade de Crisólia. No resumo da ópera: havíamos percorrido cerca de 68 quilômetros naquele dia inicial.

Imediatamente, paramos na praça em frente à Igreja, buscamos local para pernoitar na cidade, entretanto, não foi possível. Nos deslocamos de carro até a próxima cidade, Ouro Fino, que fica 6 quilômetros à frente, onde nos acomodamos e descansamos da jornada.

SEGUNDO DIA

No dia seguinte, pouco antes das 6 horas, retornamos à cidade de Crisólia, retomamos a corrida, paramos na entrada da cidade para as fotos de praxe no monumento em homenagem ao “Menino da Porteira”.
Menino da Porteira, Ouro Fino
Na pousada, tomamos o nosso café da manhã, fizemos o “check out” e seguimos rumo à cidade de Inconfidentes, 9 quilômetros à frente. Os ciclistas de Tietê saíram um pouco depois de nosso grupo de amigos, mas logo nos passaram e não tivemos mais contato.

A passagem por Inconfidentes foi rápida. Seguimos então para a cidade de Borda da Mata, 20 quilômetros à frente. Esse trecho dá para o corredor manter um ritmo um pouco melhor porque as variações de altimetria não são tão significativas.

Faltavam 3 quilômetros para a cidade de Borda da Mata, quando encontramos a ultramaratonista Raissa Ferreira de Aguiar, que estava fazendo a peregrinação do caminho da fé.

Foi um momento mágico e nostálgico esse encontro com a amiga “Raissa”, que já concluiu a BR 135 em todas as suas variações, seja: “em dupla, trio, quarteto e solo”.

Na ocasião, ela fazia a peregrinação para receber o Cálice da Jornada, uma premiação para quem fecha o ciclo da ultramaratona BR 135.

No restaurante em Borda da Mata, encontramos “Rodrigo”, outro guerreiro ultramaratonista, que estava fazendo a peregrinação com a esposa.

Na sequência, Raissa chegou e juntou-se ao grupo no restaurante, acompanhada também do companheiro de caminhada, oportunidade para atualizar a resenha dos que “correm por pura paixão”.

Aproveitando a presença de tantos participantes da BR, Rodrigo efetuou ligação pelo “Messenger” para o Mario Lacerda, Diretor da BR135, atualmente residindo na Flórida, Estados Unidos, com quem pudemos conversar sobre a nossa aventura.

Concluído o almoço, aguardamos na praça da cidade, reencontramos os ciclistas de Tambaú que nos alcançaram na chegada à cidade, também reencontramos o Belmiro que havia dormido na Vila da Barra e na madrugadinha já estava na estrada.

Ato contínuo, seguimos para a cidade de Tocos do Moji, a apenas 17 quilômetros, trecho curto, mas de muitas dificuldades para aquele nosso segundo dia de corrida, pois ainda não havia a plena adaptação do corpo às necessidades de resistência, até porque não havíamos feitos treinos de longa duração.

Só para contexto, recordo-me que meu treino mais longo foi de 4 horas e naquele instante (o da aventura) estava sendo apresentada uma enorme e quase impagável fatura.

No início do dia, havíamos cogitado ir até a cidade de Estiva, que resultaria correr mais 21 quilômetros naquele dia, entretanto, as circunstâncias nos fizeram reavaliar e concluir que o melhor seria pernoitar em Tocos do Moji, com 53 quilômetros percorridos. Uma decisão acertada a de parar mais cedo, que nos propiciou maior tempo de descanso.

Já ia esquecendo!!! – Faltando 8 quilômetros para chegar na cidade de Tocos do Moji, concluímos uma subida bem difícil, passamos num mata-burro e pela porteira de madeira que tem um nome curioso: “Porteira do Céu”.
Porteira do Céu
Ao lado, existe um abrigo parecido com uma parada de ônibus, com bancos, onde os corredores e peregrinos costumam parar para um descanso, fotos e colagem de adesivos.
parada obrigatória!!!
Chegamos a Tocos e o Belmiro já estava lá, arranchado. Paramos na Pastelaria do Bastião, onde comemos uns bons pastéis feitos com massa de milho e tomamos uma cerveja geladinha.

Em seguida, fomos conferir as acomodações das pousadas disponíveis e acabamos optando pela Pousada São José, com quartos duplos, banheiro privativo, todavia, sem café da manhã.

TERCEIRO DIA

Para iniciarmos o terceiro dia, combinamos com o dono de uma lanchonete próxima à pousada, o café da manhã para as 5:30 horas. No mesmo horário já estavam lá os ciclistas de Tambaú.

O Belmiro já havia saído de madrugada. A previsão do dia era percorrermos 63 quilômetros, passando pelas cidades de Estiva, 21 quilômetros, Consolação 20 quilômetros e chegada a Paraisópolis com mais 22 quilômetros. Sabíamos o que nos aguardava, pois, esses trechos já eram velhos conhecidos de nossas participações na BR135.

A largada de Tocos aconteceu às 6 horas e 8 minutos. Nos primeiros 5 quilômetros o Garmin acusou 315 metros de altimetria positiva (subidas), uma variação superior a 6%. Até a cidade de Estiva o mote são as subidas e as decidas fortes e longas, o que maltrata muito a musculatura das pernas.

Chegamos a Estiva por volta das 10 horas e 15 minutos. Paramos no ponto de parada da BR135, fizemos um lanche e seguimos viagem rumo a Consolação. A ideia era almoçar em Consolação, todavia, tínhamos um outro grande desafio pela frente: “A Serra do Caçador”, uma subida de 3 quilômetros com 10% de variação positiva, com o agravante do horário da subida, por volta de meio dia, com muito sol e calor.
Samuel e Sebastião
Nesta subida, digamos: traumática!!! – Por muito pouco, não desisto da BR 135 deste ano, mesmo faltando menos de 30 km para o final da competição.

Nesta oportunidade fui precavido. Ao chegar à base da subida, tomei umas providências que me evitaram passar pelo mesmo drama de janeiro.

Tomei uns suplementos, BCAA e cápsula de sal e a enfrentei sem grandes dificuldades. No início da subida passamos pelo Belmiro empurrando sua bicicleta carregada de equipamentos.

Após a Serra do Caçador, chegamos sem problemas a cidade de Consolação e conseguimos almoçar para enfrentar o último terço do dia e durante o almoço, os ciclistas de Tambaú passaram por nós.

A saída da cidade de Consolação começa por umas ruas de paralelepípedos, com descidas íngremes, que requerem muito cuidado e atenção.

Aproximadamente um quilômetro à frente, o caminho passa pelo asfalto que liga Consolação a Paraisópolis, por cerca de 3 quilômetros. A seguir, o caminho nos conduz às estradas de terra por dentro das fazendas da região. 

Esse primeiro trecho de estrada de terra até que é bem tranquilo, com poucas subidas e descidas, assim como quase todo o caminho, a região é muito bonita.

Quando faltam cerca de 9 quilômetros para se chegar a Paraisópolis, há uma bifurcação e o peregrino pega uma nova estrada de terra, agora com muitas subidas e descidas.

Essa estrada tem alto nível de dificuldade e na hipótese de chuva, torna-se impraticável correr com a lama escorregadia. Ainda bem que aquele terceiro dia foi de sol e a estrada estava seca.

Sem muita demora, estávamos no portão da cidade, onde começam as ruas calçadas de paralelepípedos e, dali até o hotel “Serras de Minas” foram apenas 2 quilômetros. Concluímos o terceiro dia com 63 quilômetros percorridos.

QUARTO DIA

O horário de saída com destino a cidade de Campos do Jordão, ocorreu às 7 horas e 20 minutos. Naquele quarto dia, os ciclistas de Tambaú passaram por nós no primeiro quilômetro. Essa foi a derradeira ocasião que os vimos, embora tenham pernoitado na mesma cidade que nosso grupo, Campos do Jordão.
Divisa Minas Gerais x São Paulo
Naquele dia, o trecho nos trazia grau maior de preocupação, pois teríamos pela frente a famosa Serra da Luminosa.

Busquei na memória minha experiência da corrida em revezamento (quarteto) ocorrida naquela rota; quando imaginei que até cidade de Luminosa, cerca de 22 quilômetros à frente, seriam estradões planos e com descidas.

Nos primeiros 12 quilômetros a expectativa foi se confirmando e conseguimos manter um bom ritmo, dalí adiante, a perspectiva modificou demais, com boas subidas, descidas fortes e repentinamente, nos deparamos com a belíssima visão do vale onde fica o vilarejo de Luminosa.

Na minha avaliação é o lugar mais bonito de toda a jornada. Inexplicavelmente, surge a vontade de morar naquele local ou mesmo passar uma temporada para apreciar o lugar.
Serra da Mantiqueira
No trajeto, descemos a Serra do Tatu que leva ao centro de Luminosa e quando lá chegamos, havia uma variação positiva superior a 700 metros.

Pouco mais de três quilômetros à frente, inicia-se à subida da Serra da Luminosa, com aproximadamente 7,5 quilômetros de subida, com 835 metros de ganho de elevação, com inclinação média de 11,13%; tendo seu ponto mais alto 1670 metros acima no nível do mar.

Iniciada a subida, alcançamos novamente o Belmiro empurrando sua bike e menos de 2 quilômetros à frente paramos na Pousada da Dona Inês, onde almoçamos uma comidinha caseira saborosa, acompanhada de ovo frito. Bom demais!!!

Na saída da Pousada vimos que o Belmiro estava a menos de 50 metros, sob uma árvore fazendo o seu quilo (descanso pós refeição), comentou que estava almoçando castanhas. O terreno em frente à pousada é plano e o amigo montou na sua bicicleta e foi embora... não por muito tempo, porque o pesado da subida estava por vir. Passamos pelo peregrino solitário, em seguida, pela última ocasião.
Belmiro e Eduardo
A subida da Luminosa é realizada em zig e zag; a sensação do peregrino que não há um fim, segue-se para lá e volta para cá, uma sucessão quase infinita de vai e vem ou vem e vai!!!

Passamos pela subida denominada “quebra perna” e, alguns quilômetros à frente chegamos ao Bairro Quilombo, uma pequena comunidade onde há uma bela capelinha e algumas casas.
Em seguida, depois de uma boa volta em um morro, nos defrontamos com uma longa subida em linha reta e, no seu final, a estrada passa a ser ladeada por matas de eucaliptos e de pinheiros.

Algum tempo depois, chegamos a uma descida e a sensação é que a serra teria terminado. Ledo engano, pois ainda teríamos a última subida que termina numa espécie de parque onde há uma placa indicativa da divisão dos estados de Minas Gerais e São Paulo.
pernalonga: um pé em cada estado (SP/MG)
Após esse ponto, cerca de 2 quilômetros à frente, chegamos ao asfalto, da rodovia que liga os municípios de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí. Seguimos por essa estrada asfaltada até a localidade de Campista, nos limites de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí. Ali pegamos uma nova estrada de terra, bem menos conservada, para chegarmos a Campos do Jordão, com cerca de 16 km.

Nossa chegada a Campos do Jordão ocorreu por volta das 17 horas e 30 minutos.

Quando se chega a Campos do Jordão tem-se duas opções para seguir no Caminho da Fé com destino a Aparecida.
A primeira opção por Guaratinguetá - Gomeral - Pedrinhas (inicialmente planejada) em virtude da informação que o carro de apoio poderia acompanhar sem dificuldades, com cerca de 80% em estrada de terra. A segunda opção por Pindamonhangaba, no sentido oposto ao que havíamos previamente definido.

Ocorreu que, como não tínhamos hotel reservado, optamos por parar a corrida num ponto específico e ir de carro solucionar a questão da hospedagem, na certeza que de no dia seguinte retomaríamos o caminho no mesmo ponto da parada.

QUINTO DIA

Na manhã seguinte, antes do café da manhã, retornamos ao ponto onde havíamos parado no dia anterior e reiniciamos nossa jornada, pouco mais de 2 km das instalações do hotel. 

Após o café da manhã seguimos viagem para o último trecho da nossa empreitada.

Seguindo as setas amarelas do caminho, fomos em direção ao Horto Florestal e, por asfalto, corremos por cerca de 12 km, quando pegamos uma estrada de terra no sentido Pedrinhas. Um pouco mais de 400 metros adiante, iniciamos a maior subida do trecho que, embora um pouco longa, cerca de 5 quilômetros, não foi das mais difíceis.
Eduardo, Sebastião e Samuel
Após passarmos por um bom trecho de terreno plano, iniciarmos uma descida forte de cerca de 20 quilômetros, com muitas pedras soltas, e declives acentuados e com uma parte de asfalto.

Nesse tipo de terreno, mesmo descendo, não consegui desenvolver um bom ritmo. O risco de queda era grande e a musculatura já estava bastante maltratada pelo pancadão dos dias anteriores.

Em nosso planejamento, havia a expectativa de parada estratégica para almoço por volta do quilômetro 32 ou 33. A sorte não nos acompanhou!!! de maneira que continuamos até Pedrinhas, quando já havíamos percorrido a distância de uma maratona (42,2 km).

A opção foi comer pastel de carne com queijo, produzidos na hora por um pequeno quiosque, assim, seria possível completar a jornada do dia.

O fato pitoresco é que havia apenas um coco a venda, o que para nós (Eduardo e Samuel) não era problema algum, pois no mesmo modelo que compartilhamos o caminho, dividimos a refeição.

Pedrinhas fica no pé da Serra da Mantiqueira e do local, pode-se observar a Serra do Mar, por um pequeno capricho as duas formações montanhosas não se encontram; observar esse detalhe me impressionou durante a descida da Serra da Mantiqueira.

Saindo de Pedrinhas, voltamos a correr em estrada de terra, mas não por muito tempo. A partir de então e até a cidade de Aparecida do Norte, o percurso era plano e conseguimos manter um bom ritmo de corrida.
Às 17 horas e 30 minutos, chegamos ao Santuário de Aparecida, um momento literalmente “mágico”, repleto de sensações: prazerosa, gostosa, dever cumprido, de curtir o momento, fazer fotos, visitar a imagem, retirar o certificado de peregrino, que é personalizado e impresso na hora, assistir à missa das 18 horas, enfim: “a verdadeira face do peregrino”.
Ocorre que a Secretaria do Santuário fechava as 18 horas e tudo seria muito rápido (acima do ritmo de corrida).

A sensação indescritível: “Eu consegui realizar o sonho de peregrinar pelo caminho da fé, de maneira diferente, correndo na maior parte do percurso, num total de 305 km, em 5 dias”.

Após a missa decidimos procurar hotel para descansar, tomar um bom banho, jantar, e dormir para, no dia seguinte, viajar de carro para casa.

SEXTO DIA

Saímos de Aparecida por volta das 8 horas da manhã de sexta-feira, 17 de novembro de 2017. Utilizamos a Via Dutra com o objetivo de chegarmos a Rodovia D. Pedro que liga a Via Dutra a Campinas. Com pouco mais de 50 quilômetros percorridos ultrapassamos o nosso amigo Belmiro.

Imediatamente, paramos o carro no acostamento e o esperamos para cumprimentá-lo e fazermos troca de telefones. Ele havia chegado a Aparecida às 14 horas do dia anterior, e havia saído de madrugada com destino a Moji Mirim, onde reside, a cerca 300 quilômetros de distância. O seu objetivo era pedalar 150 quilômetros por dia. Na segunda-feira ele me ligou para me avisar que havia chegado em casa no sábado à noite.

Aqui rendo minhas homenagens e tiro o chapéu ao guerreiro “Belmiro”.

Quando saímos de Aparecida, ligamos para um dos componentes do grupo de ciclistas de Tambaú, o Marcos, e ele nos informou que no dia anterior o grupo havia decidido parar numa localidade próxima à Aparecida, e lá fizeram um churrasco para comemorar o desafio.

Haviam chegado ao Santuário às 8 horas daquela manhã e estavam, naquele momento, assistindo à missa.

Para concluir a resenha, registro um agradecimento especial às pessoas que toparam realizar e concretizar esse desafio. Sem sombra de dúvidas com muita parceira, onde houve sofrimento pelo cansaço, mas houve muita alegria e muito companheirismo em todos os seus momentos. Na contabilidade: “zero de estresse”.

Um forte abraço aos amigos Samuel Toledo, Sebastião dos Santos e ao guerreiro Lucas Toledo que, embora muito jovem, teve muita tranquilidade e paciência para nos acompanhar nessa jornada, pois proporcionar apoio é uma arte muito difícil e, neste quesito ele foi nota dez.

Na mesma linha, não posso deixar de agradecer imensamente minha família que sempre me apoia nessas insanidades de corredor, e aos amigos, pela torcida.


Um forte abraço a todos e nos vemos no caminho!!! 













5 comentários:

  1. Que relato precioso e emocionante! Me senti parte dessa equipe e desses encontros! Uma grande inspiração! Parabéns a todos!

    ResponderExcluir
  2. Grande Dudu,

    O relato ficou incrível e retrata muito bem nossa peregrinação, corrida, diversão e treino, tudo em clima de festa.

    Não vejo a hora de repetir o feito com um grupo ainda maior.

    Aquele abraço,
    Samuel Toledo

    ResponderExcluir
  3. Nobres amigos Eduardo, Samuel, Sebastião e fiel escudeiro Lucas,

    Jornada maravilhosa, relato incrível, com narrativa de detalhes que nos impulsionam a recordar de outras aventuras no Caminho da Fé, em plena Serra da Mantiqueira, desconhecida por muitos brasileiros.

    Parabéns, forte abraço, vida longa e nos vemos no caminho!!!

    Dionisio Silvestre

    ResponderExcluir
  4. Sem dúvida o Relato ficou muito bom e ficou assim por conta da burilada feita pelo mestre Silvestre na sua revisão. Obrigado meu amigo.

    ResponderExcluir
  5. Meu amigo Dudu,

    O relato ficou ótimo, me senti fazendo parte da aventura...as imagens são lindas. Parabéns, abraço!

    Marileusa

    ResponderExcluir

Aos leitores do blog "Correr é Pura Paixão" deixo meu profundo agradecimento. Aguardo seu comentário, uma vez que a participação de vocês é de grande importância para o aprimoramento dos relatos.

Ultra abraço,

Dionisio Silvestre